Fractais, Brócolis e a Minha Crise de meia idade

Existem formas mais simpáticas de se apresentar do que se autodescrevendo como um jovem adulto em crise de meia idade que sou. Afinal, a primeira impressão costuma ficar e ninguém quer esse tipo de primeira impressão. Mas minhas palavras, assim como eu, são ansiosas e não se preocupam muito com impressões. Nosso efeito no espaço-tempo tem prioridade.

Eu me deparei há algumas semanas com alguns artigos a respeito de fractais. Já ouviu falar? Conceituando rapidinho o termo “fractal” foi criado em 1975 pelo matemático Benoît Mandelbrot, em resumo, existe uma mesma estrutura para diferentes coisas em diferentes escalas. De um grão de areia a uma galáxia, tudo segue este padrão. O padrão de fractal me chamou atenção em imagens por me lembrar a tal de constelação familiar ou árvores genealógicas, além da facilidade de vê-los em várias proporções como raios, árvores, artérias, pulmões ou em uns brócolis.

(Imagem disponibilizada no site da UFJF em 19/05/2025 – Disponível em https://www2.ufjf.br/fractalize/2021/05/03/voce-sabia-que-as-arvores-sao-fractais/ )

Não sou religioso mas acho bonito o fato dos fractais também serem chamados de “impressão digital de Deus” porque conseguem descrever com precisão padrões encontrados em vários elementos naturais, mostrando que existe uma ordem matemática por trás do que parece ser apenas caos ou desorganização. E confesso para vocês que sempre me defini como um “caos organizado”. Eu me senti um grande pedaço de brócolis.

Precisei ir longe para explicar, mas vamos voltar aqui: Essa curiosidade científica me pegou no meio de uma crise de meia idade. Entre uma cerveja, alguns cursos e alguém mexendo no celular ao invés de malhar e liberar o equipamento da academia, eu percebi minha finitude como homem gay sem filhos. Não que eu queira ficar para a história, mas junto com a preocupação de mobilidade nos meus futuros 70 anos de idade, a vida ficou mais difícil com a ideia de que em um fractal da vida, eu sou uma ponta final.

Óbvio, não sou vítima. Você pai e mãe de pet que escolheu por conta própria não ter filhos (questiono se livre arbítrio existe mesmo, mas é outro tema), você que não pode ter filhos, ou você que quer ter filhos mas tem sido carregada à força para a vida de tia ou tio dos gatos… Você é um final de fractal também. Não sou vítima, mas fiquei dias mal com isso.

E como diz o jargão, é sobre isso: Não vim aqui lançar respostas, pois entendi que a melhor forma de me apresentar é como alguém que veio questionar e aprender da vida com vocês. Acredito que num mundo cheio de gente que acredita ter respostas e soluções para tudo, o que menos precisamos agora são artigos que nos respondam algo. Já fazem esse desserviço em tudo quanto é canto. Até inteligência artificial quer responder tudo para você. Eu não quero. Eu quero estar aqui provocando vocês nesse intercâmbio de medos e alegrias.

Eu por exemplo, mastigando e amadurecendo esse tema por dias, percebi que, se tudo no universo é composto de fractais, essas palavras que você lê, também são fractais. Se biologicamente meu fractal termina como humano, nessas palavras acabo de nascer em vocês.

Imagem de capa de Wild Psy

Uma resposta

  1. Impressão digital de Deus, não tinha conhecimento desse padrão até ler agora.
    Depois que eu li me veio a reflexão também de como as vezes somos seres solitários.

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