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Navegar é preciso…

O que podemos dizer para Emerson Evêncio, após assistir ao seu curta-metragem “Abrigo ao Sol”? Talvez, um “muito obrigado”.

O curta-metragem que tem direção e roteiro do próprio Emerson, nos traz a dura realidade da vida de uma mulher idosa, interpretada magistralmente pela atriz Teuda Bara. Com planos e ângulos fechados, com diversos closes, nos aproximamos da história da personagem, compartilhando com ela a tristeza devido a uma perda, e o incômodo da difícil rotina.

Mas navegar é preciso. Após o primeiro ato, o filme começa a abrir um pouco mais as imagens em suas sequências e nos mostrar um pouco mais da vida dela, da personagem. Num primeiro momento, estávamos agarrados a ela, fazendo com que a imersão do expectador seja instantânea. No segundo ato, o diretor-roteirista abre a nossa visão para o que rodeia a personagem, nos desprendendo um pouco da personagem, mas totalmente familiarizados com ela.

E durante todo o filme, “Abrigo ao Sol” nos dá uma verdadeira aula de fotografia, arte, edição e montagem. A monotonia da repetição nos incomoda. Aquela vida incomoda, cansa, nos dá fadiga. Se incomoda a nós, meros expectadores, o que dirá da pessoa retratada no filme? Por isso, navegar é preciso.

De forma redentora, a personagem encarna o espírito resiliente, que nos mostra que é preciso extrair força do fundo da alma para se ter uma libertação completa. Viver a vida. Ter força para viver enquanto vida tiver.

É necessário romper barreiras, ultrapassar obstáculos. E muitas vezes, isso exige mudanças no modo de enxergar e viver a vida. É preciso se preocupar com a vida, mas também é preciso vivê-la. E a personagem criada por Emerson Evêncio nos ensina que, mesmo o destino estando longe, é preciso buscá-lo. Dia e noite, noite e dia; mesmo que numa viagem distante. Afinal, a vida é finita, tem um prazo, então, navegar é preciso.

Fernando Pessoa reproduz a frase de Pompeu a seus comandados amedrontados. O encorajamento do líder romano cabe perfeitamente na literatura de Pessoa e, ao mesmo tempo, no que é mostrado em “Abrigo ao Sol”. Do simbolismo utilizado por Fernando Pessoa, podemos perceber a contradição entre a vida e a arte da navegação.

A vida, na maioria das vezes, corre por um caminho muito diferente do qual planejamos. Muitas vezes, temos até incertezas e dúvidas, diante de uma vida vazia e sem rumo. Já o navegador (situação da personagem durante o terceiro ato), reúne os instrumentos certos para seguir um rumo e conseguir chegar até onde deseja. Ela decide navegar.

A idosa conseguiu extrair a máxima: “navegar é preciso; viver não é preciso”. Ela procurou seguir o mesmo destino das cartas que foram soltas no riacho. Por mais estreito que fosse o riacho, uma hora ele se tornaria afluente de um rio maior. E, numa ou outra hora, atingiria o oceano, estando totalmente livre, na imensidão do mar.

“Abrigo ao Sol” é um filme de 2013, que traz uma reflexão certeira sobre a vida, o destino, e a certeza de que é urgente a busca pela felicidade libertadora. Afinal, quem não busca encontrar a felicidade?

FICHA TÉCNICA:

Abrigo ao Sol

Gênero: Drama

Ano: 2013

Direção e Roteiro: Emerson Evêncio

Duração: 18 minutos

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