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Uma celebração da amizade feminina

imagem do filme Somente Elas

O ano de 1995 trouxe muitas novidades para as nossas vidas.  No contexto geral a internet chegou ao Brasil e Bill Gates lançava o Windows 95 (óbvio), Fernando Henrique Cardoso assumia a presidência do nosso país e a Malhação fazia a sua estreia na TV brasileira. Eu, no meu mundinho, enfrentava uma gastrite erosiva e procurava por emprego enquanto aguardava a dispensa do exército (meu maior medo da época). Mas o mundo já passava por outros transformações e algo já estava para acontecer no universo feminino. As Spice Girls já estavam se preparando para o seu “ataque mundial” de empoderamento feminino em 1996, mas o cinema nos trouxe um filme pré-Girl Power: “Somente Elas” (Boys on The Side).

Resolvi não manter o texto da forma costumeira, optando então por dividí-lo em três partes: enredo, elenco e trilha sonora. Penso que dessa maneira você, meu caro leitor, possa entender a grandeza dessa obra que está disponível (ou estava) no catálogo da Netflix e que muitas pessoas apenas zapearam sobre ele e acabaram não dando a devida importância. 

Parte 1 – O Enredo:

“Somente Elas” ou traduzindo de maneira inspirada o título original para “os meninos deixados de lado” é uma alegoria a amizade feminina. Exemplo mais que perfeito de sororidade. São três mulheres que estão alí se conhecendo, se respeitando, amando umas as outras e lutando pela sua recém-formada irmandade.

Digo recém-formada porque iniciamos o filme conhecendo Jane Deluca (Whoopi Goldberg), uma cantora da noite desempregada que enfrenta o fim do relacionamento com a namorada e que decide responder a um anúncio de jornal que buscava uma companhia para cruzar de carro o país. O anúncio vinha de Robin Nickerson (Mary-Louise Parker), que por sua vez encarava um grave problema de saúde, motivo esse da necessidade da companhia de alguém para a viagem. No caminho Jane recebe uma ligação de sua amiga Holly Pulchik (Drew Barrymore) que está passando por sérios problemas domésticos com o atual namorado Alex (James Remar). Juntas e com comportamentos totalmente distintos, o que ocasionará durante a viagem toda uma série de conflitos, as três veem surgir fortes laços. Como sempre digo, se falar mais sobre o enredo acabo estragando diversas gratas surpresas. 

Parte 2 – O Elenco:

Quem era adolescente nos anos 90 estava sempre acostumado às carinhas das três atrizes principais do filme.

Whoopi Goldberg é um vulcão em erupção e dizer que ela é Multitalentosa seria no mínimo a melhor referência a fazer sobre a sua pessoa. Whoopi consegue mostrar através do seu olhar todos os problemas enfrentados por sua personagem, que representa uma mulher negra lésbica que passa por situações de homofobia, preconceito racial e o julgamento das pessoas. Mesmo assim ela persiste com a sua busca pelo amor e o sucesso. A personagem é a forma pura da persistência, o não se abater pelos golpes da vida. Não espere aqui a sua atuação cômica costumeira. Whoopi está séria e contida. 

Mary-Louise Parker ficou bastante conhecida por ser a protagonista da série de TV Weeds anos depois, mas antes de Somente Elas, a atriz já havia dado as caras no grande sucesso Tomates Verdes Fritos. Mary traz uma docilidade para a personagem que busca algo que ficou no passado. Ela procura momentos já vividos com a família para conter a tristeza que toma conta do seu peito ao lidar com uma doença, que para a época, havia poucos recursos de tratamento. Tudo o que ela quer é se sentir viva o máximo possível. É a pessoa centrada nos momentos difíceis. 

