Se essa rua fosse minha, eu mandava eternizar

Por acaso alguém já teve curiosidade sobre os desenhos das calçadas diferentonas por onde passa?! Quando era criança e passeava pelo centro de São Paulo com a minha mãe, achava lindo aquelas calçadas cobertas com “bandeirinhas” do mapa de Sampa. Ficava encantada, mas nunca me disseram a história por trás delas. Na verdade, naquele tempo nem sabia que aqueles “quadradinhos” tinham tanta história.

Passei por alguns calçadões famosos espalhados pelo Brasil, mas você sabe quem criou o nosso?! Cada um tem as suas peculiaridades, mas aqueles contornos geométricos em P/B espalhados pela cidade viraram símbolos que estampam camisetas, canecas, chaveiros, cartões postais, entre uma infinidade de acessórios.

Essa criação genial foi da artista plástica Mirthes Bernardes. Nascida dia 10 de agosto de 1934, em Barretos, como Mirtes dos Santos Pinto. Formada pela PUC, também era pedagoga e assistente social. Em 1965, participou de um concurso cultural referente à padronização das calçadas. Na época Mirthes era desenhista da Secretaria de Obras e se inscreveu no concurso, sem pretensão alguma, ficou entre os quatro finalistas e venceu.

Sua inspiração foram as ondas do calçadão de Copacabana, mas como na selva de pedra não existe praia, ela pensou imediatamente no formato do Estado. Ganhou o concurso com um esboço bem simples que foi nomeado de “piso paulista”, mas não ganhou nenhum centavo ou direitos autorais pelo feito. Após a vitória, o calçamento estampou primeiro a Avenida Faria Lima, em seguida as Avenidas Amaral Gurgel e a tradicional Avenida Ipiranga com a Avenida São João.

Dona Mirthes continuou contribuindo artisticamente em vários projetos importantes para a nossa cidade. Em 2007, foi homenageada no samba enredo da Mocidade Alegre e anos depois ganhou uma exposição no Sesc 24 de Maio.

Infelizmente, a artista faleceu no último 18 de dezembro aos oitenta e seis anos e nunca teve seu devido reconhecimento. Lamentável!

Seu piso tão representativo ficará eternizado apenas em nossa memória, pois estão os substituindo por concreto. Deveria virar patrimônio histórico, mas por aqui quando o calçamento se torna desigual ou mal conservado, a Prefeitura tem o aval para fazer a troca, como forma de aumentar a drenagem. O “piso paulista” não sendo tombado é facilmente substituído, uma vez o município não se responsabilizando por eles.

Quantas histórias e representatividade estão sendo lentamente apagadas pelo concreto cinza?! Inúmeras!

Obrigada Dona Mirthes! Você não teve a sua devida recognição, mas jamais esquecerei das inúmeras vezes que brinquei de pisar somente naquelas “bandeirinhas” pretas segurando na mão da minha mãe durante aqueles passeios divertidos pela cidade. Acredito que milhares de pessoas também não esquecerão!

Muito obrigada por embelezar a nossa cidade!

Respostas de 2

  1. Concordo com o texto, realmente não foi dado o mérito que essa senhora merecia. Mas algumas pessoas terão na lembrança esse e outros fatos que praticamente ninguém dá valor ou importância.

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