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Tauromaquia Da Palavra – Dois poemas de Sevilha

I

fiz registros de Salamanca.
fotografias analógicas.
depois digitais.
fiz registros de Salamanca.
marcas de gordura de uma ementa de jantar.
passos apagados após a chuva.
respiração suspirante, ofegante e faltosa.
fiz registros de Salamanca.
catedral, universidade, livrarias.
ruínas romanas do local.
fiz registros de Salamanca.
trouxe apenas
uma paixão de caráter e condição
terminais.
sobretudo, hospedagem estudantil.
coração de estudante,
como diria o vate dos Gerais.

II

quando estive em Sevilha
João Cabral já tinha ido embora.
quando estive em Sevilha
me despedia de um amor de outrora
aurora da minha vida,
infância, idade universitária.
quando estive em Sevilha era inverno.
as laranjas de rua eram duras, secas,
amargas, empedradas.
quando estive em Sevilha
os livreiros alfarrabistas, as confeitarias,
os livros e os confeitos
adoçaram meus sentidos,
olhos, mãos e boca.
quando estive em Sevilha chegava de Madrid
de trem Ave.
em Sevilha não vi o Nordeste Brasileiro.
em Sevilha eu vi Quixote, eu vi Cervantes.
em Sevilha, pela janela do comboio,
vi o Cerrado,
histórias exemplares.
moralidades.

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