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A Arte do Conforto Sensorial

A Arte do Conforto Sensorial

Desde que me entendo por gente, os pisca-piscas, protagonista das decorações natalinas, causam em mim um fascínio anormal. Não que faça muito tempo que eu tenha deixado a infância para trás, mas me sinto uma criança quando chega esta época do ano e a euforia de pendurá-los dentro de casa (e não fora como costuma ser) me consome de tal forma que não sossego até vê-los ligados. E há alguns dias, comecei a me perguntar o que eles tinham de tão especial que me traziam essa estranha sensação de aconchego.

Obtive a resposta pouco depois, quando fui ao quintal ter meus minutos diários de observação do céu. Empoleirada no muro com os olhos no céu escuro, me dei conta de que os pisca-piscas me traziam a lembrança de uma paixão minha: as estrelas. Mesmo que elas não sejam multicoloridas, obviamente, era como se eu tivesse um pedacinho do céu que eu pudesse realmente tocar. Desde então, comecei a refletir sobre as coisas que me traziam acalento e tentar chegar ao fundo dos motivos que levavam à essa sensação em questão.

Um outro exemplo, é que por muito tempo tive a mania de dormir com o ventilador ligado (mesmo no frio), e só parei por motivos de forças maiores (ralhação materna). Liguei-o ao fato de amar a sensação do vento soprando contra minha pele quando viajo de carro, que aliás é uma situação que tem efeito calmante e sonífero em mim. Consequentemente, eu durmo mil vezes melhor quando o mesmo está ligado. Enroscar-me nas cobertas ao assistir um filme, me remete aos tempos onde meu corpo era pequeno o suficiente para ser coberto pelo abraço dos meus pais em tardes frias onde realizávamos esta mesma atividade. Fechar os olhos no chuveiro enquanto tomo banho e me deixar ser envolvida por inteiro pela água, me lembra a sensação de estar envolta por ela em uma cachoeira, piscina, mar, rio.

São coisas simples, mas que me fizeram pensar sobre o quanto o ser humano é “bagageiro”. Cada pequena mania esconde uma história em suas nuances, e todas as minúsculas coisas que nos dão prazer foram construídas em algum momento bom da nossa vida que, mesmo que não nos lembremos, estarão sempre marcadas no nosso subconsciente e na nossa alma. Resgatar estes momentos fazendo algo que gostamos, por mais “esquisito” que seja, é uma ótima terapia, pois resgatamos também um pedacinho daquilo que nós somos, da nossa verdadeira essência.

Agora mesmo, enquanto escrevia o último parágrafo, notei que esfregava os tornozelos um do outro suavemente. Pensando um pouco mais, lembrei que amo quando minhas felinas se esfregam neles de forma manhosa para pedir comida.

E você, já parou pra pensar no que te conforta?

Por Lívia Ferreira
para sua coluna Magia Nossa de Cada Dia

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