Sabedoria das Ruas: Uma Experiência de Vida!

Sr. José Luiz da Silva, 61 anos, acolhido pela casa de Simeão, uma casa especial para idosos que abriga cerca de 150 homens, membro do COMAS/SP (Conselheiro Gestor do Conselho Municipal de Assistência Social de São Paulo),  é um colaborador do espaço Gasômetro (Centro de Escuta) e participante assíduo da nossa oficina Sabedoria das Ruas.

Quando se viu em situação de vulnerabilidade se dirigiu para a 14ª delegacia de polícia em Pinheiros, “O delegado me deu um encaminhamento que perdurou por 2 anos” afirmou Sr. José sobre quando conheceu a casa São Lazaro, na qual morou até se mudar para a casa de Simeão.

Sr. José Luiz já trabalhou no ramo hoteleiro, mas por problemas de saúde e após sua esposa e filha se mudarem para a Colômbia para cuidar de pessoas da família, se viu só mas não ficou desamparado.

Amante dos livros e da boa leitura, sobretudo dos livros de Augusto Cury, Sr. José  nos traz uma mensagem de tolerância e boa convivência, afirma que “Augusto Cury é uma pessoa que me chama a atenção, ele nos ensina que temos um pensamento virtual sobre as coisas e as pessoas, ao olharmos para um individuo o que vemos é o virtual e não o real”.

Assim não podemos julgar as pessoas sob o risco de errarmos, pois tem pessoas boas com aparência de má, e o pior,  as más com aparência de boa, como psicopatas e sociopatas. Destas forma esta “verdade” que criamos é ilusória, assim temos de sair do nosso ponto de vista e nos colocarmos no lugar do outro, entender porque o outro é o que é, porque sofre e o motivo de se comportar desta forma.

Para o Sr. José Luiz, temos de ter empatia, duvidar, arguir, bombardear com inteligência os pensamentos para termos mais clareza sobre as pessoas e situações que vivemos. Acima de tudo temos de sempre pensar antes de agir, pensarmos nas consequências de nossos atos, procurarmos outras soluções, inclusive o diálogo.

Como um exemplo prático, nos ensina que:

“Certa ocasião, no centro de convivência uma pessoa estava fazendo algazarra na área de estudos  e ou ouvir minha solicitação de que fizesse um pouco silêncio me falou:

– Posso te dar uma facada!

E eu respondi:

– Este não é o caminho, depois desta atitude sua como ficamos? Isto vai levar a gente aonde? A que situação?

No dia seguinte ao cumprimentá-lo, esta pessoa até me pediu desculpas.”

Numa intriga como esta, ao bombardear os pensamentos com inteligência, neutralizando o trágico, o drástico, o catastrófico e o fatal, uma nova realidade mais “real”, pode ser vislumbrada, trazendo a paz e a boa convivência.

Temos de saber lidar com estas situações de conflito e reverter sempre. Temos de entender que muitas vezes os outros uma vez expostos e fragilizados, acabam recorrendo à violência contra si mesmo e contra aos demais. Temos de romper com esta trama sinistra, entender que a caminhada da porta de entrada até a porta de saída, não é uma caminhada segura, é uma caminhada acidentável e como num campo minado muitos caem nas armadilhas.

Vale dizer que nos centros de acolhida e albergues somente os mais preparados conseguem sobreviver e conviver.  Encontramos pelo caminho algumas pessoas despreparadas emocional e profissionalmente, políticas públicas ruins, pessoas transtornadas, psicopatas e sociopatas sem o suporte necessário,  uma situação que também vivemos fora dos albergues e casas, mas quando estas, mesmo sendo poucas, entram  no sistema, a pressão, o contrato e a proximidade entre as todos  tornam nossas escolhas mais perigosas e delicadas.

Na sociedade  em geral as pessoas vivem mais separadas, como no ar rarefeito, e nos centros ficam mais juntas como num ar comprimido, como as moléculas se aproximam gerando muito mais situações de atrito precisamos de um melhor arranjo nas coisas do cotidiano, temos de ser bem cuidadosos, pois apesar de terem muitas pessoas boas, que são a maioria, sabemos que estamos todos numa panela de pressão, caminhando num mesmo campo minado.

Um pouco de como sobreviver o Sr. José Luiz aprendeu com a vida, mas muito ele aprendeu com os livros “livros são cartas que escrevemos para amigos que não conhecemos” os livros nos fazem pensar na vida sobre o olhar dos outros, aprender com os erros do outros.

 

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  1. O sr José Luiz é uma pessoa impar, na qual tenho uma grande admiração e dia após dia aprendo mais e mais, com os nossos debates filosóficos. Obrigado José Luiz por somar em minha vida de aprendizagem.

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