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A Universidade Pública existe para Todos?

Hoje passando pelo twitter vi um post que dizia algo relacionado com o que um professor teria feito de mais humilhante para você e isso me levou a pensar em minha trajetória pela Universidade de Brasília, vulgo UnB. Eu vejo uma parte boa de ex-alunos contando sua experiência formidável com a universidade, como foram anos de ouro e suas experiências maravilhosas com a instituição e achei que esse seria o momento ideal para falar sobre a minha experiência e de alguns colegas com quem tive contato no decorrer do curso que vão completamente na contramão dos relatos positivos.

Quando entrei na UnB em 2015 eu fiquei muito feliz de ver meu nome ali, era um sonho entrar para a universidade gratuita para um curso que eu tinha muita vontade de fazer. Eu já tinha tido uma experiência com faculdade particular e não tinha ido muito bem, tanto que não cheguei a finalizar o curso e agora eu não teria despesas com estudos e ainda estaria entrando em uma universidade extremamente conceituada, como ficar triste com isso? Quem diria que essa felicidade não duraria.

Fiz a matrícula, tudo certo, recebi a grade horária e já começaram os problemas. Como eu trabalhava, havia uma das matérias que não poderia fazer naquele horário, então tive de ir na coordenação do curso para mudar já que calouros não podem retirar ou adicionar matérias. Acreditei que não duraria tanto por lá e fui pela manhã antes do trabalho, mas havia uma fila imensa para falar com a coordenação do curso e não poderia esperar pelo período da tarde. Por sorte um dos alunos na fila me informou que eu poderia fazer isso no balcão e consegui fazer a mudança sem muitos problemas.

Essa foi só a primeira vez que passei por dois grandes problemas que seriam recorrentes: A falta de informação em meios oficiais (Pelos funcionários eu fui indicado a falar com a coordenação ao invés de ir no Instituto e falar com alguém por lá) e a impossibilidade de acessar a coordenação do curso devido a falta de tempo (Houveram vezes que eu cheguei super cedo, era um dos primeiros, e ainda assim não conseguia ser atendido a tempo por sabe-se lá qual motivo).

Por muitas vezes eu ficava perdido para encontrar meus locais de sala porque mesmo os funcionários não tinham ideia de onde era o prédio onde eu deveria estar. Eu tinha que perguntar para um bom número de pessoas sobre as coisas e tentar juntar informações para chegar nos lugares, sorte a minha que como sou perdido na vida consigo fazer isso muito bem. Mas ser perdido na vida leva a você a se atrasar em alguns momentos da vida e isso leva a um outro problema, o ego dos professores.

Você deve está ai me perguntando como um atraso pode levar a problema com o ego de professores, pois eu vou explicar, alguns professores tinham grandes problemas com atrasos de alunos e não poupavam nas humilhações para mostrar isso. Imagina regredir para tempos em que eu estava na primeira ou segunda série com a professora me dando um longo esporro por me atrasar após o recreio, só que agora eu tinha quase 30 anos e não tinha feito por querer? Ou mesmo levar falta porque mesmo depois de levar uma declaração de que eu trabalhava e por esse motivo eu me atrasava, o professor decidir que eu tinha que levar falta, pois não estava lá para responder a chamada? Pois é, coisas que tive de passar ouvindo comentários de que eu era um irresponsável e que não levava a o curso a sério porque atrasei 5 minutos, justo eu que muita das vezes saía correndo do trabalho feito um desesperado para poder assistir aquela aula.

Certa vez um professor decidiu que ao invés de somente entregar a prova e nos deixar consultar nossas notas, a melhor ideia seria expor o que seria uma média no quadro de como foi o desempenho de todos os estudantes. O resultado foi o seguinte quadro:

  • 80 a 100 – X alunos
  • 60 a 79 – X alunos
  • 50 a 69 – X alunos
  • 39 – 1 aluno

A sala tinha poucos alunos, boa parte já se conhecia do curso, não precisou pensar muito vendo as notas de todo mundo para saber quem tinha tirado a tal nota baixa. Bom, não preciso dizer também que o felizardo foi eu. No dia eu fiquei tão pasmo com a exposição desnecessária que eu mesmo falei antes de todo mundo precisar fazer as contas, não que estivesse meio que óbvio. Depois de desistir dessa matéria eu precisei retornar nela mais uma vez, ela é uma obrigatória do curso, e era ele novamente (Um outro problema que temos é esse, mas falo dele mais tarde), dessa vez pensei em só assistir essa aula e deixar de lado a primeira experiência, mas nem tudo são flores e quando ele mandou um papo coach de que a gente não deveria pegar estágio pelo dinheiro, mas sim buscando algo que a gente goste eu não dei conta e tranquei a matéria pelo bem da minha saúde mental. É muito o fim da picada uma pessoa com privilégios financeiros e sociais que ele teve, pois contava as histórias, vir com esse papo com pessoas tendo de correr atrás para garantir o próprio sustento, inclusive acredito ser um desrespeito tamanho, por isso optei por não continuar ali.

Lembra sobre o professor que se repetia na mesma matéria que falei antes? Hora de falar disso. Um dos grandes problemas que tinha era com horário das aulas, eu já era professor de inglês há algum tempo, então eu tinha um horário bem maleável, o que me ajudava, mas não tanto assim. Quando falo que um professor para uma matéria era um problema ele vem de encontro a isso. Algumas das matérias só tinham disponibilidade em um horário específico e por vezes em um semestre específico, ou seja, eu precisava organizar toda minha agenda para fazer essas matérias, mas por vezes não tinha aulas disponíveis no trabalho nos outros horários vagos, o que diminuía minha renda financeira por conta de uma indisponibilidade de mais de um horário para essas matérias. Fora o fato de que encarar alguém com quem você tem resistência e acha a didática horrível não ajuda no aprendizado, infelizmente certas coisas jamais consegui absorver direito.

Não foram uma ou duas vezes que eu testemunhava humilhações públicas com alunos, algumas tão constrangedoras que me davam náuseas de tão absurdas e terríveis. Longos e ofensivos sermões porque uma pessoa mais tímida não soube argumentar por estar nervosa , comparando-a a pessoas extrovertidas e com menor dificuldade de falar para o público, ausência total de sentimentos de professores que ao verem seus alunos comentarem que estão com muita coisa, se eles não poderiam diminuir a carga ao menos um pouco e a resposta era “Se veio cursar isso aqui, tem que aguentar o que EU tenho para oferecer”, por vezes uma vontade voraz em destruir qualquer estudante que passe pelo caminho apenas porque teve um dia ruim, dentre muitas outras coisas.

Não vou dizer que foram apenas coisas ruins, tiveram excelentes profissionais, docentes que se preocupavam com os estudantes e muitas vezes faziam o possível para desafogar o peso de tantas coisas para finalizar, mas devo dizer em primeiro que esses são raros casos e que felizmente pude ser grato a eles e dizer isso com todas as palavras. Por fim eu posso dizer que se você pensa em cursar uma universidade pública (Se ainda as tivermos devido ao cenário atual) não se assuste com minhas palavras, mas talvez seja bom repensar uma possível relação perfeita.

Foto de capa por Pixabay em Pexels.

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