Liberte-se de todas as coisas deste mundo, esta libertação vai bem além do desapego dos bens materiais
O mês de novembro vem com uma grande carga emocional, pelo menos no meu caso que faço aniversário em dezembro, acho este mês “esquisito”, começa com o dia de todos os santos (1), depois finados (2), depois a proclamação da república (15) passa pela dia da Consciência negra (20) e só se anima quando chegamos ao fim do mês com a achegada do 13o Salário tão esperado o ano inteiro para quem tem direitos assegurados pelo trabalho formal.
Assim, revirando os meus textos, encontrei este que escrevi há mais de 4 anos atrás e resolvi publicar no nosso boletim por acreditar que seja de grande valia para quem nem lembrava do dia de todos os santos, ou que ficou triste em finados, bem como após as eleições começou a questionar política mas sem entender direito o que significa “república”, pra quem se questionou sobre a existência de diferenças entre brancos e negros em um país de pardos e mestiços, quando na verdade nos parece o conflito entre ricos e pobres… , e, por final quem espera todo ano o 13o para enfim saudar algumas dívidas acumuladas durante os últimos 12 meses ou mais… e então poder fazer mais dívidas para o ano que vem, alimentando o consumo de coisas que deveriam nos fazer felizes, na pseudo fartura da matéria, mas entremos no texto direto agora, sabemos que temos de nos libertar das coisas materiais, nos desapegar pois em finados vimos que “caixão não tem gaveta”…
Temos que nos libertar também dos bens imateriais e o mais difícil nos libertar das pessoas, das que nos são queridas e das que não são, e por fim nos libertarmos de nós mesmos. Pois na verdade tudo não passa de ilusão e da ilusão de que era tudo real que nasce todo o nosso sofrimento.
Uma pessoa diz que te ama e você descobre que esta não o amava e que este amor nunca existiu de fato, era uma ilusão para nós, mas quando descobrimos que ele não existe, porque será que sentimos falta dele, se ele nunca de fato existiu. Como uma saudade do que não houve.
Se alguém disser que te ama, se liberta também deste amor, pois ele não pode ser retido, aproveite o dia, aproveite o tempo, o momento, desfrute e se liberte. Isto é real, não carregue consigo este amor e crie o seu próprio amor e o compartilhe, com o presente, não com o passado e jamais o guarde para um futuro, pois este nunca virá.
Quando falamos que temos amigos, que temos filhos, que temos companheiros, na verdade não temos nada, pois pessoas não nos pertencem por mais que a idéia de ter alguém para nossa propriedade e posse seja reconfortante.
Amigos são aqueles que estão próximos, se sentem bem ao nosso lado, compartilham conosco o presente, e, quanto mais presente, mais amigo este é, não duvide, um amigo só é amigo quando está ao seu lado, caso contrário é ilusão da amizade, e como somos dependentes desta ilusão, gostamos de falar que temos muitos amigos quando na verdade nem sabemos onde eles estão neste momento, falamos que eles são “nossos” quando na verdade eles não são de ninguém, e como é bom ter um a amigo sempre por perto, mas a maioria das pessoas troca os amigos que estão por perto pela ilusão de ganho com aqueles que estão distantes, que nem sequer lembram da nossa existência, e depois reclamamos que estamos sozinhos, ou pior, trocamos as amizades reais e sinceras por aduladores ou por prazeres vazios e furtivos da vida e dos vícios.
Filhos, nós nunca os temos por completo, mesmo quando pequeninos e indefesos eles não são nossos, na verdade os filhos são todos de Deus e ele nos empresta estes Seus filhos para podermos amá-los como se fossem nossos e para que um dia estejamos preparados para devolvê-los para Ele. E esta verdade é tão pura que filho é aquele que escolhemos como tal, pois mesmo com todas as crianças e todos nós sendo filhos de Deus, não importa a crença, muitas vezes fazemos de filhos os amigos, os sobrinhos, os afilhados, os primos e assim por diante, e muitos rejeitam os seus próprios filhos diante de outros objetivos, ter filhos é uma escolha, não um fato, a paternidade e maternidade nasce do coração e não do sexo.
Companheiros, maridos, esposas e amantes, são pessoas que escolhemos para ter uma vida compartilhada, pessoas que escolhemos para amar numa escolha cruzada, temos de ter a sorte de ter escolhido quem nos escolheu, independente de ter certeza da reciprocidade da escolha, o amor entre companheiros é um amor sempre construído, doce ilusão achar que um dia o amor acabou. O amor não acaba se as pessoas não quiserem e isto porque é muito mais fácil passar a amar do que deixar de amar alguém que se ama de verdade, então nenhuma união de fato acaba, ou ela nunca existiu e era ilusão e o que se amava era a ilusão e não a pessoa, ou então as partes deixaram o amor minguar, de um dos lados ou dos dois. O estranho é que as pessoas em grande maioria deixam o amor acabar, não fazendo nada para continuarem sendo amadas e depois sofrem a falta deste amor que nem mais existia, ou que na época o desprezavam ou trocavam por qualquer bobagem.
