Sonho, O teto e a mediocridade

Na madrugada de sábado para domingo eu tive um estranho sonho. Nele eu ia visitar um amigo que morava em um ponto muito alto e eu tinha que subir por várias escadas para chegar até ele. Eram escadas bem amplas, mas haviam para várias direções e eu subia sem saber muito a direção, apenas seguindo o que me falavam e um pouco do instinto.

Chegou uma parte do sonho em que eu fui levado em uma sala e de lá uma pessoa me dizia para eu ver a vista da janela ali próxima. Embora a janela fosse muito grande e amplas, eu precisei ir para uma posição estratégica para ver uma linda lua no céu. Ela brilhava perfeita e era muito maior do que normalmente conseguimos ver, mas ainda assim haviam construções que atrapalhavam uma vista perfeita. Naquele momento pensei se conseguiria ver ela sem qualquer obstáculo da casa que estava indo visitar, mas a verdade era uma só, por mais que eu quisesse eu sabia que jamais chegaria no local almejado. Tudo o que tinha de fazer era me contentar com aquela bela, mas não tão bela visão.

Em Shaman King, escrito por Hiroyuki Takei, existe uma parte da história em que os personagens do grupo principal precisam elevar suas forças e um desses personagens se chama Ren Tao. Para isso ocorrer um outro personagem passa a enfrentá-lo em uma luta, mas a diferença de forças entre Ren e seu novo oponente é demais para ele.

Após a disputa, o seu oponente, Mikihisa Asakura, conversa com os companheiros de time de Ren e diz perceber uma coisa sobre o jovem, apesar de pouca idade (Ren circula por volta dos 13 anos na história principal) e que geralmente pessoas nessa idade não costumam enxergar “o teto”, mas que Ren já havia chegado nesse estágio.

O teto que Ren enxerga nada mais é que uma metáfora para o próprio crescimento. Tao Ren agora é um adolescente de 13 anos que acredita já ter chegado em seu limite de força e poder e jamais sairá de onde está, não existe para onde crescer. Mikihisa acredita que o potencial de Ren é muito maior do que aquilo, mas o próprio jovem não consegue ver como isso é possível. Ren decide explicar como foi que chegou aquela conclusão: Toda a vez em que ele acha que se tornou mais forte, existe algo ou alguém para mostrar que ele não é tão forte assim. Não importava o quão ele lutasse e se esforçasse, a verdade era uma só: Quando achava que tinha ficado mais forte, seu potencial sempre seria esmagado de forma brutal. Por isso ele visualizou o teto, o local de onde jamais passaria.

Esses dias eu li um tuite sobre “crianças prodígios que não eram nada mais que crianças medíocres” e que deveriam aceitar esse fato o quanto antes. Dá para dizer que eu já fui uma das crianças prodígios. Aos 6 anos eu já lia e escrevia, tive uma alfabetização já na pré-escola, e quando migrei de uma escola particular de pré e fui para a pública eu fui da primeira diretamente para a segunda série.

Isso criou nas pessoas ao meu redor a ideia de que eu era muito inteligente, mas a verdade era uma só, eu só tive uma base reforçada. Por conta disso minha dislexia passou batida várias vezes, e em boa parte do meu aprendizado, principalmente com relação a matemática, já que não conseguia interpretar os problemas direito, eu já tinha noção de que as pessoas viam mais do que realmente tinha quando se tratava de mim.

Não que eu seja um incapaz, longe disso, eu tenho grandes habilidades também, mas meu leque de opções para chegar à lugares que eu queria não era tão grande como de outras pessoas que vi no decorrer da minha vida. Hoje eu enxergo bem o meu teto, eu nunca alcanço ele totalmente, mas a real é que existe um medo também, um medo de alcançar e descobrir que não vou conseguir quebrar e ver a lua brilhante de um ponto sem obstáculos.

Quando você apanha muito e constantemente, conquistas que deveriam ser celebradas se tornam apenas livramentos, ou seja, você se livrando de encostos porque ao invés de ser uma ruptura dos obstáculos, é só você tentando não apanhar mais, assim a conquista passa a não ser bem isso.

Não pensem que eu não dou tudo de mim todos os dias no que faço, acredite, eu faço, mas é difícil para mim pensar além de onde eu estou, porque a verdade é uma só, aqui eu tenho certeza, as vezes nem tanta assim, de que vou conseguir fazer as coisas e falta coragem e disposição para tentar transpor um teto que tem mais chances de me esmagar do que qualquer coisa.

 

Imagem de capa por Rahul em Pexels

Respostas de 2

  1. O grande erro das pessoas é se comparar; quem se compara: estaciona! É aquela questão do ônibus e avião que nos levam ao mesmo destino, mas cada passageiro viveu uma História! Não é tão raro eu perceber pessoas em comparação comigo. Assisti a um vídeo, em que a mulher (cito o gênero pela racionalidade do raciocínio que ela compartilhou e sou de uma geração da mulher maternal no seu dia a dia). Ela comentou da piedade de muitos para ajudar a todos sem aplicar “o filtro”! Será que se você poder ajudar, merecera ser ajudado quem fica sentado, assistindo TV e podendo “ir a luta” e não vai!!!?

    1. Então, entendo a sua linha de pensamento, mas discordo porque por mais que não queiramos, o sistema em que vivemos nos coloca sempre em comparação, ou seja, a comparação é extremamente naturalizada e por conta disso nos colocamos nesse quadro até quando não queremos. Sobre poder ajudar ou não, acredito que o filtro ou a ausência dele sempre vai ser mais pessoal do que qualquer outra coisa. Eu posso achar aquela pessoa merecedora e você não. Obrigado pelo comentário.

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