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Muito prazer ela e eu somos Zezé

Se fossem dois lados, A & B, e tivessem cinco faixas de cada um desses lados, esta crônica seria um LP. E longa é a estória, e longa é a história. Vou fazer um atalho, pegar uma picada, cortar o caminho. Zezé Motta, muito prazer. Ela eu tenho como mais afastada memória a atuação em Chica da Silva no papel homônimo. A frase: quanta gente para jantar. A canção tema de autoria de Jorge, que à altura era Ben, não Ben Jor. Corte.

Como um alumbramento banderiano, surge como epifania o batom preto da maquiagem de Zezé no seu disco de estreia e np disco Negritude. Corte. No Colégio de São Bento, no pátio, Sinke, Cinco e Vinte, Maluco, declara: queria usar o batom preto que Zezé Motta usa. Oi? Sim, o batom preto. Mas, o quero por transferência de lábios. Não foi assim. Agora é. Corte.

Sala Funarte. Temporada de Zezé em SP, num tempo sem Criolo, mas já sem amor na cidade. Sinke foi em todas as apresentações daquela temporada. E sentava-se na primeira fila da sala. No terceiro dia, Zezé já acostumada com aquele Maluco, o cumprimentou quase assim: você aqui de novo. Sim de novo. Sinkevisque era novo, Cinco e vinte. No último dia, Zezé suando muito, sob refletores, sinaliza precisar de uma toalha, um lenço. Sinke herdeiro de hábitos paternos, tinha no bolso um lenço. Num átimo, num impulso, ofereceu o lenço para a cantora. Nessa época, já colecionava recortes de revistas, jornais, das matérias sobre Zezé Motta, com ela. Corte.

Nessa essa altura, Sinke já comprara o segundo LP da cantriz, da cantora-atriz. Negritude. E o batom preto do desejo sem saber onde colocar o desejo. Zezé fez outra temporada. Desta vez com Luiz Melodia e Marina Lima, apresentando Marina ao público. Desse show Sinkevisque não lembra quase nada. Sérgio Luiz Ferreira é melhor narrador disso, melhor memorialista. E o batom preto do desejo. Corte.

Zezé lançou Dengo, seu terceiro disco. E fez show no Teatro Augusta. Sinkevisque comprou ingressos.

Corte, suporte baby. Foi apenas um corte. Sinkevisque ficou doente. Teve uma pneumonia. Mesmo em tratamento, e melhor um pouco, no dia da estreia do show Dengo, o médico proibiu que o convalescente fosse ao teatro. Corte. No final dessa temporada, Sinkevisque, burlando ou não as recomendações médicas, foi ao Teatro Augusta ver Dengo. Corte.

Passaram-se os anos, e assim passaram mais de dez anos, uns quarenta, ontem Sinkevisque foi assistir ao show de Zezé Motta, no SESC Santana, na companhia de Sérgio Luiz Ferreira. Muito prazer eu sou Zezé! E não apenas a cantora era e é Zezé. Eu sou Zezé. Sinke sempre foi Zezé. Ontem sabia todas as canções do repertório da cantora-atriz. E as canções incorporadas mais recentemente, Sinke as conhecia. Quando chegou a vez de Ciúme, de Caetano Veloso, Sinke foi acometido. Que essa gente faz aqui. Eu sou Zezé. Zezé é minha. Nem por isso. Não foi assim. Agora é. Se fossem dois lados de um LP, eu que narro seria o lado B. O batom preto do desejo.

Foto créditos: Facebook Oficial da cantora – Show do Sesc Santana

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