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Perfeito para o Papel! (entrevista)

Cena da novela Um Lugar ao Sol com Leandro Ferraz e Ana Beatriz Nogueira

Boas vindas, meus amores!

Hoje pra quem é noveleiro como eu tem reprise do episódio final da novela “Um Lugar ao Sol“. E eu como bom noveleiro que sou acabei me envolvi tanto com o folhetim que me inspirei a escrever sobre o assunto. E tudo começou com um twite que eu vi:

A cena mostra a personagem Ana Beatriz Nogueira dando os primeiros sinais de Alzheimer e fiquei muito tocado pela forma sensível o garçom trata a personagem Elenice. Para minha surpresa, eu li o tal twite e entrei em contato com o ator Leandro Ferraz e ele topou contar como foi a experiência.

Também convido o ator e maestro Éttore Veríssimo para falar sobre como ter um perfil esteriotipado prejudica a carreira de um ator. Espero que gostem!

Leandro Ferraz
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Leandro Ferraz

na TV, apesar de falarem em diversidade, é escassa as oportunidades.

Boa tarde, Leandro. Primeiro, gostaria que vc se apresentasse e falasse um pouco sobre seu sobre seu trabalho como ator.

Então, eu comecei fazendo alguns comerciais em Cuiabá, a cidade que moro. E depois de um tempo eu fui tentar algo a mais, eu queria muito estar nesse meio e em 2015 fiz um cadastro na Globo e um teste para esse cadastro. A partir disso fui chamado para uma participação em Totalmente Demais em 2016, que contracenei com a Juliana Paes e Daniel Rocha. Era uma cena que eu fazia um oficial de justiça. No ano seguinte surgiu uma nova participação em Pega-Pega. Tentei outras oportunidades, mas é um meio difícil porque não tenho empresário.

Em 2018 fiz Cinema Café para o Cine Brasil TV, um canal de só produções brasileiras e que atualmente está só na internet. Mas a série não foi ao ar e eu fazia um coreano de uma comunidade em Niterói que era amigo do personagem do Bruno Ferrari. Não sei quando vai ser lançada. 4 anos na gaveta. E agora consegui Um Lugar ao Sol, que gravei ano passado e graças a Deus teve essa repercussão boa.

Em cena: Leandro Ferraz e Ana Beatriz Nogueira na novela Um Lugar ao Sol

Você se sente que seu perfil acaba te colocando em papéis esteriotipados? 

Eu não sou asiático, não tenho ascendência. Mas por ter olhos puxados, quando rola trabalhos nesse perfil eu me encaixo. E na TV, apesar de falarem em diversidade, é escassa as oportunidades.

Eu fiz um comercial para o Governo de Mato Grosso, por ser mato-grossenses, mas o que ajudou na seleção foi a reprise de Totalmente Demais. O diretor me apresentou, mas a agência de publicidade não me achava com cara de quem é do Estado, pra ter uma ideia. E no Brasil é assim. É dificil ter um comercial, um perfil natural, sabe? Somos tantos, diversos mas há muita dificuldade. E quando tem o perfil muitas vezes vem com estereótipo.

Você acredita q seu trabalho possa inspirar outras pessoas?

O trabalho de ator sempre inspira de alguma forma. Essa repercussão da participação em Um Lugar ao Sol foi uma surpresa muito grande. Teve gente que comentou que estava passando por isso em casa, outros elogiaram a forma que tratei a Elenice. Por mais que ela tenha sido uma trambiqueira, o garçom não sabia quem era ela. Então de alguma serviu de exemplo para atitudes que possam ser tomadas aqui no mundo real.

Como sempre trabalhei com atendimento ao público, eu quis passar isso. Mas falando de outras produções, outras atuações, a gente aqui que assiste sempre pega algo de algum personagem em uma novela, em um filme. Lembro da série O Negócio (HBO) que pra quem assiste é uma putaria, mas tinha muita coisa inteligente ali, muito marketing na cabeça da protagonista interpretada pela Rafaela Mandelli.

Há inspirações para o bem e para o mal, vai do que a pessoa está mais disponível emocionalmente pra isso.

Ettore Veríssimo
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Éttore Veríssimo

Infelizmente ainda existem padrões estabelecidos pela indústria. Se você não se encaixa, não é sequer considerado para testes de elenco.

Primeiramente gostaria que se apresentasse para os leitores:

Olá! Eu sou Ettore Verissimo. Sou a aqui de São Paulo (capital) e desde pequeno fui apaixonado pelo palco. Eu me formei em música, com habilitação em regência. Mas sempre estudei canto e piano. Quando fui trabalhar como diretor musical, de teatro musical, me apaixonei e não parei mais.

Comecei a estudar canto e teatro focado em musicais. Desde então tenho me revezado entre direção musical e performer no teatro. Eu não poderia escolher uma única função. Porque amo todas! Rs

Acabei de dirigir o musical off-Broadway Naked Boys, que está sendo um sucesso de público e meu último personagem como ator/cantor foi no musical Chaves – Um Tributo Musical. Onde dei vida ao Sr. Barriga e ao Nhonho. E ainda sou maestro do Coral da Câmara LGBT do Brasil, que esse ano foi contemplado pelo Proac LGBT além de dirigir o Espaço ao Cubo, um centro cultural na Barra Funda. Ufa! Muita coisa. Rsrs

Sobre o trabalho de ator, você acredita que o estereótipo se tona um critério para casting?

Não apenas acredito como já sofri muito por causa do perfil físico. Infelizmente ainda existem padrões estabelecidos pela indústria. Se você não se encaixa, não é sequer considerado para testes de elenco. Eu era obeso até o ano passado. Mas fiz redução do estômago a 9 meses. Sofri demais com a obesidade. Primeiro porque não existem muitos personagens para gordos. E geralmente você precisa ser o gordo engraçado. Já ouvi de diversos diretores que “se eu não fosse gordo, seria perfeito para o papel”.

Apesar de ter feito a redução de estômago principalmente por causa da saúde, não posso negar que tinha uma pouco da pressão em ser magro. E exatamente 1 mês depois das cirurgia, qdo já havia perdido 15kg, já tinha convite para personagem no meu “novo perfil”. É triste, mas é real.

 

Éttore Veríssimo

Como você sente que a classe artística que são parte de minorias recebem isso?

Hoje existe, ainda de maneira tímida, um movimento que tenta quebrar esses padrões impostos. Um movimento que tenta aumentar a diversidade de corpos, cores, gêneros e todas as possibilidades de inclusão de perfis. Um movimento necessário e importante.

E o que tem que se ter em mente para mudar isso?

São muitas as possibilidades. Cobrar publicamente das produções a inclusão e diversidade no casting, estimular e apoiar projetos com esse foco e também investir nos novos talentos ensinando a importância dessa conscientização.
Eu tenho uma escola de Teatro Musical, e uma das coisas que mais falo é sobre isso. E incentivo fortemente os alunos a se posicionarem sempre.

Há alguma coisa que você gostaria de acrescentar a este assunto?

Eu sou um sonhador. Então eu sempre incentivo as pessoas a nunca desistirem. Cada experiência negativa precisa ser impulso para aumentar a garra e a dedicação para superar os desafios em não ser padrão. É possível!

Muito obrigado por compartilhar isso!

Eu quem agradeço! Obrigado pela oportunidade

Rrrrita

Para quem gostou da coluna de hoje, indico esse video da maravilhosa, e que dispensa apresentações, Rita von Hunty, em seu canal do YouTube Tempero Drag.

Obrigado a todos! E se gostou: comente, compartilhe com seus amigos! É algo muito simples, mas que ajuda muito nosso trabalho aqui no Instituto Pró-Diversidade.

Um ótimo fim de semana!

5 respostas

  1. Adorei a entrevista. Amei também os tópicos abordados. O mundo precisa de pessoas com mais amor. O mundo precisa enxergar que todos merecem seu espaço, sem preconceito de raça, credo, opção sexual. Devemos amar mais uns aos outros. Mais amor e empatia por favor. Zero ao preconceito, zero ao ódio, zero a ignorância, zero para pessoas de corações gelados. É isso!

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