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Crítica da razão solitária

urso triste

Na parada LGBTQIAP+ de Fortaleza, no início de agosto deste ano, fui inquirido por um irmão pela tão pouca presença de ursos na cidade. Não tenho exatamente a sensação de que a cidade possui poucos ursos. Pelo contrário, não só cearenses, mas de muitas outras cidades e estados, cada vez mais os perfis ursinos tem se multiplicado. O que me parece é que de fato há poucos locais de encontro para esse grupo, na capital cearense.

Creio que isso tem relação com o perfil da cidade, do clima e da nova juventude. Outros fatores podem, e devem, ser considerados. Mas, minha percepção perpassa pelo que descreverei a seguir:

Tradicionalmente os ursos são marcados pelo couro, roupas pesadas e fortes adereços de metal. Porém, estes equipamentos não combinam com o clima local. Diferente disso, o clima praiano pede cores, roupas leves e poucos pelos, devo dizer. O que nos leva a uma segunda questão, a presença massiva de cores, lindas, belas, presentes e visíveis. Ou seja, a era dos unicórnios parece ter vindo para ficar. Logo, a marca dos ursos, fortes e rudes, ficou bem secundária por aqui.

Em terceiro, se já são poucos os locais para diversão noturna direcionada para a temática queer, menor ainda é para nossa subespécie. Os restaurantes que tem rodízios, muita comida, farta cerveja, são antes de qualquer coisa ambientes familiares. Quero deixar claro que em todos que estive presente não recebi hostilidade de nenhuma natureza. Mas, também não estão interessados a receberem um público de cervejeiros tão específicos. Ou seja, o ambiente não é convidativo para reunir a irmandade em festa e pizza.

Estamos todos dispersos, alguns se sentindo isolados – inclusive pelo fato da pandemia ainda não ter acabado. Minha proposta: circule… Existem bons lugares queer para conhecer em Fortaleza. Seja mais aberto a outras subcategorias da fauna local. E o mais importante: seja amistoso. Você pode não encontrar ursos. Mas, encontrará muitas pessoas interessantes por aí.

Foto de capa por Pixabay em Pexels

4 respostas

  1. São muitos estereótipos que norteiam o se “moldar” a outro homem: depilar ou não, magro ou não, cisgenero ou não! Numa ocasião cheguei a conversar, viajando para cidade litorânea, caminhando pela Orla, com um homem, que poderia ser chamado de “homao” mas com sunga (claro de tamanho G) e eu estava de camisa e bermuda! Dois estilos de homens que se repararam e até maroto perguntou se podia conhecer meu abdomem “na pele” levantou minha camisa alisando um abdomem que Não era tanquinho nem o dele era, mas Sem impedir durante o beijo eu repousar a mão no “frontal dele” naquela sunga que ia ficando “mais justa ali” 🙂

  2. De fato, as realidades não são iguais. Ser “bear” nos grandes centros urbanos é possível. Seria por aqui? Sempre me pergunto isso quando me chagam com verdades Rio-Sampacêntricas da realidade brasileira.

  3. Eu entendo que a tribo “bear”, apesar de evidentes adaptações ao século XXI, ainda resiste ao modelo mainstream do gay urbano: magro, mas com musculatura evidente, extremamente fashionista, urbano, depilado. Mesmo com todas as liberdades trazidas pelo tempo, que permitiu vir à luz novas identidades, o gay mainstream, por assim dizer, ainda domina como modelo estético, deixando em segundo plano outras identidades gays, como os ursos e relacionados, os muito afeminados, bissexuais e mais. É uma questão de política do uso do corpo, mas é uma questão do ambiente também. Moro no sertão cerratense, interior de Goiás, não é o lugar do couro, dos pelos e das cores fechadas. Aqui também o calor tira a roupa das pessoas e por isso uma identidade que só pode sair à noite, em uma curta estação do ano não faz todo aquele sucesso. Outra coisa que acontece por aqui também é a ausência de ambientes gays que sejam mais voltados para a comida, bebida e conversa. Todos os espaços LgBTQIA+ são de fato muito barulhentos, dançantes, pouco convidativos a quem quer outro tipo de diversão. De fato, a solidão é muito mais ambiental do que atitudinal, e eu acho injusto que nós tenhamos sempre que ficar procurando soluções específicas para problemas gerais.

    1. Excelente reflexão. Interessante pensar essa realidade em outras regiões do Brasil. Vejo alguns desses aspectos como imposições se não dialogarem com nossa costumeira diversidade.

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