Search

Mentes Abertas

Mamonas Assassinas e a famosa brasília amarela. Foto: Divulgação

Voltando há 20 anos no tempo, não me lembro exatamente como aconteceu, mas acordei e depois que saí para rua alguns amigos de infância me contaram sobre a morte dos Mamonas Assassinas, meio incrédulo achei que era apenas um boato, sabe aquelas piadas sem graça que inventam e todos caem. 

No passar do dia notícias pela TV me fizeram “cair na real”, uma das bandas nacionais que mais ouvia tinha ido e eu com apenas 11 anos não tive a chance de assisti-los ao vivo. 

É inegável que para época os Mamonas Assassinas foram importantíssimos, assim como Chico Science morto em um acidente no ano seguinte e Cassia Eller, Cazuza e tantos outros artistas, todavia, a morte prematura e a impossibilidade de terem feito um segundo disco acabaram com este grande fenômeno musical, já que eles tocavam na rádio rock, pop, pagode, sertanejo. A mistura de ritmos possibilitou isso, apesar disso, nada impediu o acidente aéreo e tudo se perdeu no dia 02 de março de 1996 sete meses após tomarem o país de assalto. 

Passado todo esse tempo me pergunto será que eles continuariam fazendo sucesso na atualidade? No ano de lançamento do álbum de mesmo nome do grupo eu achava as letras engraçadas, entretanto, analisando algumas das músicas percebo que eles eram muito mais do que apenas cinco caras bobos que se fantasiavam. 

A letra de1406 é um exemplo disso, a referência ao primeiro número do telefone de anúncios de coisas importadas que já eram caras naquela época e agora continuam caras e vendendo a rodo na TV que quase ninguém pode comprar ou Jumento Celestino falando de migração (apesar da letra dizer imigração) e a desilusão que muitos tem ao tentar a sorte em outro estado e o que dizer de “Chopis Center” que naquela época já fazia uma crítica ao que se tornaria corriqueiro nas nossas vidas ir ao shopping center, comer um sanduiche e pegar um cinema e transformar num evento social, sem contar que a nossa felicidade ainda é ter um crediário para comprar o que quiser em lojas de departamentos. 

Quando hoje em dia se cantaria na TV aberta “abra sua mente, gay também é gente” com as crianças ouvindo e que qualquer um poderia ser o que quisesse e não deveríamos nos importar, ou cantar “Sabão Crá Crá” sem ser repreendido por algum fundamentalista na internet e venderiam mais de 6 milhões de cópias?

 Dinho (vocal), Júlio Rasec (teclados), Alberto Hinoto (guitarra), Samuel Reis de Oliveira (baixo), Sérgio Reis de Oliveira (bateria) Foto: Divulgação

A passagem e o sucesso meteórico destes guarulhenses ficaram somente na lembrança e nenhuma outra banda ocupou o espaço vago no mainstream e não haveria possibilidade já que nosso país primeiro trocou a irreverencia pela sexualização nas letras e as fantasias esdruxulas por shorts curtos ainda que algumas músicas trouxessem algum teor para se fazer pensar.

O mundo ficou “pseudo” politicamente correto e bandas como os Mamonas Assassinas seriam hoje um sucesso só no mundo underground, entretanto, jamais na grande massa, primeiro por serem uma banda de rock e segundo por serem “pseudo” politicamente incorretos para os padrões delicados e conservadores da nossa sociedade contemporânea, porém as questões que foram tratadas em um único álbum são mais atuais e urgentes do que nunca.  

Anderson Andrade

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *