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Maid

Tente não se emocionar com a empregada doméstica que abriu um futuro com as próprias mãos!

A nova minissérie da Netflix merece ser vista por abordar questões importantes como maternidade, desigualdade social e de gênero, além de dar uma aula sobre relacionamentos abusivos.

Há grandes spoilers pela frente!

A protagonista da história, Alex, é uma jovem mãe que possui uma filha de 3 anos, Maddy, e está num relacionamento abusivo com o namorado alcoólatra Sean, fato que ela se recusa a aceitar inicialmente, mesmo sabendo que permanecer nessa relação é prejudicial à filha. Após uma discussão, Alex pega sua criança no meio da noite e sai de casa, ela sobreviveu ao namorado abusivo e agora precisa continuar sua luta por uma vida digna para ambas, numa sociedade que foi criada para favorecer exclusivamente aos homens.

Abuso emocional é abuso de verdade!

A primeira dificuldade em romper com os ciclos de abusos de uma relação tóxica é se reconhecer nela. Alex acredita não estar numa situação de violência doméstica porque, afinal, ela não tem hematomas em seu corpo e sendo assim, como será possível provar que os abusos de seu parceiro não são meros desentendimentos de casais? Sean não a agride fisicamente, porém grita, esmurra paredes e atira objetos de vidro pesados perto dela, atitudes que abertamente configuram em abuso psicológico. 

Mães precisam de uma rede de apoio.

Maternar pode ser muito solitário, sem uma rede de apoio, com um pai distante e uma mãe artista com distúrbio de bipolaridade não tratado, Alex e a filha não tem um lugar para ir ou com quem contar após saírem de casa. Vão para um abrigo contra violência doméstica e para se manter, começa a trabalhar numa agência de limpeza chamada Value Maids, que oferece um salário de miséria e condições precárias de trabalho. Alex é uma mulher branca, chamando atenção o fato de que não são só as mulheres negras, latinas e asiáticas que trabalham como empregadas domésticas nos Estados Unidos, demonstrando que a pobreza é um problema que não se limita às minorias raciais na América, apesar de mais evidente para esses grupos.

A barreira financeira pode ser determinante para se romper com o clico de abusos.

Falta de estabilidade financeira é uma temática forte em Maid. Para conseguir subsídio do governo para alugar uma moradia, Alex precisava de um trabalho, porém sem ter um lugar seguro para deixar sua filha sua vulnerabilidade só aumentava, o salário como empregada doméstica não era suficiente para prover alimentação, moradia e creche.  Houve uma cena em que ela e a filha passaram a noite no chão da estação da balsa, assim que saem de casa. Aqui um tapa na cara daqueles sustentam a máxima de que “ só fica numa relação de abuso quem quer”, sem antes refletir que mesmo existindo políticas públicas para mulheres em situação de violência doméstica, a burocratização para acesso à essas proteções legais são enormes, expondo às vítimas a uma situação de ainda mais violência, sendo comum que essas mulheres voltem para seus parceiros abusivos várias vezes até romper o ciclo, como ocorreu com Alex.

Na minissérie Maid a mocinha não tem um final de contos de fadas e ainda bem! Confesso que torci para ela ficar com Nate, o bom moço recém-separado e bem na vida, claramente interessado em Alex. Sempre prestativo oferecendo o carro velho do pai e alguns dias de abrigo para a moça e Maddy. Porém, a oferta de ajuda termina quando Alex tem uma recaída e acaba passando a noite com Sean, depois de um episódio angustiante em que a sua mãe Paula se machuca num surto maníaco.  Nate prova que sua gentileza estava condicionada à expectativa de ter algo com Alex, quando essa possibilidade não se concretiza, ele mostra que não consegue ser genuinamente amigável com uma mulher sem esperar nada em troca. Ainda que a nossa sanha por finais felizes e românticos clame para que a mocinha fique com o seu cavaleiro na armadura reluzente, o desfecho da série foi realista e merecido, Alex teve o final que ela lutou com unhas e dentes para conquistar, abriu o seu futuro com as próprias mãos.

Foto de capa: Divulgação/Ricardo Hubbs/Netflix

2 respostas

  1. O texto fluído dá vontade de ver a série porque o conteúdo da mesma nos faz com que nos identifiquemos com a personagem e com as dificuldades que ela passa, mesmo não sendo mulher. A gente é violentado vez ou outra, não tem grana, e lidamos com gente que age por interesse…
    Bom final de semana.

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