Ando ausente daqui e aproveito para me desculpar por isso, gostaria de trazer conteúdos legais e sinto falta de escrever, no entanto, me faltam palavras para dar vazão a tudo que estou sentindo nos últimos meses.
Voltamos à estaca zero e parece que nada do que eu tenha a dizer pode produzir algum sentido, diante de todo o caos… e, na verdade, eu nem sei se tenho realmente algo a dizer, parece que tudo já foi dito por gente muito mais preparada do que eu.
Fazendo um exercício de tentar dizer mais, tomo emprestada a canção do compositor Geraldo Vandré, que nomeia esse texto e o meu sentir: quero falar das flores que trazem ternura aos meus dias, que me arrancam sorrisos, mundialmente famosas por simbolizar beleza, pureza, amor…, mas como é possível falar das flores diante da marcha fúnebre que estamos rumo aos 400 mil mortos por covid-19 no nosso país, sem soar dicotômica?
Gostaria de dizer que as flores e as minhas plantas, no geral, me ajudam a afugentar a dor desses dias em que a realidade se apresenta de forma tão bruta. E haja flor para chegar ao fim de cada dia, diga-se de passagem. Haja consolo depois de cada noticiário dando conta que já estamos perto da marca de 3 mil vidas ceifadas, cotidianamente, por uma doença para a qual já existe cura. Vocês me desculpem se parece negação, mas hoje eu só queria falar das flores mesmo.
Nos faltam remédios, leitos de UTI, auxílio emergencial para quem tem fome, e todos os dias nos é arrancada a chance de ter esperanças com um amanhã melhor, me pergunto o que pode ser mais grave do que isso? Se até a possibilidade de sonhar nos é arrancada, o que resta? E por que insistem de chamar essa guerra de “novo normal”? Preciso falar das flores, porque já não dá mais para testemunhar tanta tragédia, sem morrer um pouco também.
Ouvi dizer que viver momentos históricos deixam feridas na alma que não somos capazes de dimensionar até que passamos por eles, não sei quanto tempo vamos levar para reconstruir a vida – repare que eu disse A VIDA, não a economia, ou o sistema de saúde colapsado, e até mesmo o problema da fome (que é inadmissível!), mas tudo isso pode ser solucionado com vontade e políticas públicas, agora toda a dor causada ao nosso povo, não tem cura, é irreparável.
Escrevo desse lugar de quem não consegue conceber com frieza e racionalidade o que está vivendo, não dá conta de abraçar todo mundo que hoje chora a morte dos seus, e que tampouco, irá mudar a realidade com esse texto. Só consigo deixar registrada a minha solidariedade a cada família dilacerada por perder um ente querido para este vírus, e recorro à letra de Vandré na tentativa de ser uma agente de esperança, para que a gente consiga crer que ainda é possível “fazer da flor o mais forte refrão e acreditar nas flores vencendo o canhão”.
Imagem de capa de Artur Pawlak por Pixabay