Quase não falo diretamente de política partidária aqui nesse espaço. Talvez porque seja um assunto para o qual a minha opinião não é muito importante. O que mais se pode, na Internet, é ler notícias, reportagens e opiniões sobre política. Todas muito bem fundamentadas. Assinadas por pessoas com gabarito e credibilidade. No entanto, acompanhar as notícias atuais me faz querer comentar algo. Coisa que me incomoda porque eu moro nesse país cuja democracia ora se apresenta forte, ora frágil demais. Não podemos dormir no ponto, quando o assunto é política no Brasil.
Ontem e hoje, muitas notícias do dia-a-dia assaltaram minhas redes sociais. Para piorar, li no jornal que eu assino uma manchete sobre. É que o governador Romeu Zema, de Minas Gerais, um dos herdeiros mais razoáveis do bolsonarismo no país, sugeriu criar uma frente política envolvendo a região Sul e o Sudeste para enfrentar o Nordeste petista nas eleições. Quem entende de política brasileira sabe bem do que eu estou falando. O bloco político perdedor das eleições se ressente do resultado. E procura culpados para a situação política que atravessam agora.
Além disso, um movimento de justiça e investigação devassa várias ações bolsonaristas. Esses esforços reúnem ações da Polícia Federal, algumas CPI e ações do judiciário. O ex-presidente Bolsonaro tenta criar uma coalizão de direita e levantar alguns nomes para as próximas eleições. No entanto, ele voltou desmoralizado e a sua situação só piorou depois que foi julgado inelegível por seus ataques à democracia e ao processo eleitoral brasileiro. No entanto, ele é ainda o herói de um grupo conservador do país que não cessa de gritar por seu nome.
De fato, o grupo que Zema propõe como solução para enfrentar a “esquerda brasileira” surfa no bolsonarismo. Mas dificilmente repetiria todas as ações do governo do “Mito”: negacionismo, postura antivacinal, desleixo econômico, destruição dos biomas por ações de agricutlores e garimpeiros, além de outros tantos absurdos.
Dificilmente o grupo do Sudeste e Sul que Zema convoca criaria um neobolsonarismo predatório, assim como foi o primeiro. O resto do país reagiu com descrença e críticas vorazes a isso. Para governadores do Nordeste, isso é um discurso separatista, antigo na política dos mais delirantes do país.
No entanto, o conservadorismo tem suas marcas políticas: diminui a atenção aos mais pobres, sucateia a saúde e a educação, privatiza serviços que o poder público tem obrigação de manter. Além disso, o conservadorismo abre espaço para que grupos religiosos legislem e influenciem, pela política, na cultura e bem-estar dos cidadãos de maneira muito agressiva, predatória até.
Outrossim, o conservadorismo aumenta o poder das polícias militares, aumenta a violência policial, combate o crime de maneira seletiva e insuficiente. Isso tudo sem falar que, no Brasil, o cerne da política conservadora mantém relações espúrias e diretas com grupos criminosos. Talvez porque os representantes dos principais grupos de criminosos, assim como os religiosos conservadores, escolham as mesmas legendas para se filiarem.
Por fim, Eduardo Leite, o único governador gay do país, mostrou a que veio. Seu flerte com o bolsonarismo, o conservadorismo e a direita continua. Apoia totalmente Zema nessa nova falange política. Isso significa que orientação sexual não significa orientação política e nem consciência. Leite apoia aqueles que acha que vão apoiá-lo, no futuro, nos seus projetos pessoais. Não há empatia com pessoas LGBTQIA+, nem ao menos com mais pobres.
De fato, ao dividir o Brasil em duas metades, esses políticos acirram a luta de ricos contra pobres. Esquecem-se de propósito do Norte e do Centro-Oeste. Talvez porque achem qus sejam apêndices do Nordeste e do Sul-Sudeste, respectivamente. Talvez porque não tenham se atentado a respeito do que falam. Nem conheçam o país que querem um dia governar. É muito complexo. Mas, ao mesmo tempo, é simples.
De fato, tudo na política brasileira tem a ver com classe social. O problema é que a população nem sempre vota correto e prefere eleger seus inimigos. E isso acontece porque a política, aqui no Brasil, é um ofício dos mais ricos. Os mais pobres nem sempre se sentem representados. Quando alguém mais pobre chega no poder, essa pessoa claramente se aburguesa. Ela se afasta dos campos, das ruas, das fábricas. O político, mesmo vindo da pobreza, passa a habitar os carpetes e cadeiras dos gabinetes.
Então, não dá para cobrar dos eleitores muito, a partir disso. Talvez o que tenha mais marcado a nossa política, é que, depois de mais de três décadas, o povo já saiba comparar. Viram a diferença entre governos de ricos e o governo de um partido formado por mais pobres. Mesmo que seja um partido que joga também o jogo da burguesia. A social-democracia do PT agora luta para se consolidar no poder. Tudo contra um conservadorismo assassino, mortal, destrutivo.
Eu acredito que os próximos conservadores serão mais palatáveis ao voto do pobre. Serão mais bonzinhos, menos agressivos, prometerão mais. Provavelmente o grupo dos mais ricos não terá novamente outra chance de criar situações políticas que levem a novos impaachments. Ou condenações de líderes para gerar inelegibilidade. Mas o conservadorismo toma essa dose do próprio veneno. Bolsonaro está inelegível, sem força e os nomes mais fortes para substituí-lo são claramente de pessoas que odeiam os mais pobres.
Até que tenhamos uma nova eleição, daqui a três anos, provavelmente as coisas já terão mudado muito. Tudo pode acontecer. Mas espero que o país não esteja rachado entre Sudeste e Nordeste. Espero que os mais pobres tenham vez e voto. E que os melhores, com as melhores propostas, vençam a eleição. Porque está difícil acreditar na política. Precisamos de acreditar mais, de ver mais obras e práticas que mostrem que nós poderemos ter vez e voz.
Até lá… Espero o melhor.
Por Alex Mendes
para sua coluna O Poder Que Queremos
Capa:Imagem de Ylanite Koppens por Pixabay