Novembro trouxe o grande evento da democracia: eleições! Brasileiros orgulhosos que somos fizemos até piadas com o TIO SAM, já que nosso pleito ocorre de forma sistemática e segura com nossas incríveis urnas eletrônicas. E lá fomos nós exercermos nossa cidadania, eleger nossos vereadores e prefeitos na esperança de que a nova gestão seja mais eficiente que a outra. A democracia é linda, “pero no mucho”.
Antes gostaria de deixar claro, sou defensor da liberdade e não sou a favor de regimes totalitários que atentam contra os direitos individuais do cidadão e os direitos humanos. Mas é preciso fazer um exercício de reflexão sobre a democracia em que vivemos. Vamos lá!
Primeiro me incomoda o fato de que a democracia muitas vezes esteja aliada apenas ao fato de votar, e quando muito ao fato de que nossas liberdades são garantidas por leis. Contudo o ato ilusório de que temos as decisões em nossas mãos é perigoso ao ponto de formar cidadãos acomodados com as dinâmicas políticas e limitar nossa participação a isso. Além disso, as verdadeiras escolhas ocorrem em âmbitos em que não temos acesso, com isso me lembro da fala de José Saramago que dizia que a democracia em que vivemos é sequestrada e amputada, já que as ações que guiam muitos governos são tomadas por instituições que não participamos diretamente como a ONU, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e outros organismos internacionais que, todos nós sabemos, são muitas vezes instrumentos políticos de nações potentes contra outras nações. Ou seja, é uma falsa ilusão achar que temos o controle da democracia tão somente porque escolhemos nosso presidente.
Outro ponto que me incomoda é a perpetuação do poder de deputados e senadores que comandam as casas legislativas e influenciam o poder executivo. Quantos senadores nós conhecemos que estão no quinto, sexto mandato? Mais um fator é a condição de propaganda política, a saber, na cidade de São Paulo tivemos um exemplo disso com o candidato Guilherme Boulos tendo somente 17 segundos disponíveis para a propaganda na TV enquanto seu adversário Bruno Covas contava com mais de 4 minutos. Isso é justo ou será que fere o conceito de isonomia política? Pois é! E quando pensamos nas empresas bilionárias que “doam” (eu digo que investem na verdade) para seus candidatos? Tudo isso são fatores que influenciam no processo político e têm resultados nas vidas dos cidadãos.
A democracia na teoria é uma coisa realmente bela, pois indica o óbvio: todos são iguais perante a lei, têm direitos e deveres. Na prática ocorre outra coisa e isso já começa durante o processo eleitoral. Por isso penso que é importante e necessário repensar nossas democracias e refletir sobre tudo, para construirmos novos caminhos… Afinal tudo se discute.
Por Raphaelly Bueno,
para sua coluna Contraponto