Quisera eu que o menino
desejasse minha velhice
e me comesse a carne
e me arrancasse o couro
e me roesse os ossos.
Quisera eu que o menino
ou menina, esse lugar
do afeto, amor ou sexo
quisesse minha velhice
e me contasse segredos
e me inventasse segredado
escravo servidor de dois amos.
Quisera eu que os choques elétricos
fossem da minha comunicação
com o menino a me dizer que tanto
faz se ele é menino ou menina
quando em verdade é antropófago
o gesto e antropófaga a ação
de me arrancar a carne
de me comer o couro
e de me roer os osso toda essa existência.
Quisera eu envelhecer o menino-menina
renovando-me nas sobras sobre a mesa
aquela beleza, aquela lindeza, aquela saliva
fermentando os dias da espécie humana
em decadência.
Foto de Capa por Foto de Pixabay em Pexels