E o mais difícil, nos libertarmos de nós mesmos. Como é difícil fugir de nossa consciência… mas na verdade nos libertarmos de nós mesmos não é apagarmos nossa culpa, nossos medos, nossos erros e nossos desejos, achar que poderíamos fazer isto um dia e agir livremente sem consciência é a maior ilusão que todos acreditam poder existir. Muito pelo contrário, libertar-se de si mesmo é ter o máximo de consciência do que se faz, prestando atenção em cada movimento real que fazemos em nossa vida em vez de acreditarmos que estamos fazendo o certo com justificativas e desculpas inventadas para lastrear a nossa vontade.
Por exemplo, vamos ao caso de uma pessoa que deixa de ajudar um amigo apesar de dizer gostar muito deste para estar com outro amigo até mais distante que está com um problema muito grande. Na verdade isto e uma contradição e uma coisa nada ter de haver com a outra, o tempo é limitado, e a escolha é baseada sempre nos desejos e vontades internas. Liberta-se pela verdade! Um pequeno problema de um grande amigo vale mais ou menos do que um grande problema de um amigo distante? Mesmo que o grande amigo resolva os pequenos problemas sozinho, para que então ele precisa do amigo que não o ajudou? Para nos libertarmos deste dilema é importante ter consciência de nossas atitudes, nos livrarmos da ilusão de fazer o bem, pois na verdade não existe o bem tampouco o mal, existe o fato e todo julgamento de valor é furtivo.
Assim, se por um lado um grande problema parece ter mais importância que um pequeno, este julgamento de grande ou pequeno é pura ilusão, todos temos problemas, e problemas são problemas, uma pequena agulha pode furar os olhos de uma pessoa e esta ficar cega, uma dor de um pequeno dente pode ser imensa, em uma pequena gotícula de sangue pode haver muitas doenças e assim por diante, tamanho é ilusão, se o problema pequeno era de fato tão pequeno porque não resolver este primeiro e depois resolver o outro, resolver o que está perto e depois o distante? Isto é um fato, uma consciência real e irrefutável.
E o amigo distante será que não tem ninguém por perto para ajudá-lo? Por que está distante ou se deixou ficar distante? Ou lembra-se apenas dos amigos quando tem grandes problemas? Isto também é um fato. Ilusão é a pessoa ajudar o amigo distante e não entender porque o amigo próximo se magoou, também é ilusão achar que o amigo distante vai continuar amigo, alias, será que isto era amizade? Ou foi um dia? Só que o amigo próximo com o tempo, se ficar, ficará um amigo distante e será que nos procurará quando então houver um grande problema? Ou terá outros amigos? Tudo é uma escolha que depende de nós, no exemplo, ser amigo não é resolver grandes problemas, mas sim evitar que estes aconteçam, até mesmo os pequenos, pelo menos fazendo a nossa parte, e cada um sabe qual a sua parte, basta a consciência.
Libertar-nos de nós mesmos é servir aos que estão próximos primeiro e então aumentar o alcance de nossas ações, sejam diretamente ou inspirar as pessoas a multiplicarem nossas ações, esta é a libertação real, o resto é apenas mais um devaneio de pessoas medíocres empolgadas com a possibilidade de fazer um suposto bem para alguém que tem um problema supostamente grande, isto é liberdade? Não! Isto é o ego escravizando a conduta, pois menosprezamos amizades reais por fictas, que só existem na nossa mente com ideais de grandeza, e é claro que quem tem problemas fica grato quando recebe ajuda, aproveite esta gratidão no presente, pois é outra ilusão lembrar no futuro desta gratidão achando que ela ainda existirá, se talvez nem mais aquela amizade possa existir.
Libertar-se é muito mais do que não esperar nada em troca pelo que se faz, pois quem não espera nada em troca de uma ação, não espera também a ingratidão e indiferença, libertar-se é esperar tudo em troca, é estar consciente de suas escolhas e ações, sabendo o que pode ou não acontecer e mesmo assim tendo a mesma conduta assumindo a responsabilidade total pelo resultado final, se desapegando de bens materiais e imateriais, alcançando a felicidade pelo fazer, pela ação, pelo presente, pelas pessoas presentes e não pelo desejo, pela omissão, pela recordação do passado ou esperança do futuro, pelos ausentes e distantes. É preciso ser feliz agora e sempre, pois ninguém estará realmente liberto se estiver triste. Consciência, Devoção, Retidão, Despertar e Libertação.