A pessoa que amava de menos

Houve uma vez quando criança que matutei sobre o que era amar. Lembro-me de amar desenhos, comidas, brincadeiras, mas amar outra pessoa, o que era? Algum tempo depois pensei amar uma colega de escola, eu achava-a muito bonita, mas, hoje em dia, posso dizer que não era amor, era uma admiração pela coleguinha que eu achava muito bonita.

O tempo passou e a adolescência chegou. Passei a entender o que era amar com pessoas mais próximas como meus pais e irmãos, mas o amor romântico que tanto falam, creio que ainda não tinha compreensão nenhuma. Até que conheci uma outra colega de sala, acho que passei a gostar dela por me tratar bem ao contrário de uma boa parte da minha sala, achava-a muito bonita também, mas sinceramente? Não sei dizer se o que tinha era uma simpatia ou se havia uma paixão mesmo.

Boa parte do tempo eu nem me recordava de que ela estava na minha vida, mas ao vê-la eu tinha certo constrangimento. Até hoje me pergunto senão só emulava o que via em filmes e novelas, talvez né? Houveram outros amores, mais amizades do que românticos, e alguns que achei serem românticos era só eu inventando para ser aceito com a galera, todos adoram uma história de amor gente, principalmente com seus amigos.

A fase escolar se foi e com ela toda essa preocupação com amar alguém. Minha vida era bem pacata nesse sentido, até que finalmente apareceu a pessoa que me mostrou como era amar. Se eu pudesse eu passaria horas, dias, meses, anos, apenas conversando com ela, e por muito tempo foi exatamente o que fizemos, até que um dia, PUFT, ela sumiu da minha vida tão rápida quanto entrou e assim como me mostrou o que era amor, ela me mostrou o que era sofrer.

Nesse meio tempo eu gostei de outras pessoas, algumas deram certo por um tempo, outras sequer chegaram a ter algo, mas pouco a pouco aquela perda foi pouco a pouco se tornando uma parte de mim. Achei que depois daquilo nunca mais teria algo assim, mas a vida é uma caixinha de surpresas não é mesmo?

Em uma festa, ao som de uma música sobre decepção amorosa, eu senti a chave mudando no coração em meio a um beijo voraz. Bom, apesar de manter um bom relacionamento também não foi dessa vez, e apesar de ter aquele sofrimento básico, sendo a segunda vez, eu fui capaz de lidar bem melhor.

Aí veio ele, a personalidade meio distante, mas eu achei um fofo logo que vi. Com ele as coisas foram indo aos poucos, nada muito avassalador e conturbado como nos outros casos. Gradativamente as coisas iam crescendo, mas com ele a coisa sempre teve de ser um pouco menos intensa, coisas da personalidade dele, embora eu o ame desse jeitinho.

Agora eu achei que em meio a tão poucos amores, eu tinha achado que seria o lugar seguro, mas novamente, a vida é uma caixinha de surpresas, eu não canso de repetir isso.

Quando ele apareceu eu odiava o seu jeitinho de quem quer fazer o mal feito, mas ainda ficar com cara de bom moço. Essas coisas me irritam muito, vocês não fazem ideia, mas pouco a pouco a coisa foi mudando tendo como ponto de reviravolta a vez que arrastei o nome dele na medina. Veja só, de uma humilhação pública nasceu um sentimento que até hoje se perpetua e cresce.

Acharam que acabou? Pois acharam errado. Com uma doçura e um encanto fora do comum, ele foi se aproximando e quando dei por mim já estava querendo abraçar e suavizar aquela vida que passou por tantas coisas horríveis e assim o fiz. Não me arrependo nenhum pouco.

Claro que amar tanta gente pode ser complicado, mas quando se quer, dar-se um jeito, e fui fazendo o melhor para que isso continuasse do jeitinho que está, e ainda continuo fazendo. O esforço vale muito mais, na verdade ele não é nada perto da recompensa.

Bom, a história poderia terminar aqui… Mas acredito que alguma entidade virou para mim e falou “Você vai compensar toda a jornada sem amores e vai ter todos de uma vez, se vira.” E aconteceu de novo.

Esse com certeza é o mais complicado até o momento. Quando percebi que me levei por aquela conversa acolhedora e um adorável cortejo já era tarde demais para mim. Bom, como haviam outras pessoas naquela jogada eu decidi guardar esse sentimento dentro de mim em silêncio. “O que temos atualmente já é satisfatório, não preciso de mais que isso”, disse isso para mim mesmo e guardei esse amor dentro de mim, mas para a minha surpresa não foi como as coisas foram e um dia ele se declarou.

Não vou mentir, fiquei muito surpreso, muito feliz, mas também um pouco aliviado, mesmo sabendo de todas as complicações. Alívio porque todo aquele sentimento que eu guardaria poderia ver a luz do dia, e de certa forma eu não sei se conseguiria lidar com isso novamente e sigo adicionando mais amores que com ele vieram.

Agora cá estou, muitos amores, amores de várias formas, tamanhos e jeitos. Todos com sua maneira, com suas peculiaridades, suas nuances e delicadezas, e todos me fazem feliz e muito sortuda.

Se antes amei de menos, hoje amo demais e com toda a intensidade que meu ser pode ter.

Foto de capa por Pixabay em Pexels.