Desde muito cedo eu criei um amor imenso por cinema e com o passar dos anos esse amor apenas se intensificou. Já dizia Federico Fellini, o mais influente roteirista e diretor de cinema italiano, que o cinema é um modo divino de contar a vida! Não poderia descrever de melhor forma, afinal de contas, muitos filmes conseguem transmitir na tela as histórias e situações que qualquer um de nós poderia passar ou até mesmo aquelas que já vivenciamos. O velho clichê máximo de que a vida imita a arte e vice-versa.
Com o amor pelo cinema veio o colecionismo de filmes e só esse assunto já daria um texto único que iria das Fitas VHS até o Blu-ray, mas que ficará guardado para uma outra ocasião. O que acaba por nos trazer ao assunto de hoje. A quarentena me obrigou a procurar por pérolas novas para a coleção e estava eu a vasculhar mais um site de vendas online de filmes em DVDs (sim, você leu certo! Eu ainda coleciono DVDs), quando me deparo com uma capa que me chamou muito a atenção. Não, não se engane. Não se tratava de uma capa estonteante, mas apenas de um rosto de perfil passando batom com um fundo branco e letras coloridas no título: VIVA.
Foi o suficiente para me fazer correr até o YouTube em busca do trailer. Deparei-me então com uma história que me chamou mais ainda a atenção, me fazendo voltar ao site de compras e colocar avidamente o título no carrinho para fechar o pedido. Uma semana depois já estava com ele em minhas mãos e tive a grata surpresa de assistir a um filme doce.
VIVA é uma coprodução cubano-irlandesa lançado em 2016 e que traz dois temas principais: a aceitação da identidade sexual e a paternidade. Prepare o lenço porque ambos são tratados com muita sensibilidade pelo diretor e seu elenco extraordinário. Sem muita enrolação somos apresentados a Jesus (Héctor Medina) é um jovem introvertido cubano gay, pobre, morador da periferia de Havana, órfão de mãe e com um pai, Angel (Jorge Perugorría), ex-boxeador e presidiário, que não o vê desde criança. Jesus, por volta dos 18 anos de idade, está em busca do seu lugar ao sol e da sua própria identidade. A noite trabalha como maquiador em um clube de drag queens e tem o sonho de se apresentar no palco. Na mesma noite em que tem a chance de finalmente se apresentar no palco também ocorre o reencontro traumático com o pai. Está montado aí o cenário principal da história que fará com que ambos “lutem” pela compreensão, aceitação e redenção.
Jesus nos faz segui-lo pela dicotomia de ser quem você realmente deseja ser e fazer o que for necessário para sobreviver. Os caminhos não são fáceis e nesse ponto você já percebeu que não se trata de um conto de fadas com um final feliz ou com uma moral ao final da história. O machismo e o preconceito rondam a todo momento e pai e filho buscam por algo que não tiveram durante praticamente a vida inteira: a convivência e o amor. Muitos poderão achar a história previsível, mas a jornada do nosso herói se torna tão real quanto a vida de muitas pessoas que conhecemos. Impossível não se reconhecer em algumas situações ou simplesmente não criar uma empatia pelos personagens. Faz pensar nas relações familiares
Rodado em Cuba e no idioma espanhol, o filme foi escrito por dois irlandeses: Paddy Breathnach e Mark O’Halloran (que inclusive faz uma breve ponta no filme). A Direção ficou por conta do próprio Paddy Breathnach, que tentou uma vaga para concorrer ao Oscar 2015 de filme estrangeiro representando a Irlanda, mas não conseguiu entrar na seleção final. Uma pena por se tratar de um bom filme com ótimas atuações. Vale a dica de outro grande filme com veterano ator Jorge Perugorría, o sucesso internacional “Morango e Chocolate” de 1993.
VIVA é a vida claramente com suas cores estonteantes, mas também com todos os seus nuances de cinza. Amor e ódio. Ausência e perdão. Necessidade e fuga. Descoberta. Um filme para se assistir no mês do Dia dos Pais!
Por Alexandre Stábile
para a coluna Meu Mundo na Tela.
Respostas de 12
Adorei o texto e fiquei muito curiosa para assitir o filme.
Alê você é demais! E sim, vc faz os melhores brigadeiros! Te amo amigo. Parabéns por tudo. Bjs
Como dizia Federico Fellini , o cinema é um modo divino de contar a vida e você Alexandre , com sua clareza e leveza no texto nos convida de forma elegante a mergulhar no cinema . Sou sua fã ! Abraços
Ótima dica,onde o machismo ainda faz parte de nossa sociedade,como tantos outros preconceitos,bom pra aprender a respeitar e amar essas pessoas que querem o mesmo direito de todas as outras,viver e ser feliz.
Fiquei curiosa também para ver esse filme depois dessa crítica bem elaborada e instigante.
Com certeza vou assistir, obrigada pela dica.
Alê, seu lindo,o que mais gosto de vc é essa tamanha sensibilidade e sinceridade que não cabe em seu peito. Sua narrativa leve,além de sensível, nos proporciona aquela sensação de intimidade com o enredo e personagens e nos aguça a vontade de um bom mergulho na trama.
Parabéns e jamais deixe de nos abrilhantar com seus textos cheios de sabor. Sucesso!
Esse texto me deixou muito curioso em assistir o filme, não conhecia.
Seu texto é leve e convidativo… parabéns Alexandre…
Ótima análise do filme! Já despertou a curiosidade e vontade de assistir. Parabéns!
Ale, que critica maravilhosa, adoro ler críticas de cinema e a sua é decididamente delicada, amorosa , respeitosa com os atores e com as personagens. Sei que você é um adorador da 7a. arte e naturalmente um excelente crítico . Parabéns. Aguardo novas indicações. Essa já vou dar um jeito de assistir. Bjão
Vou buscar esse filme, fiquei instigado.
O Jorge já trabalhou aqui no Brasil no filme Navalha na Carne, lembra? Década de noventa , acho…
Gosto muito dele.
Consigo assistir em algum streaming?
Adorei a crítica e fiquei com vontade de assistir o filme. Obrigada Alexandre! Ótimo texto!