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Natália

– Eu acho que estou exausta de vergonhas e humilhações, cansei de ser encarada pelos olhos que me descartam por acharem que sou uma pessoa difícil.  As poucas pessoas que realmente se importam comigo, acredito que estejam tão ocupadas envoltas em seus próprios problemas.

– Lembro desse rapaz, ele já não foi internado em um reformatório? Isso mesmo, lembro dele. Uma pena estar sendo preso dessa vez. Ouvi pessoas falando que
culpa disso é dos pais que não deram atenção e os amigos que em vez de o levantar, derrubavam. Seus sonhos agora estão paralisados e inertes. Como um morto, não se move, não se mexe e não trabalha. Não serve para nada. Como uma ampulheta defeituosa, permanece inerte e imóvel.

– Gosto de me deitar no chão do banheiro, me acalma. Corto meus braços até os ossos e arranco meus tornozelos, fico deitada sob a poça de sangue que sai das minhas feridas. Lagrimas escorrem do meu rosto e se misturam ao vermelho coagulado de minha vida. Na minha mente, sempre que me esfaqueio ou me mutilo
esqueço as dores, esqueço da minha falta de coragem de sangrar. Apenas lágrimas, dores e fraquezas. Ninguém entende o esforço que faço para amanhecer.

– Uma amiga que não vejo a tempos se foi, ela cuidava de mim. Muita polícia, vi pela minha janela. Fiquei até ver o translado do corpo para a ambulância. Meu pai e
meus irmãos vieram até mim e me olharam com aqueles olhos de “fazer a coisa certa”. Me abraçaram e disseram coisas como se eu fosse doente. Representei
um pouco de tristeza, porém eu não sentia nada. Não importei com a morte dela. Não era por maldade ou indiferença. Apenas não aconteceu!

– Quando eu voltei a realidade, me senti só como se stivesse vendo o manto da morte esfregando meus pés. O vazio é assustador, o silêncio, o vácuo, a falta de existência de uma bactéria sequer. Preciso dos meus remédios. Essa semana será infinita. Preciso dos remédios. Tudo me assusta, o mundo me assusta, a insegurança me abraça como uma velha amiga. Não me movo. O caminho que preciso percorrer até chegar ao novo psiquiatra me apavora. Vejo um mundo que caminha para a injustiça, eu não mudo, mas o mundo muda para pior. O que era correto, agora é uma
atitude demodê, onde o que é justo é ultrapassado, com cores mortas e sem brilho. Pouco é certo. Ninguém se preocupa com o mal. Ele sempre ronda, sempre está por perto. Sempre…

– As mulheres, outrora necessárias agora sofrem, apanham e são mortas por aqueles que lhe juraram amor. No país que moro, parece que o certo é fazer errado. Aumentar o ego é a coisa mais importante, não importa o que custar. Cor, gêneros, nada importa. Estão construindo esse país com base na dor, na lagrima e na fome.

– Quando me tranco no quarto fico alheia, me sinto mal. Minha fuga parece não ser mais a mesma. ESTOU CANSADA, ME SINTO PRESA! O mundo me tranca numa
gaiola. Como um pássaro me pedem para cantar com a mesma felicidade que eu tinha. Vamos cante para nós! A única nota que consigo cantar é apenas a mais alta,
grito a cada dia que passa. Parece que as pessoas não gostam do meu canto.

– Me sinto presa. O mundo me trancou e eu coloquei o cadeado. Tenho certeza de que consigo resistir mais uns dias. Quando eu fugir, vou voar no dia mais ensolarado, nas florestas mais bonitas e beijar as flores mais cheirosas. Quero que tudo seja perfeito.

– Sou uma criança e sinto falta de minha mãe.

Foto de capa por Ksenia Chernaya em Pexels

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