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O maior amor de todos

Na foto Dan Barroso está de braços abertos para a autoestima

Falar de autoestima pode ser um pouco batido, mas nosso amor próprio vive apanhando de vários fatores da nossa vida, famílias conservadoras, amores abusivos, bullying, assédio moral no trabalho, são tantas coisas que não teria como descrever aqui. Por isso hoje vou contar como foi o meu processo para tentar amar a mim mesmo.

Pra quem vem acompanhando minha coluna já deve ter lido sobre a forma que lidei com vários temas na minha vida e a minha conquista da autoestima está ligada a todos os textos anteriores e continua até os dias de hoje. Amar a si proprio para alguns é uma conquista. É algo que devemos fazer todo dia. Algo que nem sempre é fácil.

É engraçado a relação de como um garoto introvertido, tímido de tudo, que não conseguia nem olhar outra pessoa no olho se tornou mais tarde promoter de festas ursinas, popular entre os ursos e que adora “biscoitar” no instragam. Mas nem sempre foi assim. Foram anos (e algumas cirurgias) para me ajudar a ter confiança.

Pra começar, preciso lembrar que devido ao bullying que sofri na escola, minha minha autoestima era praticamente inexistente. Quando entrei no ensino médio, minha mãe, entendendo a seriedade do que eu estava passando, me trocou de escola e correu comigo clínica em clínica até eu conseguir marcar uma cirurgia plástica para a correção do peito, logo no ínicio do ano letivo já estava com a cirurgia feita com sucesso e pude comprar minha primeira camiseta regata. Aaaaaah, como foi gostoso poder ir à praia podendo tirar a camiseta sem ter vergonha. Tenho um amigo, o ByM, que costuma dizer que bateu um calorzinho eu já to sem camisa, rs, e é verdade. Foi um direito adquirido! (risos). Não quero passar aqui a ideia errada que para se amar você precisa passar por um procedimento cirúrgico, mas meus ex-colegas de classes fizeram eu odiar aqueles pares de peitos de uma forma que eu não seria capaz de me amar com eles. Então, se esse for o caso, eu sempre apoio. Inclusive já conversei com algumas pessoas sobre isso, que me procuraram para buscar uma ajuda e dois deles se tornaram grandes amigos. Um aceitou seu corpo e temos o prazer de ver seus biscoitos em todo canto da internet e o outro, eu descobri depois, que estava passando por transição de gênero.

Em 2003, com 18, fiz cirurgia de estrabismo (realiamento dos olhos). Foi igualmente especial pois eu nunca soube que existia cirurgia para esse caso e uma criança do escolar da minha tinha feito. Logo fui atrás da doutora e comecei o tratamento. Lembro ainda hoje do dia que tirei o curativo e pude ver o mundo sem visão duplicada. E assim comecei a olhar mais as pessoas nos olhos.

Bom, a partir daí começou minha vida social. Fiz novos amigos, comecei a ir em barzinhos, os anos passaram, dei meu primeiro beijo, fiquei com o primiero cara e comecei a namorar com o terceiro. Foram quatro anos de namoro que merecem um texto próprio, então vamos adiante, especificamente em 2008. Tinha acabado de “sair” da casa dos meus pais e o BBB tinha um cara gay, peludo, barbudo e todo fofo. Pode parecer bobo, mas para, que não tinha referências de como era ser gay, foi uma grande descoberta. O mais legal de tudo, foi ter me tornado amigo do Marcelo Arantes poder contar essa história para ele. Sua resposta foi “são coisas pelo qual valeu a pena participar”. Passei a tentar não me cobrar tanto e ficar mais confortável comigo mesmo. Também parei de me depilar e deixei a barba crescer, agradeçam ao Dr. Marcerlo! (Risos.)

Nesse mesmo ano comecei a trabalhar na editora Madras e conheci um ursinho lindo que trabalhava lá. Isso foi motivo de várias brigas e alguns términos com meu ex. Então no finalzinho de 2009, durante um dos hiatos, decidi pesquisar sobre os gays barbudos e descobri que tinha uma festa de urso no Santa Sarah, bar gay que ficava em frente ao Macksound Plaza. O flyer tinha uma arte do ilustrador homoerótico Neroni Prandi e o host da festa era um cara muito lindo e simpático, que abriu um sorrisão quando cheguei, o Luiz Kitamura.

