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O título da etiqueta

Na foto vemos uma mão escrevendo TRAVESTI numa etiqueta

Em vários momentos da vida me deparo com a ideia de querer entender comportamentos estruturais da humanidade. Vivemos em uma sociedade que usa seu tempo integral na missão de rotular pessoas, dividindo vidas em prateleiras.

A descrição da etiqueta é disposta conforme a lei que rege o “CIStema” – sim! CIStema, você não leu errado, a governança na sociedade está concentrada nas pessoas cisgêneras. O rótulo que me foi dado nessa sociedade é de ser “MULHER TRANS/TRAVESTI”, antes de perguntarem meu nome, sou pré-julgada pela minha existência, sou aquela que ocupa a última prateleira enferrujada e tenebrosa no mercado da vida.

Usam etiquetas para validar pessoas: “Fulano tem etiqueta”, ou seja, fulano serve para estar nas prateleiras visíveis do mercado. Todos somos cometidos a “ferra” – ato de marcar gado com ferro em brasa, no propósito de manipulação e serventia. Pessoas trans/travestis são marcadas para ocuparem a margem da sociedade, no intuito de servir aos prazeres repulsivos do conservadorismo ilusório.

Hoje, consigo notar uma pequena revolução se iniciando. Estamos no processo de apropriação dos nossos corpes e da imagem que queremos construir na sociedade, através desse lugar marginalizado que nos colocaram. Estamos anulando nossos códigos de barras, saindo das caixas, armários e das limitações que nos impedem de seguir sendo quem somos.

Muitas vezes me senti pequena na redoma social. Sempre me diziam que nada seria possível sendo uma mulher (trans/travesti) mas, acredito que se estou nesse plano é porque tenho uma missão a ser cumprida e jamais outro ser humano que carrega a etiqueta do status coercitivo iria determinar minha jornada.

Precisamos exercitar o desapego dos sentimentos que aprisionam, notar o outro como ser humano, sem definições e julgamentos, com neutralidade e amor. Enxergar o outro em essência é algo divino.

Deixemos as etiquetas para o inanimado, acredite que seu conteúdo está além das descrições impostas, confie na sua potencialidade. Somos dones dos nossos corpes e a desconstrução depende de cada um de nós. O que você prefere? Cortar as etiquetas que te descrevem ou dar título a elas?

A escolha é sua! Seja feliz!

Para ver mais textos de Paola Valentina Xavier, confira sua coluna Paola COM VIDA.
Foto de cottonbro no Pexels

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3 respostas

  1. Maravilhoso insight sobre os rótulos impostos pela sociedade, que tentam simplificar e resumir toda nossa existência e complexidade como pessoas e individuxs, com apenas uma breve e superficial definição. Adorei Paola.

  2. Paola, é triste pensar que vc já sentiu-se “ pequena na redoma social”. Quem te conhece, sabe que isso não combina contigo que é grande em inteligência, carisma e presença. O CIStema será quebrado , vamos aos poucos abrindo novos espaços. Parabéns por ser assim ?

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