Uma homenagem à amizade

No último domingo eu participei de uma live do BearCam, a “revista semanal ursina”, onde o tema central da discussão era a amizade (você pode assistir neste link). Então me pus a pensar e meditar sobre o assunto. Sou muito grato às minhas amizades e então me veio a vontade de escrever sobre algumas histórias de amizades que moldaram minha existência.

Já adianto aqui que não tenho a ambição de citar todas as pessoas que são importantes para mim. Seria um tanto difícil e usaria de falsa modéstia se falasse que não sou popular, anos trabalhando com eventos colocou muitas pessoas especiais na minha vida. Não, esta aqui é uma singela homenagem a alguns amigos pelos quais nutro um amor especial há alguns anos.

Pra quem me conhece há muitos anos, conheceu a pessoa tímida e introvertida que eu era. Comecei a me abrir socialmente depois dos 18 anos. Naquela época, eu adorava ver os Calouros do Raul Gil e acabei entrando num Fórum que existia na época que o programa era exibido na tv do bispo. Lá comecei a conhecer muitas pessoas e fazer amizade. Do virtual começamos a fazer encontros em karaokês e, em um desses encontros em um bar chamado Magamalabares, conheci um cara chamado Fábio e, com os encontros se tornando mais frequentes, logo nos tornamos próximos. Lembro uma vez que ele veio me perguntar sobre a minha cirurgia no peito e ele disse que logo iria fazer também. Não demorou muito para as más línguas virem me fofocar: “quando o conheci, ele era ela”, mas devolvi o veneno com um “bem, quando ele estiver preparado, ele me conta”. E assim não demorou muito para ele me contar que estava em processo de transição, e foi assim conheci um pouco do universo trans antes mesmo de cogitar minha homossexualidade. Ele passou por longas barras e estive ao lado o quanto pude. Nós nos reaproximamos este ano e sei o quanto a vida já foi cruel com ele… então sigo fazendo o que posso pra ajudar.

Dentro desse mundo de cantoria éramos uma turma bem grande mas pouca gente continuou na minha vida. E aí tinha uma amiga da amiga da minha melhor amiga: a Gabi. É daquelas histórias bem inusitadas que tinha que ser! Eu lembro até hoje o dia que conheci a Gabi, na casa da amiga dela, foi amor a primeira vista e assim já começou um carinho. Anos se passaram e muita história babadeira aconteceu. Primeiro a amiga dela se tornou abusiva, aí ficamos nós três, então teve o casamento da outra e a gente foi convidado pra ser padrinho mas terminou com término de amizade das duas (eu até tentei relevar o caso, mas desisti quando essa outra amiga cravou 17 na urna). E então fomos ficando cada vez mais próximos que não sei mais como seria minha vida sem ela, que mesmo morando em outro estado se faz presente na minha vida. 

Falando em histórias inusitadas, tenho um grande amigo que começou com um beijo. Estava eu na Bubu no auge dos meus 21 anos e vi um cara gordinho que me interessei. Fui até ele, mas, quando cheguei, ele tinha saído, então tinha um cara magro de cabelo encaracolado num estilo meio black power que era tão lindo que dei um beijo nele, mas não rolou química e seguimos nossa noite. Então algumas horas depois vi o tal gordinho com traços de boliviano que eu estava a fim, o cara de cabelo encaracolados e uma menina asiática na mesma roda. Não pensei duas vezes e fui beijar o cara que pelos quatros anos seguintes seria meu namorado. E foi assim que eu conheci o Cadu, que na época era o melhor amigo do meu ex. Eu posso falar da presença do Cadu em várias histórias tanto boas quanto ruins. Ele foi uma das poucas pessoas que pude contar quando saí da casa dos meus pais e sou eternamente grato por isso. Também foi a pessoa que me acompanhou nos meus primeiros pts (leia-se perca total pro álcool, rs). E é engraçado comparar, mas mesmo nossas vidas seguindo rumos diferentes, sempre tem uma semelhança nas histórias e sempre nos encontramos em algum ponto da vida como se tempo algum tivesse se passado.

Dos amigos que começaram como colega de trabalho, tenho uma que me acompanha até hoje. Conheci a Aline na editora Madras quando a tradutora pediu demissão e ela foi contratada pra assumir o cargo. Eis que chega aquela garota de descendência japonesa com jeito de menina, saia rodada e muito otimismo. Em primeiro lugar, eu tenho uma admiração enorme por essa grande mulher de 1,60 cm de altura. Ela fala fluente, além do português, inglês, espanhol, alemão, francês, japonês e estava estudando tcheco. “Mas Aline, por que você está estudando Tcheco?!” “Ah, sei lá, eu penso que se tiver a oportunidade de traduzir um livro direto do tcheco seria muito mais fiel do que traduzindo de uma tradução em inglês”. Sempre nos procuramos para saber da vida do outro e estamos devendo um café qualquer hora dessas.

Quando conheci o mundo ursino, eu publiquei um blog chamado “Mundo de Urso”. Minha ideia era pesquisar sobre cultura ursina e publicar pra que todos ficassem sabendo daquele mundo incrível que estava mudando a forma de eu pensar sobre mim mesmo. Foi então que convidei um urso que estava começando um certo site chamado BearNerd, o ByM. Logo ficamos amigos e essa amizade perdura até hoje. Acho o ByM uma das pessoas mais talentosas que conheço, as ilustrações deles são impecáveis e ele é um cara extremamente inteligente. Meu parceiro de lutas, sempre topa minhas ideias loucas, e foi graças a isso que hoje temos o site que você está lendo, pois foi ele quem programou o novo site. Valeu, ByM! 

Uma das histórias que contei na live foi de um cara que conheci no Growlr (um app de pegação) e que se tornou um dos meus melhores amigos da vida, o Fernando Oi. É ele que topa fazer todas as loucuras que quero fazer no meu cabelo, costumo dizer que ele consegue chegar no meu tom natural do meu cabelo, que é ruivo, mas que sempre insiste nascer castanho, risos. Mas quem pensa que nossa amizade está só salão, não sabe de nada. Sempre que podemos nos vemos ou conversamos para saber da vida um do outro. E, sem dúvidas, posso dizer com todas as palavras: ele é uma das pessoas que mais amo nessa vida!

Dos amigos de faculdade tenho dois que sempre quando posso mando um “oi sumido” e sempre vejo que amizade tá ali, intacta: o Viny, que conheci quando estudada na Escola Panamericana de Arte, e a Andresa, que conheci quando estudava no diabo laranja, digo, Anhanguera, risos. Amigos de faculdade sempre seguem seus próprios rumos na vida… as vezes tão distante que não encaixa. Mas quando há carinho um café e um ‘oi, como vc tá?” é sempre bem-vindo.

Bom, aí veio o trabalho no bar e no começo quase não tinha clientes, então alguns amigos que costumavam frequentar a Vieira de Carvalho começaram a ir. Primeiro veio o Takemitsu, que no dia seguinte trouxe o Simão e o Rafah Onaga, então o Enio que já frequentava as festas se aproximou e surgiram o Nickolas e o Fernando não sei de onde, haha. Logo em seguida o Ubeda já estava trabalhando na porta e então o Marcelo apareceu. Tínhamos nossa roda. Edgar, Thiaguinho, Kiyuna, Del Poço, Ivan, Juliano. Eles me fortaleciam! Cada vez que precisava respirar do trabalho estressante eu tinha um abraço do goxtoso do Simão ou carinho de irmãozinho do Take. Sem dizer que eles despertaram em mim uma antiga paixão e não demorou muito pra começarmos a noite do karaokê! Era a minha noite! A minha festa! Eu me realizava ali. Todo estresse que eu passava no trabalho sumiam naquelas horas, eu me sentia abraçado!

O Takemitsu também me deu uma grande prova de amizade este ano, se dispondo a me acompanhar a um hospital quando tive um surto de ansiedade devido ao grande estresse. Ele ficou lá comigo na sala de espera de mão dadas por umas cinco horas. Não tem como esquecer e não ser grato!

No bar também fiz amizade com muitas outras pessoas especiais: como a Nick Aleixo, que me chama de crush da vida e tem um dos melhores abraços que conheço. O Marcos que sempre rendia os melhores papos na hora de fumar. O meu xará Danilo, que apareceu numa festa aleatória vestido de vampiro e sempre sentava pra conversar comigo, e o Diego Davanso que, toda louca daquele jeito, fez eu me apaixonar por sua intensidade! E quando as coisas iam pro lado da polêmica na internet, não posso esquecer uma das pessoas que sempre me defendeu e sempre me incentivou, o Rodrigo Marttie, que vira e mexe arrumava briga pra me defender! Risos. Também sempre pude contar com o Dom Papai e o Dom Ruivo, desde o começo eles estavam lá pra dar suporte! E os fofos do Márcio e o Donizeti que tiraram minhas melhores fotos da vida.

Já em 2020, que foi um ano que muita coisa aconteceu, conheci três pessoas ao acaso, como se o universo tivesse feito um plano pra nos unir, e que já se tornaram parte da minha família de amigos. O Péricles, o Marcelo e o Anderson eram para ser apenas meus vizinhos, mas eles me adotaram como amigo e me ajudaram a passar por uma das piores fases da minha vida. Não tem como mensurar a gratidão que tenho a eles e como o meu ano teria sido infinitamente pior se a vida não tivesse os colocado no meu caminho. E junto com eles, veio toda a família do Pró-Diversidade que está crescendo. Johnny, Daniela, Paulo André, Luciana, Paola, Alex, Sérgio, Leandro são alguns nomes que me vem à cabeça de algumas pessoas que estou conhecendo cada vez mais e me apaixonando a cada dia.

E agora sigo trilhando meus caminhos guardando no coração a pessoas queridas. Estar morando em uma nova cidade me traz esperanças e assim já vou construindo novas relações (um abraço pro Diego, Diego, Diogo e Greg ?), estando aberto para conhecer e fazer amizade com outras pessoas incríveis.

Por Dan Barroso
para a coluna C’est La Vie!

Foto de Helena Lopes no Pexels