Eu (en)luto, tu (en)lutas, enlutamos!

A única certeza que temos na vida é a morte. Muitos têm pavor dessa palavra ou de falar sobre o assunto, mas infelizmente temos que lidar com ela. Nunca estaremos prontos, mas recordo que quando eu era criança meus pais nos prepararam para perdê-los. Lembro inclusive das inúmeras conversas com a minha mãe dizendo que um dia eles poderiam não estar mais aqui e que teríamos que aprender a cuidar das coisas – afazeres da casa, cozinhar pelo menos o básico e sobretudo não termos medo da vida. Eu chorava horrores toda vez que minha mãe tocava nesse assunto, ela realmente nos orientou como seguir sem eles. E para nossa alegria eles continuam por aqui. Nós três aprendemos tudo direitinho, ela só esqueceu de nos preparar para perder irmãos ou as pessoas mais jovens.

Segundo o psiquiatra Colin Murray Parkes, especialista em manifestações do luto e dores humanas há mais de cinquenta anos, autor do livro “Amor e Perda: as raízes do luto e suas complicações (2009)” relata que o amor e a perda são duas faces da mesma moeda, não podemos ter um sem arriscar o outro. O psicólogo José Paulo da Fonseca, autor do livro “Luto Antecipatório: As experiências pessoais, familiares e sociais diante de uma morte anunciada (2004)”, acompanha pacientes oncológicos, seus familiares e amigos. O autor aborda o choque, negação, ambivalência, revolta, negociação e depressão diante um diagnóstico de doença grave. No livro são abordados temas como – o estabelecimento e rompimento de vínculos afetivos; a família sob a ótica sistêmica; perdas reais e simbólicas; lutos individuais, familiares e sociais.

O luto envolve muito sofrimento e só quem passa sabe realmente como é, todo ser humano em algum momento da vida irá passar por essa dor. Todo pesar envolve um conjunto de reações que podem ser classificadas em diferentes tipos de luto. Cada um com a sua peculiaridade conforme destacado abaixo:

Luto ausente – acontece quando a pessoa bloqueia seus sentimentos e finge agir como se nada tivesse acontecido, tornando-se completamente fechada sobre o assunto. O impacto é tão forte que a pessoa não se sente capaz de lidar com o ocorrido.

Luto antecipado – ocorre quando percebemos que sofreremos uma perda iminente, mas que ainda não se concretizou.

Luto atrasado – é um efeito do luto ausente, no início a pessoa faz de tudo para ignorar a dor que surge posteriormente e pode apresentar complicações. Ocasionalmente este tipo de luto pode levar meses ou anos para reaparecer.

Luto crônico – ocorre quando a pessoa não consegue lidar com a perda. Requer ajuda profissional, principalmente porque a pessoa não consegue aceitar o que aconteceu e se concentra em manter viva a memória do (a) falecido (a) paralisando a sua vida para vivenciar a dor. Este luto acomete pessoas com tendências depressivas, causando ansiedade, culpa, desamparo e tristeza profunda.

Luto não autorizado – acontece quando as pessoas ao redor do (a) enlutado (a) impedem ou tentam minimizar o sofrimento alheio. Geralmente, ocorre em casos específicos com a morte de um animal de estimação, em casos extraconjugais ou quando simplesmente alguém acredita que você deve deixar de sofrer, pensar no (a) falecido (a) e retomar a vida o mais rápido possível.

Luto inibido – acomete pessoas que possuem grande dificuldade em expressar sentimentos, principalmente crianças. Em muitos casos adultos ignoram o sofrimento da criança por achar que não compreendem, causando ansiedade e depressão futura. Pode ocorrer também quando as pessoas se forçam permanecerem fortes para não afetar os demais.

Independente do luto que estejamos vivenciando, temos que lidar e passar por ele. O luto é difícil, sofrível, individual e intransferível. Temos que entender que cada um de nós tem um tempo para lidar com ele. O mais importante é, caso haja necessidade, procure ajuda de amigos, familiares ou de um profissional qualificado. Não se sinta sozinho (a), estamos todos enlutados!

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