Representatividade

gordo no celular
Em uma matéria publicada na UOL mês passado acredito eu, um homem obeso que trabalha na área financeira relatou o quão difícil é fazer negócios temendo que a cadeira quebre ou que a temperatura esteja elevada ao ponto de fazê-lo suar sem parar. Para ele, se ele não fosse gordo, com certeza o montante e a quantidade de contratos assinados seria com certeza maior.
 
Ele sentia dificuldade para se abaixar e amarrar os cadarços, se trocar, se sentar confortavelmente em poltronas de cinema, ônibus e avião.
 
Ele encontrava parceiras com bastante dificuldade, apesar de ter tempo e disposição para sair.
 
Eu imagino o quão difícil é conseguir comprar roupas que sirvam para todos que usam como ele um tamanho maior que o GG hoje em dia.
 
Nós obesos somos o que? Um quarto da população brasileira? Mas viramos notícia somente quando perdemos (muito) peso ou somos engraçados ou porque podem rir da gente.
 
O cotidiano do executivo obeso deve ter passado despercebido pela maioria dos leitores, porém chamou a minha atenção por falar justamente do que deixamos naturalmente de falar. 
 
Notícias sobre novos regimes, chás emagrecedores, vida de gente magra ou de gordos que emagreceram, chip da beleza a gente lê todos os dias. 
 
Eu me pergunto em qual momento grande parte da população simplesmente aceitou não se sentir representada de maneira adequada nem ser levada a sério pelos outros.
 
Muitas lojas nem se dão ao trabalho de vender roupas do nosso tamanho, assim como muitas marcas não criam roupas para gordos. 
 
É como se o poder aquisitivo de 25% das pessoas simplesmente não importasse. E tudo isso é apenas OK para todo mundo.
 
Podem reparar, um gordo ou uma gorda com um magro é sempre mostrado como se estar com o magro fosse motivo de orgulho para o gordo. E isso é OK. O contrário nem é cogitado.
 
O trabalhador gordo é retratado como alguém engraçado porém preguiçoso, difícil de lidar se for o seu chefe. 
 
As pessoas não se apaixonam à primeira vista pelos gordos em filmes. A atração não é espontânea.
 
Quantos grandes executivos obesos a gente viu na capa de uma Você S/A ou da Veja?
 
Quantos obesos se destacaram em realities como O Aprendiz?
De quantos obesos ambiciosos e seguros de si a gente se lembra vistos em séries ou filmes ? 
 
Quantos obesos a gente conhece que se amam e todo mundo sabe que é verdade?
 
É sobre isso. 
 
Eu não me sinto representado na maioria das vezes. 
 
Acredito que muita gente se sinta como eu. E isso cansa.
 
Não quero fazer apologia à obesidade porque ela é de fato uma doença, porém gostaria que todos levassem em conta a presença de gente gorda em todos os lugares que vão, no trabalho, na escola, no bar, na praia etc..
 
A gordofobia mata de forma lenta. A invisibilidade da pessoa gorda também.
 
Será que os gordos não são como todo mundo e merecem o mesmo tanto de visibilidade do que eu que tenho um IMC normal?
 
Ser gordo não é sinônimo de ser incompetente, pessoal.
 
Em 2022 não dá para fazer de conta que todo mundo é magro ou vai emagrecer suficientemente. As pessoas são diferentes e é a diversidade que torna o mundo mais rico. 
 
Empresas, Poder Público, cidadãos em geral, já está mais do que na hora de se preocupar com uma parcela tão expressiva da população e atender suas necessidades.
 
Caro leitor, eu espero que você reflita como eu refleti.
 
Obrigado pela atenção.
 

Foto de Capa Artem Podrez em Pexels

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *