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Tempo para quem?

Maio foi um mês difícil, o principal motivo é que seus feriados não funcionaram, nesse ano. O primeiro de maio caiu logo num domingo. O dia dois foi uma bruta de uma segunda-feira e o mês terminará numa plena terça-feira, dia mais que útil, por ser o dia da consolidação da rotina semanal.

Trabalho, trabalho e mais trabalho. Os dias até que têm passado rápido, mas a noite é curta para o descanso, o corpo pede mais meia, uma hora de cama depois que o relógio desperta e tudo o que queremos é que algo extraordinário aconteça para que possamos retornar mais cedo ao lar. Muitas vezes, nesse estado, já acordei olhando as mensagens de texto querendo saber se, de fato, as aulas haveriam de acontecer naquele dia. O que mais me faz rir de mim mesmo, numa situação dessas, é o fato de que, em dezoito anos de carreira como professor, eu jamais recebi uma mensagem dessas sequer. Em momento algum.

Quando o trabalho, por algum motivo é suspenso, não há exatamente esse protocolo. Aulas podem ser suspensas em momentos de emergência. O mais comum deles é a falta de água no bairro, severa. Uma manhã de calor é o suficiente para vermos adolescentes inquietos, com sede ou incomodados de usar banheiros sem descarga. Mas fora desse contexto de súbita e insólita incerteza, geralmente o dia começa e termina mais ou menos do mesmo jeito, todo santo dia.

Eu tive uma colega que se espiritualizou para fugir dessa angústia, dessa constatação de que o tempo é cíclico. O tempo do trabalho é a própria Roda da Fortuna, a sair de seu lugar em direção a um funesto futuro. Ao mesmo tempo que em os anos passam, o ciclo dos dias se fecha a cada vinte e quatro horas. Depois a cada semana. Depois a cada mês. Depois a cada ano, década, sei lá… O tempo passa, mas passa girando, passando por cima.

A carta do Tarô, A Roda da Fortuna, indica o cumprimento do destino: tudo ao seu tempo. Toda causa tem um efeito. O que agora está por cima, depois estará por baixo. Se usamos bem nosso tempo, o destino e as consequências serão benéficas para nós, no fim da nossa vida.

Esse é o nosso caso. Essa é a nossa sina. O tempo é inexorável.

Talvez por isso é urgente que tenhamos felicidade. Por isso que precisamos amar mais, viver mais, desviar parte desse ciclo temporário para nós mesmos e para as pessoas que amamos. O tempo não para. E nós também não. O tempo que nos empurra ladeira da vida abaixo é o mesmo que nos dá brechas para organizarmos nossa vida em torno dos prazeres que temos. E se eles são poucos, isso é um alerta para si e para os outros de que algo não vai bem com a nossa existência no mundo.

Existir, pelo menos para mim, sempre foi resistir. Hoje, se eu passo minutos rindo de vídeos ao celular, eu me agradeço por isso. Enquanto muitos ao meu redor condenam as pessoas que se “isolam” em novas práticas de sociabilidade que envolvem o uso de celulares, outros dispositivos e redes, eu já penso diferente. Se a pessoa está tendo prazer, se isso, de alguma forma está sendo benéfico, nesse ponto, pelo menos, não vejo por que reprimir.

Nossas culturas, ocidentais ou de periferia, sempre são marcadas por uma economia injusta do prazer. Sente mais quem tem mais. E prazer é algo que sempre está à mão, ao alcance e nós, com nossa gestão esquizoide do tempo, o colocamos sempre longe demais. Precisamos tomar tempo do tempo, olhar mais para nós mesmo, despertar para nossas próprias necessidades e vontades.

Talvez seja o momento, não sei que idade tem, leitor, não sei por que passa na sua vida, mas talvez, independente disso, você precise de mais tempo para si, de se desgastar menos numa realidade do uso do corpo para o trabalho, mesmo que remunerado.

Nenhum dinheiro pelo trabalho faz retornar o tempo que gastamos com o trabalho. Então, não há compensação, não há recompensa, não há senão o pagamento injusto por um tempo perdido.

Resgate algo desse tempo para você.

Priorize-se.

Por Alex Mendes

para sua coluna O Poder Que Queremos

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