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Coluna Rapha Bueno

Macacão Jeans

Raphaelly Bueno

Sou uma pessoa que gosta de tantas coisas, música, cinema, livros e arte, sobretudo a arte de perder, esta se faz tão necessária que é indispensável a nossa vida. Devemos saber perder! Não perder em um jogo e não se sentir mal, perder pequenas, às vezes grandes, coisas para que possamos prosseguir o caminho.

Ah, perdi tanto quanto posso me lembrar! Houve certa vez, em julho de 97 que perdi uma lanterna, a qual usava para iluminar o quarto à noite, quando ia dormir, fiquei triste porque ela era meu xodó, tal como um urso deve ser para a garotinha de cinco anos, mas com isso eu perdi também o medo do escuro, fazer o que?  Ainda lembro-me do meu velho macacão jeans que eu tinha, ao usá-lo me sentia tão bem, confortável e um típico menino que acha que a rua é o mundo todo! Perdi-o também, não porque rasgou ou porque ficou velho demais, mas porque cresci, algumas coisas definitivamente não são eternas, não para nós!

Mas a arte de perder é assim, perde-se um pouquinho de cada vez, devagar para não sentir, algo natural. Às vezes perde-se de forma abrupta, um corte seco que desnorteia, mas depois vemos que não foi assim tão mau, ou foi e você aprendeu algo. Lembro, que uma camisa branca que mamãe me deu em meu aniversário, ficou inutilizada após um banho de chuva, não foi só um banho, foi uma brincadeira na lama, algumas quedas e pronto, não dava para consertar, mas sabe de uma coisa, perdi o medo da trovoada!

Mas perdi também aquele senso crítico das coisas, perdi o apego exagerado às que não cabiam mais a mim, perdi o medo de perder! Perdi, ainda, a sensação de  ”infinitude”, esta é a que mais me doeu, mas eu cresci e me tornei aqueles adultos que não vêem urgência em tudo, aliás, quando se é criança tudo é muito urgente e de extrema importância. O jogo de futebol, o pique-esconde que valia o quarteirão, a brincadeira de taco, o tempo para subir no pé de amora e depois sair correndo, pois é!

Perdi um velho jeito de rir e um costume de chorar. Isto, porque papai que sempre foi brincalhão não fazia mais piada de tudo, sua presença se tornou uma lembrança saudosa, daí aprendi a rir de outro jeito, rir às vezes de tristeza e chorar de alegria. Quando me lembro do velho macacão jeans, o qual eu gostava tanto de usar, lembro-me de todas as coisas que perdi, coisas materiais e imateriais, mas me lembro como um velho saudosista de como o tempo era diferente, eu criança, bastava por o macacão e sair para brincar e já me sentia feliz, isto é uma coisa que não perdi! Da arte de perder, o tentar ser feliz pelas pequenas coisas permanece.

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