A memória (nossa saúde) é o nosso bem mais precioso. Talvez por conta disso envelhecer se torne tão complicado. Não apenas o ato de envelhecer com problemas de saúde, mas o de acabar por depender de outras pessoas, mesmo essa sendo a dependência de quem amamos e prometemos proteger e cuidar.
Supernova, com um provável título em português de Memórias de Um Amor, nos conta a história de Sam (Colin Firth) e Tusker (Stanley Tucci), um pianista e um escritor casados a 20 anos, que decidiram tirar férias juntos, viajando pelas belas paisagens da Inglaterra dentro de um trailer para visitar familiares e amigos. Ao final da viagem, Sam, irá se apresentar em uma das cidades da rota traçada por ambos. Não espere por flashbacks contando sobre a história do casal. Acompanhamos ambos, durante todos os 90 minutos do filme, em seu percurso de férias e a única menção importante ao passado se encontra no fato de que Tusker foi diagnosticado com demência precoce há dois anos. A viagem de férias passa a ser o objetivo motivador para que ambos possam desfrutar do que há de mais importante no mundo: o tempo que passam juntos.
Não espere por grandes reviravoltas. Estamos aqui embarcando em uma viagem lenta, por vezes dolorida, através do amor. Vamos conhecendo e amando cada um dos dois personagens aos poucos, acima de tudo criando empatia. Não há outra alternativa que não seja se colocar no lugar de ambos e imaginar qual caminho tomaríamos em uma situação tão complicada. Coisas simples do cotidiano como colocar uma blusa e abotoar os botões, vão se tornando tarefas árduas para Tusker, assim como ler uma carta de agradecimento aos amigos e ao amor da sua vida durante um jantar. Vão sendo perdidos os dons da leitura e da escrita. Percebemos nitidamente, pelas performances inigualáveis dos atores, o sofrimento de se encarar uma doença incurável. Supernova é um filme para pensar no desapego em relação as nossas relações afetivas e familiares. É sobre o momento certo de abraçar, mas também o momento exato de deixar partir.
Sam (Colin Firth) é lágrima. É a representação em pessoa do verdadeiro amor. Firth entrega mais uma notável interpretação, assim como o seu papel em “O Discurso do Rei“. Já Tusker (Stanley Tucci) é a coragem de uma decisão. Tucci é o olhar vazio. Seco por não ter mais o que chorar, metaforicamente poderia ser representado como uma vela que já está no seu final mas que ainda tem a luz necessária para clarear a escuridão. Remete muito pouco a outra sua grande interpretação em “O Diabo Veste Prada“. Difícil acreditar que na lista dos concorrentes ao Oscar desse ano não apareçam os nomes de ambos. Um verdadeiro e injusto descaso da Academia.
“Supernova” é o segundo filme do diretor e roteirista Harry Macqueen (37 anos), cujo primeiro foi o drama “Hinterland“. O filme estreou no BFI London Film Festival em 11 de outubro de 2020.
Nos Estados Unidos o filme encontra-se na plataforma de streaming da Amazon Prime. Certamente por aqui o filme também venha a ter a sua estreia por lá. Fiquem atentos!
Título Original: Supernova
Direção: Harry Macqueen
Elenco: Colin Firth, Stanley Tucci, Sarah Woodward
Ano de Lançamento: 2020
Duração: 90 min
Gênero: Drama
Respostas de 3
O filme é seco e árido, cru na essência, como dito em seu texto nada é mostrado da forma cotidiana, no entanto, nos tratamentos e formas de interação dos atores conseguimos ver o todo. É difícil ver amor profundo e histórias importantes que o momento retratado durante o percurso do filme deixa claro mas apenas nas pinturas de fundo e nas linhas sequer contadas. TUCCI mostra finalmente seu verdadeiro talento antes escondido por personagens excêntricos. FIRTH arrebata como feito em “Direito de amar”.
Apesar de um filme escancarado, se torna impossível não ver o todo mostrado de forma subjetiva.
Filme incrível e dolorido.
Quero muito ver este. Adorei o texto, querido.
Certamente o amor verdadeiro é assim … Responsável, consciente e, acima de tudo, cheio de vontade de dar o nosso melhor em qualquer ocasião.
Há de se somar os afetos, de multiplicar o carinho, há de ser grato , de ser empático …
Há de ser amar com todas as certezas e incertezas do mundo. Fácil não é, mas é o que realmente vale a pena.
Valeu por mais essa dica preciosa, querido Alê!