Search

Entre o certo e o fácil

Portas com escolhas

Aristóteles (384-322 a.C.), em seus escritos, nos ensina que ser justo é praticar reiteradamente atos voluntários de justiça. A meu ver essa afirmativa observa três dimensões da realidade da justiça: Em primeiro lugar, para ser justo é preciso ter atitude. Ou seja, se é uma prática, e deve ser praticado, tem de ser fruto dos comportamentos diários. Quantos livros precisaria ler para executar uma ação ética? A leitura é importante, mas, na verdade, nenhum livro precisaria ser lido. O caminho é fazer o que é certo e necessário.

Em segundo lugar, a referida afirmativa observa que é preciso praticar reiteradamente, ou seja, tem de ser repetitivo, fazer a coisa certa inúmeras vezes, sem limites, diariamente, até se tornar um hábito. Veja só: para muitos se tornou lugar comum ser agressivo. Essa pessoa não vê problemas ter atitudes ríspidas diariamente. É a mesma coisa! Mas, ao contrário, devo dizer.

Por fim, essas atitudes diárias precisam ser oriundas da boa-fé, ou seja, da vontade. É preciso querer fazer a coisa certa: que nem sempre é o que você quer, ou te beneficia, prioritariamente. Mas, certamente beneficia a comunidade. Se eu não quero fazer algo, e faço por má vontade, estou fazendo um bem? Duvido muito. Imagino que junto a esta “gentileza” venha muita energia negativa e pesada. Quem se beneficia com isso?

Quando penso nas reflexões aristotélicas não consigo deixar de pensar no presente e seus significados. Em um mundo de aparências e ilusões, de consumismo e pouca autoestima, se questionar sobre o que fazer e não fazer me parece mais importante do que nunca. Ética não é algo que possamos exigir dos outros. Ao olhar para a realidade vivida entendo que é muito mais sábio eu questionar minhas atitudes no dia a dia.

Logo, fico me perguntando se fui claro em minhas aulas e palestras, se atendi àqueles que solicitaram minha atenção. Como muitos, dentro de casa, adoro dizer que procuro paz. Mas, eu a ofereci aos outros, os que estavam ao meu redor? A meta não é falar mal de mim mesmo – se criticar não é isso! Mas, refletir sobre as possíveis consequências das minhas ações.

Diferentes pessoas no meu círculo de convivência têm me inquirido sobre como exigir mais atenção, respeito, carinho… A primeira coisa que pergunto é sobre o que ela tem oferecido em primeiro lugar. Se nada ofereceu, pouco vai receber. Se ofereceu muito (ou acha que ofereceu muito) e não teve retorno, chegou a hora de se perguntar se as devidas trocas estão ocorrendo. E se não estão ocorrendo, porquê.

Em um mundo devastado por péssimos governos, doenças, preços altos, guerra e muita desinformação está difícil manter a saúde mental em dia. Da mesma forma, está desafiador fazer a coisa certa. Vi com meus olhos pessoas se ofenderem quando a favor delas foi feita a coisa certa! Muito estranho. Esse individualismo diário não ajuda em nada, acrescento.

Aposto na ideia de fazer o certo a despeito do fácil, seja nas relações afetivas, familiares e profissionais. Se não há retorno, essa é outra questão. Daí, você faz uma escolha. Mas, aprendi que ao dar o primeiro passo, abre-se espaço para receber, agradar e acolher a quem precisa, e você se beneficiará disso. Por que não tentar?

Foto de capa por Pixabay em Pexels

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *