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Godzilla Minus One é sobre valorizar e viver a vida

Godzilla Minus One (Do original Gojira Mainasu Wan) é mais um dos filmes sobre a criatura chamada Godzilla, um monstro que em seus primeiros filmes era uma clara alegoria sobre os terrores da guerra e do bombardeiro nuclear sofrido pelo país na segunda guerra mundial, um dos maiores atos de terrorismo já vistos na história com seus inúmeros mortos e suas consequências a longo prazo existindo até mesmo nos dias de hoje.

Mas ao contrário de muito de seus antecessores e de suas versões mais aventurescas que estão sendo lançadas por Hollywood, Gojira (Permita-me chamá-lo por esse nome, acredito ser mais simples de escrever hahahahaha) nesse filme é o principal antagonista, mas não posso dizer que o único que temos.

Gojira Minus One conta a história de Shikishima, um ex-piloto kamikaze que pousa em uma ilha e alega uma falha em seu avião como motivo de não conseguir cumprir com sua missão, mas quando analisado, seu avião se mostra em condições perfeita, dando a entender que ele seria um desertor. Mais a noite uma criatura que os nativos da ilha chamam apenas de Gojira aparece e mata grande parte da equipe de mecânicos e isso acontece quando Shikishima hesita em atirar na criatura por medo da morte.

Ao voltar para Tokio, sua terra natal, ele encontra uma cidade devastada pelas bombas dos EUA e seus pais mortos. Em meio a essa tragedia o destino de Shikishima se encontra com o de Noriko, que ao ser perseguida por roubar comida e com uma criança de colo, entrega o bebê nos braços de Shikishima e foge. Após algum tempo esperando que a moça voltasse, Shikishima pensa em abandonar a criança, porém acaba levando-a com ele e Noriko o encontra passando a viverem juntos.

A criança, chamada Akiko, Shikishima e Noriko são como uma família agora, embora nenhum dos três tenha laços sanguíneos. Eles também contam com a ajuda de Sumiko, a vizinha de Shikishima que o culpa pela morte de seus filhos, pois ele não cumpriu com sua missão como kamikaze, mas que ao ver a criança com duas pessoas que não tem ideia de como criar um bebê acaba se compadecendo.

Os anos passam e o trio está vivendo bem, Shikishima consegue um bom emprego retirando minas aquáticas com mais três homens, o capital do navio, o jovem que não pode ir a guerra e um antigo cientista de armas do exército. Enquanto isso Noriko conseguiu um emprego em uma das regiões reconstruídas de Tokio, mas essa calmaria dura pouco, pois a criatura que Shikishima viu ainda pequena agora não só é gigantesca como está ainda mais letal do que quando ele a viu pela primeira vez. Começa então a batalha da humanidade contra a figura Gojira que parece ter um único instinto, destruir tudo.

Com essa longa sinopse, acredito que quase metade do filme, eu quero agora contar uma outra história para conseguir traçar meu paralelo final. Para as pessoas mais próximas e até umas não tão próximas assim não é novidade que eu sofro de depressão. Eu tomo minha medicação certinho, faço minhas consultas com psiquiatra e psicólogo, mas ainda assim existem momentos em que tudo o que eu sinto é uma enorme vontade de encher meu corpo de drogas pesadas, sejam lícitas ou ilícitas ou dar cabo da minha própria vida para tentar fugir de tudo o que sinto e penso nesses momentos. São dias muito pesados, muito difíceis, qualquer esforço parece inútil, qualquer coisa vai ser uma perda de tempo e eu não deveria mais estar aqui ou passar por isso porque a verdade é que eu não aguento mais e tudo é muito tortuoso de passar. Essa última crise pareceu muito que seria de fato a última, apesar de lutar internamente e tentar me apegar a qualquer coisa que me desse um motivo para encarar isso, eu não estava conseguindo mais suportar, então decidi ver o filme.

Um dos fatores mais interessantes nesse filme é o terror que o monstro passa. Ele é gigantesco, ele é imponente, ele se regenera muito rápido, é uma figura devastadora que não pode ser parada e que vai consumir tudo o que estiver em seu caminho. Quando ele dispara sua rajada de calor atômica é ali que você percebe que não existe qualquer esperança, mas é nesse momento que o filme passa a brilhar.

Em meio a destruição, caos e a perda, Shikishima, que nunca se casou com Noriko apesar de amá-la, não aceita que Akiko o chame de pai embora seja em ações uma figura paterna presente, decide que é contra aquela ameaça gigantesca que sua grande e derradeira batalha acontecerá, pois não será uma luta só contra o Gojira, mas também contra os seus sentimentos de culpa que o impedem de viver de fato.

O plano elaborado pela população de Tokio para lidar com o Gojira é feito e Shikishima pede para ser a isca para atrair o monstro para o local onde decidem colocar um plano em prática, mas o próprio piloto tem seu plano. O plano do doutor, o companheiro de retirada de mina de Shikishima, não envolve a morte de qualquer uma daquelas pessoas, aquela luta era uma luta para que todos vivessem, pois segundo ele, aquele país precisa aprender a valorizar mais a vida, mas Shikishima não pensa da mesma maneira.

O plano de Shikishima envolve aquilo que ele não teve coragem de fazer no início da trama, se jogar contra a boca do monstro que é mais vulnerável por dentro com seu caça equipado com bombas pesadas e assim destruí-lo de vez. Importante dizer que os caças japoneses não tinham bancos ejetáveis, já para criar a situação do piloto ao ficar desprovido de armas usar a própria vida como arma, mas não foi dessa vez que a morte venceu. No fim, para o mecânico que no começo culpava Shikishima por seus companheiros mortos, a vida também passou a importar e ele construiu um acento ejetável. Em uma luta que era pela vida, mesmo com o piloto escolhendo a morte, no fim com ajuda de seus companheiros a vida foi o que venceu.

E assim por um instante eu pensei nisso e estou aqui escrevendo esse texto para vocês. O piloto Shikishima no fim venceu a luta não porque matou o monstro, mas porque o fez e viveu para ser feliz e finalmente tentar viver. Mas filme é filme, vida é vida, o filme tem seu final ali e nossa imaginação pode dar um final feliz para aqueles personagens que nos apegamos na trama, já aqui eu tento dar um passo de cada vez, mesmo fragilizado, mesmo puxando um fardo que para mim fica cada dia mais pesado, mesmo não sabendo se isso vai render frutos positivos ou senão sou apenas um problema para as pessoas que amo, mas tento viver e tento ser ao menos um pouco feliz dia após dia.

Como dito na música “Se tiver que ser na bala vai” da banda Vanguart:

– Tem dias que a vida é um ato de coragem

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