Search

Bear food

ursinho de gelatina

Recentemente fui questionado sobre a cultura bear: melhores bares, baladas… Depois a conversa tomou outro rumo: Aonde localizar roupa bear, beart…. Comida bear? Vamos com calma.

O universo LGBTQIAP+ é amplo, diversificado e algumas vezes contraditório, mas, a partir de agora, a guetificação ganhou nova roupagem. Honestamente, eu não tinha percebido que tinha chegado a esse ponto de enclausuramento: tenho que assistir filmes e seriados, frequentar restaurantes e bares, ter amigos, me vestir, calçar, comer e beber a comida bear. Essa imposição de grupo me parece significar algo: estamos nos fechando demais. A meu ver isso deveria ser opcional e casual.

Confesso que ao sair de casa, me pergunto sobre um bom restaurante, agradável aos olhos e paladar. Quando vou encontrar amigos e colegas, eles são muito diversos e gosto disso. Acredito fortemente na importância da causa, dos locais, ideias e o próprio movimento LGBTQIAP+. O combate contra a homofobia deve ser diário. Mas, me autoimpor a ter de limitar meu lazer a lugar com o selo bear de qualidade me parece diferente ao que me proponho.

Sou procurado, em alguns momentos, para conversar sobre os desafios e dificuldades em se construir relações de amizade e ou profissionais com pessoas que não pertencem a zona de conforto do meu interlocutor. O que ouço: me sinto isolado, os amigos se mantêm distante, não encontro iguais para conversar, ninguém me entende.

Vamos por etapas: Em primeiro lugar, encontrar afinidades e representatividade é realmente muito importante. Imagine-se, por um segundo, encontrar-se em meio a uma roda de conversa na qual o assunto flui; aquelas pessoas ouvem e entendem seu ponto de vista; elas compartilham experiências e vivências que dialogam com as suas. Mundo ideal. É muito bom quando isso ocorre. Da mesma forma, devo dizer, é difícil isso acontecer.

Este é o segundo aspecto: viver na expectativa de encontrar semelhantes ao ponto da representatividade se transformar em um espelho me parece ilusório. Aprendi com a História e a Filosofia que somos diferentes, fazemos coisas diferentes, temos vidas e expectativas diferentes entre uns e outros. Será que deveríamos, então, apenas aguardar e aguardar para sentar com pessoas semelhantes, que estejam 100% dispostas a nos ouvir?

Particularmente, esta não é minha experiência de vida. Morei em vários estados, trabalhei com pessoas literalmente de todo o Brasil (e de fora também). Já conversei com pessoas muito diferentes de mim. A diversidade sempre imperou nas mesas as quais sentei. Isso não me trouxe sensação de exclusão. Pelo contrário, minhas impressões, visão de mundo e expectativas não eram ali tratadas como as coisas mais importantes do mundo. Afinal de contas, tinham outras pessoas com suas histórias, feridas e conquistas. Ou seja, estávamos ali para ouvir uns aos outros. Nenhuma dor é maior que sua, e nem menor.

Minha sugestão é que todos nós nos questionemos sobre o tamanho da importância – e da exigência – em ser ouvido. Não tenho dúvidas: ser silenciado, ou não ser ouvido, é terrível. Ninguém merece passar por isso. Por outro lado, então, é preciso se perguntar como cativar pessoas. Um excelente caminho é aprender a ouvi-las. Aprendi isso desde muito cedo. Sempre fui um bom “ouvidor”. Ver o outro sempre me cativou, por isso, conheci pessoas extraordinárias.

Elas também me deram um bocadinho de seu tempo, me ouviram, e o mais importante, me entenderam. Para algumas delas sou verdadeiro oráculo (palavras delas!).

O espelho pode ser um grande aliado. Mas, é preciso saber entender quem é você no mundo. E o mais importante: não se limite ao macarrão com queijo bear, se permita conhecer pessoas e suas incríveis histórias. Elas farão o mesmo por você.

Foto de capa por Pixabay em Pexels.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *