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Diversidade COM quem?

Por Michel Furquim

Dia 28 de Junho é considerado o dia da luta contra o preconceito, a repressão, a violência e a opressão de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais (LGBTI+) e por isso o mês é considerado o mês da diversidade, para lembrar da Revolta de Stonewall, no mesmo dia em 1969. Uma revolta em Nova York, nos Estados Unidos. Curioso, para não dizer irônico, de que não se trata da data de uma manifestação social de um outro país – não qualquer país, mas aquele que norteia grande parte das decisões políticas, econômicas e culturais do planeta -, e não das manifestações no Brasil que as “bixas“, as travestis, as “sapatões“, as pessoas trans, os bissexuais e aquelas pessoas que não se consideravam contempladas pela normativa “cishetero binária” realizavam desde sempre aqui em terras tropicais.

Aliás, você conseguiria citar de supetão alguma manifestação (com data e local) de pessoas LGBTI+ na história de nosso país, que não fosse a “Parada LGBT”? Parada esta que há anos se tornou uma organização, com verba do governo municipal e com várias marcas patrocinadoras – mesmas marcas que apoiaram a eleição do atual presidente -, ignorou conscientemente figuras importantes de nossa história na luta pelos direitos civis de lésbicas, pessoas trans, bissexuais, travestis e, prioritariamente, homens gays. Também pudera, o evento (totalmente online) este ano teve organização comandada por um estúdio, responsável por lucrar com canais de “diversidade” no YouTube.

“Esquecer” do passado do movimento social que garantiu direitos para que pessoas do mesmo gênero pudessem se casar, pessoas trans e travestis pudessem ser atendidas em serviços especializados de saúde e permitiu que pessoas pudessem declarar sua orientação sexual ou sua identidade de gênero sem correrem o risco de serem demitidas(os), é acreditar que estas (e outras) conquistas foram dádivas de alguma mão invisível ou algum movimento político benfeitor.

Acredito que reconhecer nossos direitos e privilégios contemporâneos e admitir que não foram resultados de nossas próprias ações ou manifestações é frustrante. É admitir que nossa vida é mais fácil. É admitir que houveram pessoas corajosas, engajadas e revolucionárias antes de nós. E admitir isso é colocar em dúvida nossas próprias ações e posições até aqui. É também reconhecer que talvez não tenhamos feito tudo que poderíamos ter feito. É aceitar que talvez, e só talvez, muito da situação política e retrocesso que acompanhamos na TV tem relação nossa letargia e comodismo.

Junho talvez fosse um momento de comemorar, vestir algum adereço com arco-íris e festejar as conquistas da “nossa comunidade” até aqui. Mas talvez seja um pouco difícil fazer isso, e ignorar que pessoas trans e travestis ainda não tenham empregos formais. Ignorar que travestis, mulheres lésbicas, cis e mulheres trans ainda sofrem com a misoginia e o machismo por parte dos próprios homens gays e bissexuais. Ignorar que muitas pessoas LGBTI+ negras ainda são vítimas do racismo (discriminação física, assédio, hipersexualização, desumanização e exclusão) , que pessoas LGBTI+ brancas também contribuem.

Gostaria de poder comemorar este mês, apesar da situação da Pandemia e da Quarentena, no entanto, acredito que este seria um momento para respirar e admitir que precisamos admitir nossos problemas dentro dessa “comunidade” e reconhecer nossas (in)ações até aqui. Aceitar que precisamos recuperar e aprender com o passado, com aquelas(es) que enfrentaram barreira para que nós pudéssemos hoje ter o privilégio de escolher ou não “militar”, escolher ou não se manifestar contra discursos opressores e moralistas.

Com meus amados e estimados Péricles, Anderson, Johnny, Marcelo, Maya, Rose e tantos outros que conheci no Instituto Pró-Diversidade (e que tenho uma saudade imensa de conviver mais de perto, devido a pandemia do Covid-19), aprendi muito sobre diversidade a diversidade de fato. E nessas relações e redes que aprendemos que não se constrói lutas e movimentos sozinhos, ou dentro de bolhas. É necessário dialogar, escutar, discordar (dissentir), aceitar que existem coisas que não damos conta, admitir que alguns assuntos não nos são afim – o que não significa que não devemos apoiar -, e assim, talvez somente assim, possamos mudar alguma coisa ao nosso redor.

Assim, a pergunta que lhe faço é, COM quem você tem dialogado e COM quem você quer dialogar?

4 respostas

  1. Pode parecer óbvio, mas a relação a dois, passa pelo conversar e consenso! Tive um colega de trabalho que nunca haviamos paquerado, embora a gente se entendeu bem, durante o periodo em que trabalhamos juntos! Recem divorciado, percebi ele buscando marcar viagem, ai sugeri viajar comigo, quartos standart sempre traz a possibilidade de cama de casal ou duas de solteiro. Ele teria que apenas antecipar as férias para poder a viagem durar mais (eu começaria periodo de férias e ai seria uma semana de viagem)! Na chegada ao quarto do hotel, ele se despindo, fui me despindo também! Ai me perguntou se eu queria, respondi se puder ser agora! Quando me percebeu acolhedor, gentleman perguntou se poderia continuar e, claro permiti continuar me penetrando! A viagem acabou ganhando status de lua de mel! Até no final da viagem conversamos justamente do contexto que nos viamos e depois passamos a nos perceber: ele me parecia hetero e ele disse nem cogitar em apenas ficarmos já que para ele eu parecia tão cishetero!

  2. Oi Michel,sinto falta de vcs,depois q conhecemos o PRO DIVERSIDADE um novo entendimento aconteceu na minha vida,agradeço pq vcs me ajudaram a enxergar minha filha como ela se enxerga(Ariel,hoje Sasha),depois disto td ficou melhor na nossa relaçao.

  3. Há sim a necessidade desse resgate aqui no Brasil, para aquém e além de Stonewall.

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