Drew Barrymore cresceu aos nossos olhos nas telas do cinema. Já não era mais a menininha que perguntava se o E.T. era menino ou menina. Agora era uma mulher que nos presenteou com clássicos da década de noventa como “Pânico”, “Nunca Fui Beijada” e “Para Sempre Cinderela.” Não sei porque, mas tenho sempre a impressão de que ela apenas representava a si mesma nos seus personagens. Holly é a representação da pessoa que tem o dedo podre para relacionamentos, mas que também é uma tempestade de final de tarde de verão. Quando chega, pode se preparar que haverá algum estrago. Ela é imprevisível, divertida e impulsiva, mas representa aquele tipo de pessoa que gostaríamos de ter por perto, nem que seja para aconselhá-la a não cometer outra besteira. Drew é perfeita para o papel e ponto final. 

Parte 3 – A Trilha Sonora:

Somente Elas foi pensando para ser uma comemoração ao universo feminino e muito disso se reflete em sua trilha sonora que conta apenas com faixas de cantoras de sucesso da época. É aquela trilha que fica na sua cabeça após os créditos subirem ao final do filme. Impossível não querer tê-la em sua coleção. Segue a lista das canções:

1 You Got It – Bonnie Raitt
2 I Take You with Me – Melissa Etheridge
3 Keep on Growing – Sheryl Crow
4 Power of Two – Indigo Girls
5 Somebody Stand by Me – Stevie Nicks
6 Everyday Is Like Sunday – Pretenders
7 Dreams – the Cranberries
8 Why – Annie Lennox
9 Ol’ 55 – Sarah McLachlan
10 Willow – Joan Armatrading
11 Crossroads – Jonell Mosser
12 You Got It – Whoopi Goldberg
13 You Got It – Bonnie Raitt

Teria como dar errado uma trilha sonora com Pretenders, Annie Lennox e The Cranberries? Simplesmente perfeita para aquela longa viagem de carro! 

“Somente Elas” me marcou na época em que o assisti e ainda hoje continua sendo um dos meus road movies femininos favoritos. Muito difícil um filme acertar nas três partes em que mencionei no texto, mas ele cumpre muito bem com todas elas. Seguimos uma viagem com dramas, alegrias, risos soltos e lágrimas. Temos na tela mulheres comuns representando a realidade de qualquer outra mulher. Não é difícil querer “pegar carona” com elas em suas jornadas pessoais ou simplesmente se sentir confortável o suficiente para estender a mão em auxílio. Precisamos apenas nos lembrar de que essas mulheres não existem apenas em uma obra de ficção, mas que elas estão ao nosso redor, batalhando todos os dias pela sua liberdade, direitos e acima de tudo respeito. 

Ah, não se esqueça de uma caixa de lenços por perto…

Ficha Técnica:

Somente Elas (Boys on The Side)

Diretor: Herbert Ross
Elenco: Whoopi Goldberg, Mary-Louise Parker, Drew Barrrymore,
País de origem: EUA
Ano de lançamento: 1995
Duração: 115 min
Lançamento no Brasil: Warner

Fotos

Trailer:

Por Alexandre Stábile
para a coluna Meu Mundo na Tela.

3 respostas

  1. Rapaz, esse filme foi lançado em uma época em que eu estava DESESPERADO por modelos gays de representação. Perdi a conta de quantas vezes assisti em VHS, alugava semanas seguidas e me emocionava com as cenas mais fortes.
    Parabéns por mais uma ótima coluna, Alê! Fico no aguardo das próximas análises do amigo!
    Beijão,
    J.

  2. Como é gostoso ler um comentário sensível a respeito de um filme que, aos meus olhos, também é sensivel. Incrível mergulhar em suas palavras e sentir a estória fluir no pensamento. Perfeito!!!

  3. Comentários repletos de leveza e que nos instiga a refletir sobre o árduo universo feminino. Um filme que questiona o nosso interior, alma e coração, nos despedaça e nos reintegra na formação do nosso mais oculto eu…
    Celebração à vida…Brindemos.
    Obrigada Alê!!!

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