Hoje, claramente, vivemos no reino das opiniões. É intrigante como a maioria de nós sente necessidade visceral de dizer o que pensa, o que sente o que deseja, como se o mundo tivesse por obrigação ter de parar e ouvir. Nosso querido Sócrates (470-399 aC) dizia que as opiniões eram mentirosas, errôneas e ilusórias.
O que isto significaria dizer? O antigo mestre se referia aos cuidados que deveríamos ter ao atribuir excesso de importância sobre nossas visões de mundo. O que vemos não é a realidade, mas nossas emotivas perspectivas de realidade. Ou seja, em nossos olhos, a realidade é emoldurada de acordo com caprichos e sentimentos. Um olhar de dentro para fora e não o contrário. O quanto isso mudou de lá para cá? Pergunta retórica. Não mudou muita coisa – estou sendo educado. Por causa das mídias sociais, alcançamos novo espaço para vomitar impropérios, desafetos e ódio latente – o engraçado é que muitas vezes são ditos e escritos para alguém especificamente, mas postamos para o “universo”!
Importante ditado japonês: O mundo é muito grande e você é muito pequeno. Nossas opiniões não são as coisas mais importantes do mundo. Existe um mundo de coisas e pessoas, dores e alegrias, seres fantásticos e lugares exóticos que perdemos a capacidade de enxergar e usufruir, por estamos agarrados em nossas impressões do real – como uma espécie de tábua de salvação psicológica.
Em uma conversa de bar, ou em belo restaurante, ou mesmo nas mídias sociais é incrível como em poucos segundos o diálogo se transforma em um monólogo. Somos transformados, muitas vezes, em expectador. O outro tem muito a dizer (logo, eu não teria nada a acrescentar). Após o primeiro despejar todas os seus pensamentos mais profundos (e as vezes questionáveis) ele se levanta e vai embora. Ou seja, nunca foi um diálogo. Será que era um amigo? Aristóteles (384-322 aC) dizia que a amizade pressupõe auxílio mútuo, proporcionalidade e respeito ao outro como um igual, e por isso, um irmão. Mas, não é o que enxergamos. O outro, o amigo, ele não procura paridade, mas muletas para não tombar frente ao colapso mental que o assola diariamente.
Por que, em sua casa, depois de tentar ler um livro, maratonar episódios repetitivos ou revisitar várias vezes, depois do almoço, a sua geladeira, você é obrigado a reconhecer que está tomado pelo tédio? Por que, na mesma toada, você se sente vigiado de perto pela ansiedade e depressão como se tivessem monstros no armário, à espreita? Para ambos os casos, me parece, a resposta é a mesma. Toda a atenção do seu corpo e da sua alma estão voltados para você. Se você é o centro do universo, como deseja acreditar, por que teria, diariamente, a sensação da angústia batendo à porta? É porque, meu caro, não é sobre você. O mundo é muito grande.
Toda vez que tenta mensurar a realidade a partir de uma perspectiva de felicidade, por consequência, a resposta é a inquietude, a baixo autoestima e a solidão. Ou seja, expectativas nem sempre podem ser alcançadas – estou sendo gentil novamente. Quando colocamos aquela roupa top!, fazemos aquele penteado e pegamos a grana do boleto para dar um rolê (deixando a conta no esquecimento), acreditando fielmente que será a melhor noite do mundo, no seguinte, vem a realidade: honestamente, o outro queria curtir de verdade, mas você queria acreditar que poderia rolar algo mais – e não rolou. Aquelas roupas sujas no canto mancharam, e nem estavam pagas. Pagar? E o boleto, que olha para você de cima da mesa? Ou seja, você planejou tudo. Mas, o dia seguinte vem para nos lembrar que não é do nosso jeito. Não existe magia, ou unicórnios, por mais que você deseje. É preciso ter os pés no chão.
O desespero por querer que tudo seja do seu jeito demonstra da pior forma que não será. Consequência: você cria, em sua cabeça, um universo de justificativas sobre não se sentir feliz. A culpa será dos outros: dos desafetos, das inimigas (que já esqueceram que você existe!), dos pais, do psicólogo, da escola…. A lista é longa. Tudo isso para não ter de reconhecer que a culpa é sua. Daí, começa o reino das ilusões. Ninguém presta, só você. Então, chegamos ao reino das opiniões: a sua roupa melhor, suas músicas são melhores, só você conhece as melhores praias, o melhor partido político, e por aí vai…
Meu caro, você precisa mudar. É como disse a mestre Ancião, em Doutor Estranho (2016): Arrogância e medo ainda impedem que aprenda a mais simples e importante lição de todas: não é sobre você!
Foto de capa por Klaus Nielsen no Pexels