Dizem que a vida só começa aos 40. É como se a partir desta idade a gente se permitisse ser mais autêntico, mais livre e mais feliz. E eu, sinceramente, quero acreditar nisso
Mesmo com o meu cérebro dizendo que estou ficando doido, e, que logo não vou servir para nada além disso, o meu corpo mostrando que está envelhecendo com dores nas articulações e outras limitações. Fora o etarismo na hora de arrumar um novo emprego ou voltar a estudar.
E apesar de tudo isso, ainda acredito que a vida pode ser como um vinho: com o passar dos anos, ganhamos complexidade e sabor. O corpo, como a garrafa, pode apresentar algumas marcas do tempo, mas o que importa é o líquido precioso que carregamos por dentro. A cada década, somos presenteados com novas nuances, novas perspectivas e uma sabedoria que só a experiência pode proporcionar.
E eu estava lendo uma pesquisa que meio que comprova isso, uma equipe de pesquisadores da Universidade Monash, na Austrália, que analisou mais de 150 estudos sobre o envelhecimento do nosso corpo e, especialmente, do nosso cérebro, que após os 40 começa a fazer uma espécie de reconfiguração do que eles chamaram de “cabeamento” interno.
A neurocientista Sharna Jamadar, da Universidade Monash, em entrevista à BBC News Mundo revela que o cérebro, apesar de ser o maior consumidor de glicose do corpo, sofre uma redução nessa capacidade com o avançar da idade. Essa perda força o órgão a realizar uma espécie de ‘reengenharia’ em seus sistemas, buscando otimizar o uso dos nutrientes disponíveis e garantir o funcionamento adequado.
Ainda segundo os cientistas esse processo é radical e com o passar dos anos as diferentes redes de neurônios se integram e em muitos casos esse recambiamento consegue criar uma espécie de resistência ao envelhecimento do cérebro.
O reboot cerebral
Imagine que nosso cérebro é como um supercomputador, com bilhões de neurônios conectados em uma rede complexa. Essa rede está em constante desenvolvimento, especialmente na juventude, quando aprendemos coisas novas trabalhando intensamente. É como se estivéssemos instalando novos softwares e expandindo a capacidade de armazenamento do nosso cérebro, mas após um tempo acaba ficando meio obsoleto e cheio, só que não dá para comprar outro cérebro, é aí que ocorre a reconfiguração na casa dos 40.
Segundo Jamadar, “O resultado é um pensamento menos flexível, menor inibição de resposta e redução do raciocínio verbal e numérico”.
Ela acrescenta que “estas mudanças são observadas nas pessoas durante essa chamada quinta década, o que coincide com as descobertas de que as mudanças de conectividade dessas redes atingem seu ponto máximo quando você passa dos 40 para os 50 anos”.
“É como se, antes dos 40, os circuitos passassem pelas unidades do cérebro conectados a redes muito sofisticadas”, indica a neurocientista. “Depois dos 40, o que observamos é que os circuitos se conectam com todos os circuitos, quase sem discriminação.” Finaliza a neurocientista.
Aparentemente isso parece ruim, pois o cérebro vai envelhecer e ficará mais difícil aprender uma nova língua, só que não é impossível e ainda segundo os pesquisadores tarefas que dependem de processos automáticos ou muito repetidos que praticamos ao longo da vida são menos afetadas ou podem até melhorar.
Então para manter o cérebro saudável é indicado fazer exercícios mentais, como palavras cruzadas e outros jogos de memória. Eles irão permitir que essas redes continuem ativas, mesmo não estando mais tão conectadas entre si.
A vida, assim como um bom vinho, amadurece com o tempo. E nosso cérebro também passa por transformações ao longo dos anos. Mas, ao contrário do que muitos pensam, essas transformações não são necessariamente negativas. Ao entendermos o que acontece por trás do envelhecimento cerebral, podemos adotar hábitos mais saudáveis e aproveitar ao máximo, afinal, a idade é apenas um número, e o que realmente importa é a nossa disposição para aprender, crescer e evoluir.
Fonte da pesquisa e entrevista: Aqui