Entrei e fiquei na pista sozinho, enquanto a galera se aglomerava no bar (inclusive, que saudade disso!). Estava em pânico! Aquele monte de homem bonito e eu perdido. Quem iria dar bola pra mim? Então o DJ roubou um beijo meu e ficou por isso mesmo. Na pista só tinha outra pessoa que queria ficar comigo mas estava caindo de bêbado, mas anos depois se tornou meu segundo namorado. Bebi, tomei coragem, fui pro bar “caçar” e comecei a olhar para um carinha lindo, com cara de pessoa fofa, barbudo e todo peludo. Então ele retribuiu e ficamos naquela noite. Trocamos contatos e fui encontrar ele na casa dele. Assistimos um musical e no final do filme começamos algo que não terminamos. Na minha cabeça aquele cara era tão perfeito e travei de certa forma, tive vergonha de mim. Vergonha do meu corpo, medo de ser rejeitado e medo dele me zoar. Arrumei alguma desculpa e dei a entender que era por causa do ex. Ainda assim, ele ainda me levou até o metrô. Ah… como eu queria voltar para aquele dia com minha cabeça de hoje. Enfim, o ursinho nunca mais me deu bola… então bola pra frente.

Depois disso acabou o hiato e o namoro recomeçou (agora com um novo motivo para brigas). Começamos a pesquisar sobre ursos e ir em outros lugares. Foi bem interessante no começo por que os caras davam em cima de mim, diziam o como eu era bonito e eu pensava: “ele deve estar zoando com a minha cara, só pode”. Mas no fundo isso começou a me fazer bem. Comecei a escrever para o meu blog Mundo de Urso que depois virou a revista Bernardo Magz. Comecei a me envolver mais, fazer amigos novos e, com o tempo, comecei a notar que eu tinha meu valor.

Levantar a bandeira dos ursos hoje pra mim é tentar ajudar algumas pessoas da forma como a comunidade me ajudou. Sim, eu sei, os ursos podem ser tóxicos, a gente sempre ouve isso por aí. Mas eu acredito que isso está mais na natureza humana do que na tribo em si, até mesmo por que todas as tribos tem seus dilemas. No meu caso eu passei a entender que eu não preciso mudar quem eu sou para ser aceito e é mais fácil trocar as pessoas (risos).

É aí que entra a importância do empoderamento. Quando falamos de gordofobia, de homofobia, de transfobia, de misoginia, de racismo ou de qualquer outro assunto que nos ajude a lidar com nossos problemas internos. Sempre vai ter alguém que precisa ouvir isso.  Às vezes tudo o que precisamos é que alguém nos diga o quanto somos bonitos e que não importa a nossa cor, peso, altura, gênero, orientação.

No Mister Urso que aconteceu esse ano no bar Eagle São Paulo, antes da pandemia, teve um caso que me tocou muito. Um amigo carioca queria participar, mas estava com medo de vir para São Paulo e passar vergonha. Eu enconrajei ele e ele entrou no concurso. Quando ele foi selecionado entre os 10 primeiros lugares já ficou extremamente feliz. Então ele ficou entre os cinco melhores e depois se classificou em segundo lugar, sendo que ele mesmo não acreditava nele. Então se ame! Ame quem você é e se orgulhe da sua história, mesmo que tenha sido conturbada. Tenha orgulho de suas cicatrizes. Tudo isso faz parte da beleza que é ser você e sempre vai ter alguém que vai enxergar isso em você.

Bom, fico por aqui hoje… se cuidem e se amem!

Por Dan Barroso
para a coluna C’est La Vie!

4 respostas

  1. Quanto ao Estrabismo, quem o tem, antes de operar, aconselho realizar um Eletro Encéfalo Grama. Um Oftalmo que me perguntou se eu sabia a causa, fiquei surpreso porque os olhos sendo especialidade dele, mas lendo o “doutor Google” pode ter causa neurológica! Ontem um vídeo sobre audiometria, foi a vez do Otorrino lembrar que a surdez sem receber o suporte de aparelho pode se tornar permanente pela falta de estímulo cerebral que acarreta como “perda” da região responsável por decodificar o som! Ficam as dicas a quem puder se interessar! Quanto ao tema de auto estima, Não é determinante a beleza e a boa forma para estarmos no pareo de relações sexuais! O primeiro homem com quem fiquei tinha – sem exagerar – um corpo harmônico! E tínhamos um colega mulherengo que o pessoal tirava onda, como se diz, por ter um porte físico nem tão ortopédico assim e nem eu nessa “área” mas éramos muito amigos e quando ele soube do nosso colega ter ficado comigo, bem humorado que era disse: “quando o encaixe pode fluir” não é gênero que vá impedir! E até alertou: ele vai te procurar mesmo que não entre todo em ti! E de fato, chegamos a ter outros “ficares” !

  2. Dan, amo seus textos e relatos sempre tão próximos de quem os lê. A autoestima nunca será algo estático, ela flutua. E no seu texto a gente vê claramente isso. Parabéns ??????

  3. Adorei mano!!!
    Me orgulho e agradeço a Papai Oxalá e todos os Orixás por me presentearem você como irmão de coração cara!!!
    Abraços!!!

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