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Poder Pró-Diversidade: sim, nós podemos…

O filósofo francês Gilles Deleuze e o psiquiatra e também filósofo Felix Guattari, duas importantes e influentes mentes do século passado, falando a respeito do poder em sociedade, enunciaram que a vida social sempre possui possibilidades de fuga, de escape do poder e da normalidade. essa ideia visava criticar importantes formas europeias de pensamento, contemporâneas aos colegas, que trabalharam juntos para o progresso das ciências humanas na França.

Felix Guattari e Gilles Deleuze. Imagem em Domínio Público.

Para pensadores, como o alemão Marx, o austríaco Freud ou mesmo o francês Foucault, o poder se impunha de maneiras diferentes, reprimindo, comprimindo, propagando-se e encontrando resistência. Para Foucault, no entanto, a resistência era uma forma inerente ao poder. Onde há poder, há resistência, ou seja, um não existe sem ou outro. Dessa forma, escapar aos poderes é quase impossível, porque a resistência, uma hora há de levar os sujeitos a entrarem novamente no seio do poder, e quem sabe de uma maneira diferente da primeira vez, antes de resistirem.

Como prova do que dizia, Foucault mostrava a demanda das minorias, contra o poder vigente, nas sociedades capitalistas. No fundo isso acabava criando um estado de reconhecimento, cidadania e normalização das minorias. Elas passariam a compor a maioria, porque conseguiram igualdade ou equanimidade. E com isso, deixam de ser um foco de resistência e passam a aceitar melhor o poder. No entanto, isso não acontece de graça, o poder tem de se modificar para aceitar a minoria: o poder médico normalizante, o poder institucional das leis, regras e normas da sociedade, o poder que indivíduos exercem sobre os outros muda. Foucault cria uma ideia de poder criativo, capilarizado, que se enreda meticulosamente no tecido social, produzindo seus efeitos, contornando as resistências, ao mesmo tempo em que as resistências o contornam.

A ideia de Foucault não se anula, mas se aprimora quando Deleuze e Guattari enunciam que a vivência em socieade, de fato, vai além do poder. Porque a o poder, de um modo geral, não alcança a todos de modo igual. Isso vale para todo tipo de poder que se exerça, quer seja de maneira instituicional e organizada, quer seja de maneira mínima, delicada. Deleuze mostra os limites desse poder infinito de Foucault. Não existe extamente um poder, por mais disseminado que seja, que consiga abarcar toda e qualquer atividade humana em todos os seus segmentos e possibilidades.

Michel Foucault. Imagem em Domínioi Público.

Boa parte da existência humana consiste em lidar com esses limites e escapes ao poder. E vemos na existência das pessoas LGBTQIA+ um desses limites. Vamos exemplificar de maneira clara. Pelo que eu tenho aprendido aqui, no Instituto Pró-Diversidade, principalmente ao assistir os episódios do Programa Vida Athiva, é que a pessoa com HIV/Aids, historicamente, ao longo dos mais de quarenta anos de luta contra a doença, seus problemas e estigmas, sofreu diferentes formas de exclusão graves e radicais. Essas exclusões, por exemplo, fez com que pessoas com HIV/Aids não fossem, de propósito, ajudadas pelos poderes estatais e suas instituições.

De fato, como consequência desse escape “ao contrário” dos poderes governantes, milhões pelo mundo morreram à míngua, foram internados em casas de saúde para morrer, abandonados nas ruas em lugares que mesmo o mais capilar e microscópico dos poderes não alcança: a invisibilidade social, a relevância para o mundo como cidadão, advinda por uma condição de saúde grave e limitante. No entanto, a melhoria das condições de saúde dessas pessoas faz com que elas escapem desse espaço de nulidade, onde os poderes não alcançam.

Infelizmente, Deleuze e Guattari estavam certos. O poder dá muitas possibilidades de escape, não somente de embate, resistência, mas de ficar longe dele. Importante é saber que, no caso de pessoas trans, travestis, gays expulsos de casa por seus familiares, pessoas em situação de rua, esse escape não é uma opção, mas a colocação num vácuo da não-cidadania, da não-opção pela resistência. É o vácuo da morte social, do apagamento, da invisibilização. Para evitar isso, nem sempre precisamos esperar que os poderes reconheçam seus erros e limites.

Por isso precisamos cada vez mais valorizar iniciativas como a do Instituto Pró-Diversidade, que busca resgatar quem realmente precisa desse nicho da não-cidadania.

Enquanto a resistência aos poderes (necessária, claro) quer amaciar as leis e regras sociais para ser mais fácil viver no mundo como lésbica, gay, por exemplo, é necessário tirar do vácuo da não-cidadania as pessoas trans, as pessoas em situação de rua, as pessoas com HIV/Aids que ainda não receberam tratamento adequado. São tarefas diferentes, que podem, no entanto, serem realizadas em conjunto, por um grupo variado de pessoas, desde que todos compreendam essa necessidade e como cada luta deve ser articulada. No Instiuto Pró-Diversidade há muito a ser feito em cada uma dessas frentes. Conheça. Leia nossos artigos. Assista ao nosso Programa Vida Athiva. Contribua!

Por Alex Mendes

para sua coluna O Poder Que Queremos

 

4 respostas

  1. Meu amigo. Vc foi titânico, bafonico e divino nas palavras explícitas acerca do poder e da anulação do poder. Amo. Luxo. Beijos

  2. Alex, obrigado por fazer parte do Instituto Pró-diversidade!!! Seus textos são uma inspiração para todos nós!!!

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