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Um desafio chamado 2020

Não há duvidas que 2020 tem sido um desafio para todo mundo e para todo o mundo. Então, no meio de toda correria, eu vinha procurando um motivo para escrever. E assim chegou um e-mail para mim com um texto para publicar que o título era exatamente Um Motivo para Escrever, de Luciana Andrade, um desabafo de como este ano não tem sido tão acolhedor. E assim me veio a inspiração.

Para mim, desabafar e me abrir não é algo que faço com facilidade e, por isso, acabo sendo como uma bomba relógio, acumulo várias emoções para dar uma grande e dramática explosão. Só que dessa vez eu não explodi e assim eu adoeci em meus próprios sentimentos. Foram muitas coisas que me acontecerem neste ano e tudo com um tempero de um milhão de mortes por todo o mundo.

Pois bem, em 2020 eu reencontrei dois velhos amigos, que não eram tão bem vindos assim, a depressão e a ansiedade. Eu travei. Não conseguia trabalhar, não conseguia relaxar e não conseguia dormir. Acho que após trabalhar alguns meses sem folga e sem descanso, em um ambiente que se tornou agressivo nos últimos meses de 2019, abriram feridas que ainda estou tentando curar. Tentando, num gerundismo de quem tem vivido um dia por vez.

Os dois primeiros meses de 2020 foram os mais difíceis, a soma um estresse pós-traumático e Síndrome de Burnout somou-se à chegada do Covid-19 no Brasil. Aí foi uma avalanche, desisti de um projeto que já me dedicava há quatro anos, mudei de casa e fui morar com um amigo. Depois, me desentendi com esse amigo e tive que me virar e encontrar um local novo para morar. Durante esse processo eu conheci o Pró-Diversidade, onde a sede ficava no apartamento vizinho do meu ex-amigo e, em meio aos meus pensamentos mais autodestrutivos, comecei a trabalhar na ONG para ocupar a mente. Foi assim que me descobri no trabalho social, que tem me feito muito bem. Morei um tempo com eles até finalmente voltar para casa dos meus pais, em Guarulhos.

Com tudo isso, precisava de um trabalho pois o auxílio de U$1000,00 R$600,00 não dava pra nada. Fiquei quatro anos fora da minha área em design e nem sabia por onde começar, sem dizer que com a pandemia e a quarentena as vagas haviam sumido. Ainda assim consegui participar de dois processos seletivos e foi aí que tive o auge do meu pesadelo. Eu não conseguia mais trabalhar. Toda vez que parava na frente do computador sentia uma grande agonia e muita ansiedade. Eu me desesperei. Sempre fui independente, sempre gostei de trabalhar e tudo que sempre fiz, fiz com paixão. Na minha mente vinham as dúvidas: “Será que depois de tudo que passei eu tinha ficado com defeito?”

Então no meio desse pandemônio, consegui um cliente na área de Design. E aí o desafio veio junto. O próprio teste foi complicado de concluir e quase que não consigo entregar. Tive que desafiar todos meus sentidos e fazer aquilo com o coração querendo sair pela boca. A dor chegava a ser física e o ar me faltava.

Felizmente fui aprovado mas ainda assim a cada projeto que eu entregava eu executava com grande esforço. Então procurei ajuda profissional. A primeiro momento conversei com o querido Sérgio Lourenço que tem a coluna Queer-se aqui no site. Desde o começo do ano tenho tratado da depressão com acompanhamento, mas o Sérgio havia me explicado que para algumas questões o remédio se torna apenas um torpor e a terapia era necessária. Então o Péricles me conseguiu pela ONG o serviço gratuito e assim comecei a fazer terapia e, a propósito, meu psicólogo é ótimo! (Obrigado pela força, Michel.)

Então, a partir daí que tomei uma grande decisão em minha vida: mudar da cidade grande para o litoral. Para quem me pergunta o porquê de eu ter feito isso, a resposta é bem simples: eu passei anos agindo e fazendo coisas que outras pessoas esperavam de mim e, por isso, dessa vez queria fazer algo para mim, algo que eu sonhava e planejava há anos: morar perto do mar.

Ainda não tem sido tão fácil, mas sinto aqui dentro que as coisas estão melhorando. Estou dormindo melhor e já estou conseguindo focar no trabalho. Quando minhas crises aparecem, vou até a praia e contemplo a imensidão do mar. Molhos meus pés e me acalmo. Então volto pra minha vida com um sorriso no rosto e areia nos pés. Tem sido uma grande experiência, mas aí já é tema para textos futuros.

Então por hoje eu fico por aqui, mas deixo antes uma música que tem feito a trilha sonora do meu ano: I Don’t Think About You, da Kelly Clarkson (ouça no Spotify). A música é o segundo single do oitavo álbum da cantora, Meaning of Life e o clipe mostra várias fases da vida da cantora. Abaixo tem uma citação da Kelly Clarkson sobre o significado música:

“I Don’t Think About You é sobre o momento em que percebe que algo não tem mais poder sobre você. Todos nós temos pessoas e/ou situações na vida que nos moldam e às vezes essas situações podem sentir que estão prestes a nos quebrar, mas essa música é sobre aquela manhã, que você acorda e nem pensa nisso. Não possui poder, nem peso em seu mundo, e não consome seus pensamentos. É uma música sobre liberdade, honestamente.”

Veja a postagem original. Tradução por Nação da Música.

Por Dan Barroso
para a coluna C’est La Vie!

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