Os Rapazes da Banda

“The Boys In The Band”, Os Rapazes da Banda, é um filme que apresenta um grupo de gays, em Nova Iorque, reunidos para uma festa de aniversário. A festa se torna uma tragédia existencial, agravada pela presença de uma pessoa não convidada, que perturba a ordem do recinto. Isso provoca muitas emoções e constrangimentos, já que o anfitrião não quer que o convidado saiba que todos são gays.

The boys in the plot

Em primeiro lugar, o filme retrata os gays como pessoas neuróticas com seus amigos. Ao mesmo tempo em que eles parecem ser importantes, imprescindíveis, eles perturbam a ordem quando chegam e incomodam profundamente. Esse papel é encarnado por Michael, por exemplo. Estereotipado, afetado e extremamente ácido, Michael não poupa o amigo Donald de seu mau humor, mesmo oferecendo a ele hospedagem. Preocupado com sua idade e a calvície que o espera, Michael parece invejar a beleza do outro, sua jovialidade. Para não ficar para trás, Michael se considera superior, por ser mais inteligente e abastado. As coisas no filme começam, de fato, após o início da festa. Com a chegada dos outros, percebe-se questionamentos sobre idade, raça e muita ironia entre eles. Há o Pomo das Hespérides da história: o comportamento afeminado de um deles, Emory.

O casal da relação aberta… À força.

Hank e Larry encaram o casal que quer ser moderno, mas que encontram resistências internas. Larry é rotulado como promíscuo, mas quer viver numa relação aberta. Já Hank, que pode ser considerado um bissexual tardio, gosta da estabilidade e sofre por não compreender o comportamento de seu companheiro. Ambos dividem uma casa, dando a desculpa de morarem junto para conter as despesas.

The Boys In The Band. Cartaz: Divulgação.
The Boys In The Band. Cartaz: Divulgação.

O mais afeminado dentre todos os rapazes da banda

Emory é o ponto forte da história. Disruptivo, ele provoca a todos com seu comportamento afeminado. Sua relação com Bernard é tensa, porque ambos trocam farpas raciais. Bernard é negro e Emory, latino. Emory provoca Michael, pois um amigo seu, Alan, suposto heterossexual, que não sabe da condição deles, chega à festa. Ele não atende aos constantes pedidos de Michael para não dar pinta. Além disso, o latino é o responsável pela contratação de um garoto de programa para animar a noite. Michael implora para que ele não perturbe o seu amigo. Ele, no entanto, provoca Alan, que o agride, criando um transtorno incontornável na festa.

O inofensivo e o superior

Bernard é intelectual, leitor ávido e contido. Sua relação com Emory, o mais próximo, é tensa porque é obrigado a ouvir piadinhas raciais. Esconde um segredo com amores do passado que Michael o obriga a revelar. A revelação é dolorida e deixa Bernard inconsolável.

Harold chega à festa para si, atrasado. Sua presença causa um frisson em todos por causa de sua vestimenta fashionista e extravagante. Michael derrama sobre ele uma torrente de sentimentos ruins. A conversa entre ambos é ácida e agressiva. Mas Harold, sadicamente, parece se deleitar com aquilo. Uma chuva acaba com a festa, todos se acotovelam no studio de Michael. Enquanto Alan se recupera de um forte enjoo, sob os cuidados de Hank, Michael propõe um jogo cruel. Todos deveriam ligar para seus primeiros amores e se declararem. A brincadeira fica perigosa quando Michael obriga Alan a brincar. Michael acusava Alan de ter desprezado um amigo comum. Além disso, Michael julgava Alan como gay enrustido. No entanto, Alan liga para a esposa. Harold, após se divertir com tudo, vai para casa com o garoto de programa pago por Emory.

Onde estão os rapazes da banda, há paz?

O filme mostra que não há paz no mundo gay que retrata. Infelizmente as coisas ainda não mudaram substancialmente para eu afirmar o contrário. Essa história foi encenada em 1968 pela primeira vez. Um ano depois, houve a rebelião de Stonewall. Gays, lésbicas e trans se rebelaram violentamente por seus direitos civis. Isso foi um marco na história da liberdade sexual no ocidente. No entanto, essa história chegou ao cinema e depois foi encenada pelo mundo. Aqui no Brasil, teve tradução de Millôr Fernandes e uma montagem privilegiada, mesmo durante a Ditadura, em 1970.

Entretanto, o mundo muda, mas nem tanto. A partir de 1980, a epidemia de HIV/AIDS refreia o orgulho gay. A ausência de leis claras em vários países tornavam a liberdade mais virtual do que prática. Muitos gays vivem na clandestinidade. Porque muitos não têm oportunidade de encontrar outras pessoas em quem se apoiar. Assumir-se gay pode ser problemático no trabalho. Isso torna o comportamento de Michael com Alan mais normal do que deveria. Ser afeminado, hoje em dia pode ser perturbador pelos mesmos motivos pelos quais Emory foi o único gay que mereceu apanhar de Alan, o único gay que o fez vomitar em si de nojo. Por conseguinte, essa rejeição se estende a pessoas trans e agêneras. Isso aflora a todo momento. Mesmo entre gays. E certamente entre os rapazes da banda.

Portanto…

Há muito a se falar sobre a peça ou filme. Eu recomendo que o assistam na Netflix, por exemplo. Se puderem, comparem com produções anteriores. Recomendo também manter a cabeça aberta. Não para que o comportamento contraditório daqueles gays se justifique. Mas para que se compreenda o que produzia esse comportamento. O que mudou no mundo? O que não mudou para que até hoje o enredo dessa história não tenha se tornado anacrônico? Ainda podemos encontrar os rapazes da banda por aí?

Veja o trailer.

Por Alex Mendes
para sua coluna O Poder Que Queremos

Foto de diapicard no pixabay

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