Sabe quando estamos assistindo a um filme e diante daquela cena final prendemos a respiração de tanta expectativa esperando a resolução da trama? Acho que estamos todos assim neste final de ano, desejando o fim de 2020, de um ciclo, e esperando um novo começo melhor e mais esperançoso. E com a chamada Era de Aquários iniciando este desejo fica ainda mais intenso.
Talvez a mudança não venha assim da noite para o dia, na verdade ela não vem, mas sim em um processo de transformação que requer também o esforço de cada pessoa para uma mudança significativa. Encerrar ciclos e iniciar outros é sempre um ato de luto e de renúncia, deixando para trás o que deve ficar e abraçando o novo que chega. E como isso é importante!
Daí me lembro da canção de Gil, DRÃO, que na verdade narra a separação e os traumas de um casal. Mas existem tantos ensinamentos nesta canção que seu significado ganha outros sentidos e aprendizados. Ressignificamos a cultura de acordo com nossas experiências e vivências, por isso mesmo reflito muito sobre esta canção em outro ponto de vista, sobretudo uma frase em questão “morre, nasce trigo. Vive, morre pão”.
Esta frase que beira a metafísica me faz pensar na transcendência da vida e de seus momentos e etapas. Não sei se já ouviram algo como nascer é morrer para uma vida? Significa que deixamos a vida do útero, única e interligada a outro corpo (o que nos torna um), para entrarmos em uma nova vida, a nossa própria, divisível daquele outro corpo que habitávamos. É muito filosófico, mas acho interessante pensar assim.
A música de Gil me diz algo parecido com isso, é um processo de ressignificação dos ciclos em nossas vidas, nunca é um final, sempre um recomeço. Sempre uma nova jornada com novos ensinamentos. Se eu disser que estou nesta vibe, estou mentindo, mas gosto de refletir sobre isso e assim se torna também um processo de amadurecimento. Preciso e quero pensar assim porque acredito nisso.
Portanto, é preciso um esforço próprio, reconhecer nossas dores e apreensões, nossos momentos ruins e seguir por aquilo que sabemos que nos é bom. Então neste fim de ano devemos pensar dessa forma: como grão que “morre, nasce trigo. Vive, morre pão”.
Por Raphaelly Bueno,
para sua coluna Contraponto
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