A animação espanhola “Escolhas da Vida” (Alike) apresenta a vida ocupada de um pai e um filho. O pai, esgotado por um trabalho monótono e cansativo, se encontra totalmente estafado; o filho, alegre e cheio de energia, vive intensamente e transmite essa positividade para o pai.
Com roteiro e direção de Daniel Martínez Lara e Rafa Cano Méndez, o filme nos traz a reflexão acerca de como levamos nossa vida, no nosso cotidiano e como o excesso de trabalho nos influencia. Na obra, nos é mostrado a relação pai-filho-sociedade que, por um lado adoece (pai), nos transformando em apenas mais uma pequena engrenagem numa grande estrutura. Por outro, apresenta uma forma de levar a vida de forma mais leve e alegre (filho).
Aqui cabe a crítica de como o sistema capitalista suga as energias do trabalhador, a ponto dele perder a sua própria essência; o que em “Escolhas da Vida”, é recuperado pelo pai no convívio com o filho que. No início o filho ainda enxerga e se enche do colorido da vida devido à sua inocência em relação ao funcionamento das relações sociais e de trabalho, porém, começa a trilhar o mesmo caminho seguido pelo pai, quando passa a se sentir sufocado pelo sistema.
A fotografia pesada da cidade e das pessoas, com cores frias e escuras, nos dá a sensação de que aquilo tudo faz parte da sociedade e é assim porque tem que ser e pronto. Há apenas um único lugar, muito simples e perdido no meio da cidade, onde há vida e cor. Ninguém percebe, além do filho.
Segundo comentário da usuária do Filmow, Jullya Agabel, “Escolhas da Vida”, “ilustra superficialmente uma das teorias crítico-reprodutivistas da escola como aparelho reprodutor ideológico e sua função social em reproduzir mão-de-obra”. Ou seja, o Modo de Produção Capitalista tem como uma de suas características a reprodução de detentores de mão-de-obra para o suprimento como parte do capital variável investido pelo capitalista; o filho deve aprender na escola como se preparar para assumir o lugar do pai futuramente. Toda a organização do local de trabalho do pai, com tudo exatamente no seu lugar e todos trabalhando sincronicamente alinhados é a comprovação de que os trabalhadores foram preparados para aquilo. Com cores frias e curvados, na rua, indo ou vindo, outros personagens estão sempre cansados e estafados.
Num país onde os direitos trabalhistas foram precarizados principalmente nos últimos anos, “Escolhas da Vida” me relembrou uma reportagem do portal BBC, onde um casal de Guaianases, periferia de São Paulo, trabalha como motorista de aplicativo. O marido trabalha das 18 horas até as 6 do dia posterior, chegando em casa e passando o veículo para a esposa, que trabalha das 6 da manhã as 18 (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50383388).
Assim como os personagens do filme, muito provavelmente esse casal tem pouquíssimo tempo para o lazer, pois despendem muito de seu tempo para o trabalho.
O filme alerta para a necessidade do lazer, do descanso e de uma melhoria na qualidade de vida e num melhor estado da saúde mental. O filho mostra o caminho: uma mudança na forma das relações de trabalho, o que infelizmente no Brasil ficou cada vez mais distante, ainda mais depois das últimas reformas trabalhistas e do processo de “Uberização” da classe trabalhadora.
FICHA TÉCNICA
Escolhas da Vida
Gênero: Animação, Drama
Ano: 2015
País: Espanha
Direção: Daniel Martínez Lara, Rafa Cano Méndez
Roteiro: Daniel Martínez Lara, Rafa Cano Méndez
Duração: 8 minutos
