Quando pensamos em diversidade, viajamos em direção a um portal multicolorido, repleto de liberdade, afirmação e contentamento. Sinto como um sonho agradável que não queremos acordar, mas infelizmente acordamos e nos deparamos com a realidade. Tive uma infância saudável e amorosa ao lado dos meus avôs maternos na cidade de Americana, interior do Estado de São Paulo. Recordo do abraço que transmitia segurança, da ternura do meu avô em preparar as comidas que eu mais amava, era como se o mundo fosse perfeito…
Iniciei minha transição aos 16 anos e junto dela veio a inquietude e incerteza do que eu iria vivenciar a partir desse momento decisivo, privilegiada por ter uma família que me acolheu, edificou e me fez ser o que sou hoje, uma mulher forte. Mas ainda assim, eu me questionava sobre o preconceito social que viria em diversas linguagens, uma delas foi; pessoas trans/travestis têm direito a sentimento? Podem vivenciar relacionamentos duradouros e expostos?
Hoje consigo melhor interpretar a sociedade, o quão hipócrita ela é, e cheguei à conclusão que pessoas trans/travestis sofrem com o isolamento social para além de uma pandemia, no qual estamos vivendo agora. Somos corpos reclusos ao amor, saúde, cultura, educação, somos a margem que deve ser eliminada pela sociedade.
Vivemos no país que mais mata pessoas trans/travestis e também o país que mais consome pornografia transexual, que nome podemos dar a isso? Somos os corpos agentes sexuais que servem um sistema hegemônico, machista, sexista e opressor. O país que fomenta a imagem sexual é o mesmo que oprime e faz com que a sexualidade seja ocultada na caixa conservadora fundamentalista. É impossível falar de nossas vivências sem ponderar as dores, mas delas tiramos força para enfrentar a desconstrução.
Até quando permitiremos estar no sigilo? Qual o risco que se corre em demonstrar afeto por um corpo dissidente? Sua felicidade pode estar naquilo que você não permite assumir e viver, já parou para pensar nisso? Continuarei a carregar essa incerteza em relação ao isolamento social do afeto devido a nossa existência, seja no âmbito familiar, profissional e amoroso. Hoje focamos nossa energia em outras atividades para que possamos anular nossos sentimentos, mas saibam que sentir é necessário e saudável para evolução humana, estamos aqui para sermos intensos, formidáveis, plurais e empáticos. O amor é o sentimento mais puro que podemos ter, nele criamos força para resistir e existir, e vibro incansavelmente para que se quebrem todas as barreiras de preconceito e intolerância para que possamos viver a tão sonhada liberdade. E você ainda tem um desejo proibido?
Para ver mais textos de Paola Valentina Xavier, confira sua coluna Paola COMVIDA.
Foto de Adonyi Gábor no Pexels
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