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Meu corpo, meu templo!

Quando analiso minha história, uma pergunta sempre vem à minha cabeça ― Como posso driblar esse CIStema opressor a partir de um corpo político? Antecipo em afirmar cares leitores, essa é uma tarefa de cunho evolutivo!

Tenho vivenciado casos de pessoas trans/travestis me pedindo auxílio em relação a afirmação estética e intelectual como cidadã(o) vivendo em um país transfóbico. Destaco o fato de serem pessoas jovens com milhares de ideias em ebulição, diante disso resolvi escrever esse texto de conscientização e reflexão baseado na minha vivência.

Venho de uma geração não informatizada, onde likes e shares não legitimavam pessoas, até hoje acredito que eles não legitimam, esse é mais um modelo de vaidade capitalista que surgiu para “validar” ilusoriamente as pessoas. Óbvio que já fui adolescente e tive meus egos e vaidades terrenas, apesar de pouco tempo para colocá-los em prática, enquanto jovem minha missão era cuidar do bem estar dos meus avós e com condições econômicas restritas era mais fácil viver a realidade do que a vaidade. Hoje é mais acessível ter afirmação e ascensão social através do alcance das redes, mas é importante lembrar que vida real é fora da internet tá, honeys? (rsrs)

Em meio a essa disputa tecnológica e humana, ressalto que travestigeneres carregam uma “carga” que pessoas CIS jamais imaginam carregar. Há muitos anos, acreditei que minha afirmação social se daria através da cirurgia de redesignação sexual, por exemplo, achava que se eu tivesse uma vagina as pessoas iriam me aceitar, respeitar e me incluir nos espaços. Mera ilusão querides! Essa pressão pela padronização de corpos só ocorreu por eu estar vivendo um momento de total vulnerabilidade social, sem recursos financeiros até mesmo para alimentação, foi uma situação real e cruel.

Hoje sou conhecida pelo trabalho que desenvolvo na militância, na cultura e na música, mas são poucas pessoas que sabem da minha trajetória de vida. Quando trago em meu talk show virtual o título de “PAOLA COMVIDA”, assim como é o nome da minha coluna neste Instituto, é na intenção de afirmar minha resistência perante milhares de pessoas que torceram contra minha sobrevivência.

No meu caso a maturidade e a espiritualidade me permitiram emancipar, joguei fora os hormônios indicados para uma melhor feminilização, recusei a cirurgia que há dez anos estava na fila de espera, fortaleci minha personalidade junto aos meus sonhos e desconstruí um legado colonial de estereótipos. Pense muito bem antes de fazer qualquer ação com seu corpo por opressão ou influência, é importante analisar as consequências que não serão visualizadas por likes, o corpo deve ser nosso templo, somos dones dessa sacralidade.

É impossível e desnecessário querer agradar a todes, por mais difícil que seja a trajetória, o respeito consigo mesmo é a mais bela afirmação que poderá ter. É confortante pensar que fora desse universo tecnológico influenciador, podemos contar com pessoas e possibilidade para além imaginadas, e que estar nas redes seja apenas um complemento de difusão de troca de experiências positivas e engajadoras. Sigamos nos cuidando, nossa resposta de afirmação para o patriarcado é envelhecer!

Axé!

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