Pierre Rinco |
Associe-se!
Ficar solteira nunca é fácil, ainda mais na minha idade. Tantas dúvidas voltam nas nossas cabeças, sentimentos tão paradoxais que fazem a gente refletir sobre quem na verdade éramos, em que ponto terminava a minha personalidade divônica e onde começava a dele. A solução foi curar estas crises nos braços dos homens. E muitos me desejam. Minha cura existencial sempre chega de fora para dentro. Os homens me amam e eu me curo.
Por exemplo, ontem, saindo do restaurante japonês na hora do almoço, um belíssimo exemplar de cafuçu magia ficou por tempos me olhando. E muitos me olham, uma vez que sou decidida, feminina, sexy sem ser vulgar. Para não perder o costume, meu rosto ficou corado de timidez. Quem sabe não o encontrarei novamente em alguma repartição pública da vida? Outro exemplo: sábado encontrei pela segunda vez o melhor sexo da minha vida. É muito difícil fazer com que eu perca minha aparência distante e fria de diva. Afinal de contas, sou conhecidíssima como uma rainha do gelo, com expressões faciais imutáveis, gestos precisos e palavras delicadas e cordiais. Mas o rei dos cafuçus, este de sábado, fez com que eu me sentisse humana novamente, com as pernas trementes, o cabelo desgrenhado e meus olhos perdidos. Foi maravilhoso. E meu amor próprio de diva se reestabeleceu.
Por isso, queridos que lêem minha coluna mensalmente, aqui vai uma dica da diva. Não fiquem tristes, chorosos, sentimentais com o fim do relacionamento de vocês. Faça como a tia diva aqui: se joguem nos braços fortes e torneados dos homens. A cura é instantânea. E foi com estas lembranças e reflexões em minha cabeça que me preparei para ir ao trabalho hoje, pois, como vocês já sabem, o Governo do Estado de São Paulo depende muito do meu domínio da coisa pública.
Tomei um delicioso banho, me hidratei com produtos da L’Occitane, rapidamente me perfumei com meu Chanel n.5 e estava pronta esperando meu chofer me levar ao trabalho. Meu chofer é muito bonito. Moreno, alto, rústico. Fiquei com medo de que ele notasse as fragilidades do meu pensamento sobre o término do meu relacionamento. Mas tenho sorte, pois esconder as verdades e tristezas do nosso olhar com um óculos Wayfarer da Prada acaba sendo até que muito fácil. Evidentemente, ele nada percebeu.
Bem, chegando à minha sala na repartição pública me deparei com uma cena inusitada. Todos os estagiários e jovens aprendizes que trabalham em minha Secretaria estavam vestindo camisetas com meu rosto estampado. E usavam bandanas na cabeça com meu nome. E gritaram quando me viram. Ao perguntar o porquê de tudo aquilo, ouvi de um dos aprendizes: – É que a gente ama você, Diva da Administração Pública! Nós queremos ser como a senhora quando crescermos. Montamos até um fã clube: O DIVA CLUB! E a partir de hoje nos intitularemos LITTLE DIVOS!
Ai gente, aquilo me comoveu do fundo do coração. Abracei todos, inclusive aquele jovem aprendiz que estava usando desodorante Avanço e que com certeza usa Palmolive e Neutrox em casa. Afinal de contas, não há limites de amor para a diva da administração pública: dei até 50 reais para cada um dos meus fãs, como prova da minha gratidão. Claro que, após a demonstração de amor tão bonita, recomendei a todos que fizessem as camisetas com meu rosto no meu designer de roupas particular, pois foi dolorido ver meu rosto naquele transfer xexelento que eles fizeram, aquele que craquela o desenho após a segunda lavagem. E mandei todos os meus little divos trabalharem, pois o Estado não é vaca para que todos mamem nele e eu não sou a Xuxa para ter fã com bandana na cabeça.
Feliz com a homenagem, refletia sobre a construção do fã clube, sobre os grupos sociais dos cafuçus magia e lembrei-me de como é importante que cada cidadão participe ou apoie alguma associação. Lembrei-me do artigo 5º da Constituição Federal de 1988,em que há o seguinte dispositivo (que se vocês pularem e não lerem, vou pessoalmente sambar na cara de cada um):
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(…) XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
XIX – as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;
XXI – as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente (…)”
Não sei se todos sabem, mas eu sou apaixonada pela Constituição Federal de 1988. E repito para vocês, meus amores, parem de ler o resumo da novela das seis e vão ler a Constituição. Sempre tem artigos fantásticos para que vocês dancem Macarena na cara da sociedade que quer suprimir seus direitos. Little divos, fica a dica para vocês. Associem-se! Viram como a Constituição facilitou as coisas? Procurem as associações de bairro, montem clubes. Quero ver vocês discutindo, reivindicando melhorias no nosso Estado, debatendo ideias, fazendo propostas. Associem-se a partidos políticos, colaborem com ONG’s e Institutos que vocês conheçam. Se mesmo eu, que sou uma diva da administração pública, tivesse ficado de braços cruzados após o fim do meu relacionamento, eu estaria para a titia. Mas quis virar o jogo, mudar minha história e consegui, com isso, os homens aos meus pés e um Fã Clube Diva Club, que vou me associar hoje mesmo. Façam o mesmo com o lugar em que vocês vivem.
Beijos públicos para vocês, little divos. Até a próxima.