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Existe idade pra parar de sonhar?

No curta-metragem “Guida”, de 2014, nos deparamos com a vida da personagem que dá nome ao filme e o seu cotidiano diário: casa e trabalho.

A animação, com traços rápidos e perfeitos, nos imerge no mundo de Guida, arquivista de um Fórum a 30 anos, e que ainda insiste em realizar alguns sonhos, ou melhor, dar vida a eles, apesar da idade.

O roteiro e a direção de Rosana Urbes nos conduzem para vivenciarmos a vida da personagem. Despertar de um sonho bom para ir para um trabalho monótono e repetitivo. 30 anos fazendo a mesma coisa. 30 anos vivendo a mesma rotina, simplesmente porque Guida precisa se manter materialmente, sonha, porém passou todo esse tempo represando as suas vontades, os seus desejos.

Quantas pessoas vivem a vida de Guida? Quantas pessoas trabalham num emprego que detestam enquanto seus sonhos vão sendo adiados e a cada ano que passa, se tornam mais impossíveis? Quantas pessoas desistem de seus sonhos, por mais simples que sejam, por que acreditam que não têm mais idade para realizar um sonho da época de juventude?

O desenvolvimento da trama nos joga uma infinidade de sonhos que Guida sempre teve e que nunca conseguiu realizar. E não os realizou por quê? Faltou tempo? Ou dinheiro? Ou as duas coisas? Ou simplesmente faltou ânimo?
Muitas vezes deixamos de fazer as coisas mais simples por falta de tempo. Ou quando estamos com tempo, estamos tão cansados, que queremos somente recuperar nossas energias. A ida e a volta para o trabalho, dependendo do lugar onde a pessoa vive, pode ser mais extenuante do que o próprio trabalho. E o tempo não para; ele passa num instante. Correm os dias, correm os meses, correm os anos.

O curta “Guida” pode ter vários adjetivos: puro, belo, singelo, poético, inspirador, contemplativo, sensível, tocante. E é exatamente neste ponto onde o filme atinge o seu clímax: quando Guida decide fazer o que ela tem vontade. Talvez seu maior sonho nem fosse posar como modelo vivo, mas muitas vezes chegamos num ponto na vida onde ir um pouco além, dar um passo fora do que já é tão habitual, cotidiano e rotineiro, torna-se necessário para que somente nos sintamos vivos e pulsantes. Fazer algo diferente numa fase em que praticamente não esperamos mais nada na vida, termina por se tornar extraordinário.

Se no início enxergamos uma Guida, sem vida e opaca, quando ela decide posar nua para pintores, ela mostra a sua essência feminina: multicolorida, linda e, principalmente, viva.

“Guida” nos convida para irmos muito mais além do que simplesmente assistir uma ótima animação em curta-metragem, com uma produção excelente e trilha sonora irretocável. “Guida” nos convida para pensarmos não só sobre como a “ditadura da beleza” é dura e implacável. Mas vai ainda além disso: “Guida” nos mostra que conseguimos ser felizes e plenos quando conseguimos nos sentir felizes e plenos. E só conseguimos nos sentir assim quando nos permitirmos. Quando nos libertamos de certos “grilhões sociais” que ditam o que as pessoas devem ou não fazer.
A sensação que tanto Guida quanto o espectador sentem é a de libertação plena da personagem quando está ali, nua na frente de vários pintores. Qual de nós teríamos a coragem de posar nu para um grupo de artistas plásticos? E qual de nós teríamos a coragem de posar nu tendo já com uma certa idade?

O “x” da questão não é ter coragem de posar nu ou nua, como Guida fez, mas ter coragem de fazer algo que muitos podem contestar, ainda mais alegando que a idade é um fator impeditivo.
Não há limite de idade para buscar realizar um sonho. Não há limite de idade para buscar a felicidade. Não há limite de idade para seguir o exemplo que “Guida” nos dá. Afinal, nunca é tarde para se autodescobrir e viver mais leve, livre, em plenitude e harmonia de corpo e alma.

  • FICHA TÉCNICA:
  • Guida
  • Ano: 2014
  • Direção: Rosana Urbes
  • Roteiro: Rosana Urbes
  • Gênero: Animação, Drama
  • Duração: 11 minutos

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