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Dropes

Há tantos assuntos para a gente falar, se observarmos o curso da semana. Nem sempre podemos escrever textão de tudo. Aqui umas cutucadas com acontecimentos bem atuais.

Um aerotrem chamado preconceito

Levi Fidélix morreu achando que pênis não é órgão excretor, mas que o ânus é. E que sexo é só para reprodução. Logo ele que é cristão. A religião que criou tabus contra o sexo e estimulou o celibato de homens e mulheres religiosos, ordenados ou não, numa época em que o celibato trabalhava contra a economia do uso dos corpos em sociedade. Ademais, o cristianismo tem essa contradição: usar o discurso biológico das funções do corpo. O cristianismo, portanto, se mostra ser contra as teorias que explicam a vida da mesma biologia. E tem louco que segue essa religião.

Sim, somos o país com o maior número de loucos e incoerentes sob a tutela do cristianismo. O que está acontecendo conosco nessa pandemia é reflexo do desprezo cristão pela vida de fato, da submissão pela ideia de que vida é dom de um deus que brinca com ela como se fosse uma criança mimada.

Fidélix era isso, uma pessoa sem sucesso político, mas dono de um discurso de ódio que engrossou o preconceito contra LGBTQIAP+. Ainda bem que eu creio que a morte é o fim. Pelo menos para ele.

Imagem de WikiImages por Pixabay

Streisand

Dia 24 de abril é aniversário de Barbra Streisand. A taurina e genial cantora branca, judaica e burguesa dos Estados Unidos encantou a geração de entendidos e GLS da qual eu emergi no início desse século. Eu sempre gostei dela. Não era bonita, mas conseguia ficar. A voz maravilhosa, a expressividade nos filmes, a entrega nas canções. Streisand, no auge dos seus 79 anos, é consolidada com uma das artistas mais importantes do mundo. Mas tudo nela é muito aquilo que a cultura gay dos anos 90, e até mesmo de hoje em dia, nos reflete. Por exemplo: branquitude. Elitismo. Riqueza. Aceitação de si e militância, mas com aquela dose de conformação com o mundo que nos cerca.

Amém. vida longa à rainha.

Extra, extra!

Cresce entre gays o repúdio ao gênero neutro. A nova desculpa é que no meio de tanta fome, sede e pandemia, a gente se preocupe com tais bobagens

Amigues, se a gente fosse se preocupar primeiro com fome e sede ou parar para pensar em saúde, esse presidente já teria sido deposto. Outra coisa. Fome e sede existem desde que a humanidade se reconheceu como espécie. Isso nunca foi prioridade e nem empecilho para nenhuma luta paralela. Todos podem lutar juntos. Se não lutam, o que de fato acontece, não lutam mesmo, é porque as pessoas não querem. Não porque não podem.

Você pode não concordar com, não gostar do gênero neutro. Mas por que se opor? Medo do quê? Isso é coisa de GGGGGGGG+, aquele grupo da diversidade indicado por uma sigla em que só existem gays, suas demandas e suas necessidades.

Vidas cruzadas

Esse filme, tão importante (The Help, 2011) com Viola Davis, Emma Stone e a vencedora do Oscar pelo papel coadjuvante, Octavia Spencer, passou na Temperatura Máxima, no último domingo. Bom, né? De fato, parece que na semana do Oscar, esse ano em abril, filmes premiados têm passado na programação da TV aberta. Esse horário é dedicado a filmes infantis e de fantasia.

Mas é exatamente aí que cabe esse filme. Não porque não seja uma espécie de docudrama da realidade do sul estadunidense dos anos de 1960. Mas porque se torna uma fantasia daquilo que os brancos admitem mostrar de seu próprio preconceito. Essa foi a reclamação da comunidade negra de lá. Estão certos, pois, um filme desses deveria ter sido feito a partir de histórias já contadas por negros, não deveria ser contado a partir da relação de uma mulher branca com as empregadas que serviam à sua classe.

Achei válido questionar isso. E passar na hora em que a Globo passa a Elza do Frozen e o Shrek. A comunidade negra dos Estados Unidos reclama com razão. Semelhantemente, aqui no Brasil também predomina a história negra que os brancos podem, conseguem contar. Só que, aparentemente, estamos muito acostumados.

Bater em criança

Quer bater? Não bate. É crime e não é só uma questão de ser de bom tom. Inclusive, se seu filho ou filha denunciar, já era. Bater em criança não educa. Se você se considera uma pessoa bem educada porque apanhou, você não foi educado pela violência. Você foi vítima dela. Portanto, gostar dos pais que nos bateram hoje em dia significa que a gente aprende a ter Síndrome de Estocolmo para sobreviver.

Tá certo que pode perdoar, deixar isso para trás. Depois de certa idade a gente não apanha mais dos pais. Mas pode começar a apanhar de colegas de classe, de maridos e até esposas, pode aprender a tolerar abusos de violência verbal e simbólica no trabalho. Mudar essa cultura do bater para ensinar vai tornar nossa sociedade menos violenta de todas as formas. Vai. Mesmo sendo lei eu ainda vejo pais dando tapas em crianças, e ensinando pela dor.

Eu apanhei quando criança. Por conseguinte, isso foi essencial para tomar a única decisão que eu tenho cem por cento de certeza. Eu jamais terei filhos, porque eu me imagino com a minha paciência sendo tentado a dar um tapa. Ou mesmo que eu não dê um tapa, mas use pressão psicológica. Talvez eu seja agressivo, grite. Humilhe. Talvez eu xingue. Desse modo, é melhor não tentar.

Evolução

Soul, novo filme da Pixar, ganha trailer com mais detalhes da história
Soul. 2020, estúdios Pixar / Disney. Foto: Divulgação.

Quero terminar meu texto com uma divagação “metafísica”.

Não existe espírito. Não existe evolução da alma ou consciência. Qualquer forma de despertar ou de avanço da mente morre com a pessoa, porque é cerebral, orgânico. Só perdura se ela deixar isso registrado de alguma forma para que outras sigam seu caminho. Ou outro caminho que queiram. Nenhuma religião salva, pois não há o que salvar. Morrendo, todos nós nos extinguimos como uma chama de uma vela. Pronto. O mundo que sobrou para quem fica é o que resta daqueles que aprenderam com os que foram.

Amém?

Por Alex Mendes
para sua coluna O Poder Que Queremos

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