Search

A Fábrica

A produção nacional de curtas-metragens é uma verdadeira fonte inesgotável de talentos e de preciosidades como “A Fábrica”, lançado em 2011 e com roteiro e direção de Aly Muritiba.

Na trama acompanhamos a visita de Lindalva (Eloina Duvoisin Ferreira) em uma das visitas ao seu filho que cumpre pena num presídio. Porém, nesta visita Lindalva se arrisca, pois deve carregar consigo um celular para dentro do local.

“A Fábrica” não cita em nenhum momento qual crime fora cometido por Metruti (Andrew Knoll), porém isto é totalmente irrelevante para o contexto da estória. Com pouquíssimas falas e somente através das expressões tanto de Knoll quanto de Eloina, percebemos facilmente a dor de uma mãe que tem um filho impedido de gozar de sua liberdade e a plena consciência de Metruti quanto ao crime que o colocou ali.

O arco dramático e o ápice, brilhantemente concebidos pela direção, não romantiza de nenhuma forma o homem que está encarcerado. Por outro lado, também não o “desumaniza”, mostrando que, o presidiário precisa cumprir a sua pena, mas, apesar do erro, tem sentimentos, como amor, saudade, dúvidas, dores.

“A Fábrica” não explicita, mas remete ao pensamento de que é necessário se debater o sistema carcerário no Brasil. O personagem interpretado por Andrew Knoll nos mostra que a ressocialização é a principal alternativa. Os presídios não devem servir apenas como depósitos de pessoas. O trabalho, tanto em oficinas, ou com agricultura, ou com artes, por exemplo, demonstram que é um acerto investir na ressocialização. É importante lembrar que, em matéria de maio de 2020 do próprio site do governo federal, os presídios brasileiros produziam mais de 1,5 milhões de máscaras por semana, além de garrafas de álcool e outros itens hospitalares (https://www.gov.br/pt-br/noticias/justica-e-seguranca/2020/05/presidios-brasileiros-produzem-mais-de-1-5-milhao-de-mascaras-por-semana).

É necessário também crer que, ao sair da prisão, uma pessoa, independente de ser ex-presidiária, necessita de uma capacitação para procurar impedir a reincidência. Em entrevista a Revista Trip, Bruno Paes Manso explica como funciona as ações de facções dentro dos presídios, aliciando presidiários que não têm envolvimento com nenhum grupo de crime organizado (https://revistatrip.uol.com.br/trip-fm/especialista-em-crime-organizado-pcc-e-violencia-reflete-sobre-cadeia-drogas-e-porte-de-arma). Não podemos afirmar com certeza sobre como Metruti iria sair da prisão, mas o curta deixa em aberto de que ele é uma pessoa inclinada para um trabalho de ressocialização, pois há muitas coisas importantes para ele fora dali.

Ao fim do filme, diante de uma grata surpresa, cabe a reflexão e o questionamento sobre a situação de milhares de presos e suas famílias, bem como o que cabe ao poder público, aplicar como política pública, um meio que faça com que uma pessoa cumpra pena e saia do presídio com dignidade.

Com todos os méritos, “A Fábrica” fez parte de 11 curtas pré-selecionados para o Oscar. Foi exibido no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e premiado como melhor filme, melhor atriz e melhor roteiro.

  • FICHA TÉCNICA
  • A Fábrica
  • Gênero: Drama
  • Ano: 2011
  • Direção: Aly Muritiba
  • Roteiro: Aly Muritiba
  • Duração: 15 minutos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *