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Super Mãe: Entrevista

Daniele Barbieri Coppi

Conheço a Dona Jandira há 13 anos. Ela é bisavó dos meus filhos. Tem uma filha homossexual. Meus amigos, amigos da filha e qualquer um sempre foi bem tratado. Ela só não admite falta de caráter. Eu a entrevistei porque ela viveu em diversas épocas. Acompanhou muitas diferenças culturais e econômicas e não tem preconceito.

O interessante  é que a Dona Jandira é exceção. Aprendeu com o tempo. Percebeu que não adianta bater de frente. Seus filhos tiveram uma criação rigida, mesmo na extrema pobreza. Depois que seu marido foi embora em 1975 aproximadamente criou os filhos sozinha.

Imaginem o que ela sofreu? Comeu o pão que o Diabo amassou mas prosperou. Ela é uma inspiração para mim. Quando para várias mulheres esse foi o motivo para morrer ou sofrer de depressão, ela não se deixou abater mesmo com as dificuldades.

No mês de maio eu não poderia deixar de homenagear as mães, as que obviamente se dedicam e chegam a se escravizar por um salário mediocre para cuidar dos filhos e ensinar o que é certo. A grande maioria de nós não aceita o errado e não ensina isso. Só quem é mãe que sabe a grandeza do amor.

Um dia disse para uma amiga que estava grávida:  – Quando você olhar nos olhos dele (o filho) você sentirá um amor tão grande mas tão grande que não se compara ao que você já sentiu na vida. E isso acontece com todos os filhos gerados ou adotivos.

E vem daí a idéia de que na hora da adoção você sentiu que escolheu e ou foi escolhida. Por isso algumas mães abdicam do lado feminino e só cuidam do lado materno. E depois de uns dias que ele nasceu, recebi uma mensagem da seguinte forma: Realmente Dani, nunca amei ninguem como o amo! É algo surreal!

Como vocês sabem não existe manual para ser mãe. Mas é algo com grau de dificuldade Hard. Nunca me detalharam tudo o que precisaria fazer e se eu fosse detalhar escreveria boletim todo e ainda faltaria espaço. Portanto valorizem sua mãe, por pior que ela seja. Mesmo com lembranças ruins porque algo de bom você aprendeu com ela. E tem chances de melhorar como ser humano.

Um imenso beijo,  espero que gostem das entrevistas, pois me empolguei e entrevistei o outro lado da moeda, uma amiga minha que é lésbica e fala sobre sua realidade e relacionamento com a família.

Dona Jandira, 86 anos, dona de casa

Super Mãe e Dona Jandira
foto Anesa Silvério

Total de 10 filhos, dois morreram ao nascer, 1 com um ano e 2 depois de adultos, ficaram vivos 5.

Qual foi a pior coisa que a senhora viveu como mãe? Fui muito feliz como mãe. Quando meus filhos morreram foi uma dor muito grande. Sinto um vazio…..

A senhora mudaria algo na sua forma de criar os filhos? Não.

Para a senhora foi dificil lidar com diferentes gênios? Eles sempre foram fáceis de lidar. Os 7 sempre respeitaram a todos. Bastava um olhar.

O que a senhora acha de uma mãe que reprimi a sexualidade do seu filho, querendo que antes ele fosse um drogado do que um homossexual?  Ela não sentiu amor quando o teve? Qual a diferença entre um filho heterossexual ou homossexual. Dependencia é doença e sexualidade não. (Ela diz que esse sentimento ela não carrega.)

Se a senhora pudesse dar uma dica para a criação dos filhos qual seria? Deixa eu pensar….Cada um cria da forma que quer. Não devemos mudar ninguém. Se até gêmeos que nascem fisicamente parecidos tem gênios diferentes. Imagina o pesar da diferença cultural. Basta o amor e o ceder para uma mãe.

O outro lado da Moeda

Raissa* 23 anos namora há dois anos e quatro meses com uma menina.

Quando você descobriu a sua homossexualidade? Quando eu me senti atraída por meninas, com 12/13 anos, na verdade eu fiquei balançada porque também me sentia atraída por meninos.

E o que fez você assumir? Quando eu comecei gostar de verdade de uma menina. Isso com 14 anos.

E a sua família? Ninguém aceitou. Com 14 anos foi muito difícil. Eles (pai e mãe) tinham vergonha dos outros. Meu pai aceitou antes, minha mãe na verdade respeita hoje, mas não aceita. As duas namoradas que tive (namorei a primeira durante seis anos) e eles sempre as respeitaram. Uma coisa que me marcou foi a minha mãe dizer que preferiria uma filha drogada. Até a minha avó que nunca foi presente me bateu. Eu não admiti. Revidei. Agi errado mas ela nunca me deu carinho e nem coisas materiais então não achei certo me reprimir.

Você sofreu preconceito no trabalho? Não porque sou feminina e não costumo comentar com quem namoro.

Se você pudesse falar algo para as mães que não aceitam o que você diria? Não importa quem a pessoa gosta e sim o que faz seu filho(a) feliz.

*Trocamos o nome a pedido da entrevistada, pois ela citou sobre a violência e diz ter medo da foto divulgada. 

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