Um desabafo não tão curto assim

Ultimamente tem sido cada vez mais difícil sentir ânimo para fazer qualquer coisa que não seja dormir e dormir de novo sabe. Acho que o ápice do meu desgosto pela vida e pelo mundo veio de uma coisa que ninguém poderia imaginar, um jogo de celular. Mas acho que começar do fim e ir para o começo não vai fazer sentido, então vamos voltar para onde a primeira chama do incêndio começou.

Já vem de um tempo que a comercialização de tudo e todos vêm me deixando muito frustrado com a vida. Tipo, eu escrevi um texto sobre 15 milhões de méritos em que tudo vira mercadoria e agora a distopia parece cada vez mais próxima de mim e não sei se consigo viver desse jeito. Você abre um app, começa a achar legal, daqui a pouco tem que pagar para fazer praticamente tudo, incluindo tirar propaganda. E não falo de app independentes que precisam disso para manter os serviços, eu falo de app que já é grande, mas que não se contenta com o que tem e quer cada vez mais.

Se acha que isso é coisa da minha cabeça, calma que exemplos eu tenho a rodo. Youtube e seus milhões de comerciais, Amazon Prime que agora tem propagada no meio, Netflix que foi de “Share is caring” (Compartilhar é amor) para “Se quer compartilhar sua senha, vai ter que pagar mais viu?” Duolingo, Spotify dentre outros. São companhias multimilionárias, algumas bilionárias (Né amazon nojenta) que nem precisam dessa grana, mas que fazem só para encherem mais os seus bolsos (Ia dizer outra palavra, vou deixar para o seu imaginário) de dinheiro enquanto a gente da classe trabalhadora precisa se virar nos 30 para ter um mínimo de entretimento no pouco tempo livre que temos.

Como disse no começo, hoje em dia tudo vira produto. Você tem um hobby? Opa, que tal tornar ele dinheiro? Nossa, olha esse talento que você tem, como será que podemos tornar ele financeiramente rentável? É como se não pudéssemos ter nem mesmo alguma coisa para nos distrair sem que cogitemos tornar isso rentável. Deusas, até mesmo fetiches sexuais viraram grana nessa vida com os sites de pornô “amador” (Porque hoje em dia até isso fica cada vez mais engessado, já que para de fato lucrar precisam de muito conteúdo). Fico pensando em como a tal liberdade que esses lixos da direita dizem que existe nesse sistema de bosta chamado capitalismo funciona, porque honestamente, o que percebo é que cada dia temos nossos passos e ações mais e mais restritos. Claro, se você for muito rico, liberdade não deve te faltar…

Agora vamos ao ponto que eu mais odeio desse sistema e sociedade doente para caramba, o ponto que me levou a um nível de frustração, tristeza e depressão que não cabe em mim… A meritocracia. Não é segredo para ninguém com dois botões que essa porcaria é uma das maiores farsas existentes no capitalismo, mas acho que muita gente se apega na teoria e precisa começar a entender como isso funciona na prática, no dia a dia mesmo e por isso vem comigo mais um pouco para você entender. Senta que lá vem história…

Eu estou atualmente jogando no celular um jogo da DC Comics chamado Dark Legion. Nesse jogo você faz uma série de coisas que podem te dar heróis ou vilões da editora para seguir em um roteiro em que o mundo foi dominado por um multiverso de trevas. É divertido, ótima distração para alguns momentos, era o que deveria ser, certo? Mas com tanto produto inflamável ao redor, tudo que precisamos é de uma fagulha para tudo queimar.

Para forçar o jogador a comprar coisas, o jogo limita bastante as formas e a quantidade que você precisa para aumentar os níveis de seus personagens, então temos aquele ser humano que tem MUITA grana para gastar e logicamente desponta fácil como o mais forte do server. Um dia um dos chats estava lá o ser e as pessoas dizendo que ele é o “Melhor” do server. Perceberam que eu usei a palavra mais forte e não melhor? Eu digo o porquê disso agora. A pessoa mete um monte de grana, aumenta o poder de batalha, quando tem alguma dificuldade é só meter mais grana que voilá, atropelou com facilidade. Enquanto que pessoas como eu que jogam sem cacife financeiro fazem artimanhas, estratégias, checam posicionamentos, pensam em times para diversas dificuldades, ou seja, que jogam de verdade, somos facilmente superados por uma pessoa que paga e pronto… Temos o Top 1, BEST PLAYER do game.

E pessoal, isso está em toda a parte! No seu trabalho quando um cretino branco e hétero que tem papai rico fala com o amiguinho igualmente rico dele e agora ele é seu chefe não tendo nem 10% da sua competência. É em competição esportiva em que aqueles com melhores patrocinadores e investidores vão muito provavelmente ganhar todas e atletas com garra, que treinaram em seu máximo com muito pouco sairão com mais uma frustração e possivelmente verão o limite alcançado, não de suas habilidades, mas de suas condições e irão desistir. É nas artes em quem tem nome prestigiado tem acesso e facilidade enquanto pessoas extremamente habilidades, com amor e paixão pela coisa, estão em trabalhos braçais tendo seus sonhos destruídos por não terem como conseguir fazê-los acontecer, pois tem de comer e isso são apenas poucos exemplos, ao seu redor e provavelmente você se encaixa em algo similar.

Eu já ouvi inúmeras vezes que eu sou um “desperdício de talento” porque não investia em certas coisas das quais eu gosto muito de fazer, mas que não tive tempo ou oportunidade porque não tinha dinheiro, seja para estudar em locais e aprimorar, ou porque eu tinha que procurar emprego e assim eu fazia. Querer eu queria, mas sem dinheiro não tem como fazer acontecer e hoje eu estou cansado demais, velho demais, frustrado demais, para acreditar e tentar fazer acontecer.

Para se ter uma ideia eu tenho um monte de temas para textos e até vídeos que já escrevi roteiro como por exemplo “Lovely Complex” (O mangá), um comparativo entre a peça de “O Fantasma da Ópera” e o livro que terminei a leitura recente, um filme que vi chamado “The Man in a White Van”, uma série chamada “Urban Legends” e assim vai, um monte mesmo, mas só de pensar em fazer e isso não resultar em algo financeiro eu já entro em pane e desisto de fazer.

Eu já sou uma alma despedaçada pelo capital, não tenho muito mais jeito, mas existe uma coisa que não se apaga dentro de mim, e é o desejo de revolução. Então eu imploro para você que está me lendo até aqui, se você como classe trabalhadora entende em que ponto você está e assim como eu quer ver isso cair, vamos nos juntar, nos organizar, vamos criar grupos fortes, sólidos e juntos seremos muito mais fortes. Podemos fazer isso acontecer e começar uma fagulha de uma revolução que pode não nos favorecer tão cedo, mas que para nossos filhos, sobrinhos, para os que amamos e terão de viver nesse futuro possam ter aquilo que muitos de nós não tivemos, oportunidade de fazer o que assim desejar.

Foto de RDNE Stock project no Pexels.

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