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Uma rua cheia de sensações

Quando a gente é criança tudo é uma imensidão sem fim, a calçada é grande demais, ou as ruas são bem mais largas e tudo é muito mais mágico. Eu lembro da última rua em que morei na minha cidade natal, mesmo pra uma criança já achava rua bastante estreita, passa somente um carro por vez, e se tivesse algum carro estacionado o desafio era grande, era uma rua que quando chovia tudo inundava, tinha até mãe que deixava a criança nadar na “piscina” que se formava e falando nisso, era uma rua cheia de crianças, de todas as idades com várias particularidades, toda noite saiamos para brincar na rua, de futebol, vôlei, ou somente ficar na calçada contanto histórias de terror, como toda rua cheia de criança, tinham brigas e mães se estranhando para defender seus filhos, mas que sempre acabava com todas as crianças brincando juntas de novo.

O amanhecer dessa rua também era diferente, o Sol brilhava dourado e um calorzinho gostoso de sentir com o vento fresco da manhã, os olhos inchados de sono e a preguiça de ir pra aula eram perceptível em todas as crianças que ficavam esperando o transporte escolar na calçada, mas o brilho do Sol enchia a gente de energia e motivação. As noites de lua cheia não eram diferentes, todas as crianças brincavam de pega-pega com a Lua, dizendo que ela os seguiam pra onde fossem, iluminava tudo, inclusive nossa imaginação com os poderes que ela dava ao lobisomem o com a eterna briga de São Jorge contra o dragão. Falando em noites as 19:00 todas as crianças se reuniam na casa de alguém para assistir os incríveis Cavaleiros do Zodíaco, tudo isso era magia pura.

Um dia fui surpreendido com a notícia de que precisávamos nos mudar de lá, eu lembro de sentar no chão do quarto e olhar tudo a minha volta (sim eu sempre tive um ar dramático, até hoje me pergunto porquê de nunca ter virado ator), fui invadido por uma grande tristeza, e devagarinho comecei a ajudar na mudança, quando estava no carro de mudança as crianças se reuniram pra dar o último adeus, eu estava mudando de cidade e deixando pra trás toda a magia que conhecia, foi doloroso e prometi a mim mesmo voltar lá um dia.

Passado 28 anos, eu nunca esqueci aquelas pessoas e a rua, sempre mantendo o desejo de voltar lá e essa semana caro leitor, tive a oportunidade de estar ali presente, quando cheguei na rua fui invadido por um grande… NADA! Isso mesmo, nada, nadinha, zero a rua era praticamente a mesma rua da qual me lembrava, com as mesmas casas e moradores inclusive, mas não havia o mesmo nascer brilhante do Sol, o vento fresco era somente o vento, as calçadas vazias sem crianças, os moradores, tem posição politica de gosto duvidoso e não costumam mais ser simpáticos, olhei pra rua que antes era tão viva e não conseguia entender como agora tudo era apenas cimento e tijolo, me fazendo perceber que tem lugares e sensações, que seriam melhor se vivessem no passado.

Foto decapa por Parij Photography no Pexels

Uma resposta

  1. De fato, eu também tenho sensações semelhantes ao andar pelos lugares do meu passado. Eles passaram junto com o tempo e não mais me afetam como antes. Isso é crescer, de fato.

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